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A vida sem crachá: como Cláudia Giudice reinventou a rotina após os 60 anos

A jornalista e escritora transformou o que poderia ser o fim da carreira em um novo capítulo da vida. Após a demissão, ela trocou o crachá por uma pousada em Arembepe

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 05:00

Cláudia Giudice
Cláudia Giudice Crédito: Divulgação

Ela consegue respirar fundo e contemplar o Piruí, uma das mais belas praias de Arembepe, mesmo em meio a tantas correrias e desafios. É, sem dúvida, um privilégio para poucos. Seu escritório é quase na praia, digamos assim. Porém, certamente não teria este prazer se ainda usasse um crachá. No máximo, nas férias. Aos 62 anos, Cláudia Giudice teve um destino bem parecido com William Bonner, que decidiu deixar a bancada do JN, alegando que só fazia o que precisava, mas faltava o que gostaria de fazer. Diferente do âncora, que decidiu virar a chave dentro da própria firma, indo para o Globo Repórter, a recalculada de rota de Giudice só foi possível após o caos de uma demissão.

“Eu passei a minha vida inteira fazendo o que eu precisava. E aí quando eu saí da [editora] Abril e fui demitida... Tudo bem, eu não precisava e não queria. Eu queria ter continuado por mais um tempo, como o Bonner. Até os 60, como ele. Meu plano era me aposentar na Abril, com 55 anos. Mas eu saí uns cinco anos antes do previsto. De qualquer maneira, eu acho que essa frase dele é muito parecida com a minha história”, pondera Cláudia.

Uma das pessoas que melhor traduz essa inquietação pós-60 é a também jornalista Giudice, autora do livro A Vida sem Crachá. Depois de décadas de carreira na imprensa e no mercado CLT, ela foi demitida e, entre incertezas e perrengues, decidiu virar a chave nos momentos mais incertos, sem pronunciamento em cadeia nacional. “Eu fico imaginando, se eu seguisse jornalista, será que eu teria emprego? Será que eu conseguiria fazer freela? Será que eu teria um espacinho no mercado de trabalho? Eu não sei te responder”, diz.

O que aconteceria, certamente, é difícil adivinhar. Contudo, depois da demissão, mesmo num momento que para muitos é o fim, para ela foi o recomeço. Ou melhor, o momento de tirar a carta da manga. A saída do jornalismo não foi planejada, mas foi decisiva. Após o baque, Cláudia começou a pensar em alternativas que ela já tinha, mas aguardava um momento mais tranquilo.

“Desde muito jovem, essa sempre foi a minha grande preocupação: ter um plano B para o futuro. Sempre foi”, lembra. O plano B se materializou em Arembepe, na Região Metropolitana de Salvador. Lá, ela abriu uma pousada, empreendendo em um setor totalmente novo para quem vinha da redação. A Capela, um local conceitual que se tornou referência para hospedagens e eventos, foi o melhor plano B que poderia acontecer.

Contudo, a transição não foi simples. “Cada vez ficou mais difícil, ficou cada vez mais complexo. Se a pessoa tiver dinheiro, se tiver recursos guardados, sim, o dinheiro facilita tudo. Mas se não tiver, aí eu não sei”, admite.

Assim como Bonner, Cláudia escolheu deixar o que “precisava” fazer para mergulhar no que gosta. Contudo, até mesmo com o novo destino na rota que ela queria, mesmo depois de dez anos após a publicação do livro, ela admite que a mudança é constante e que não adianta apenas mudar os ares. É preciso saber mudar a postura também.

“Curioso que a publicação do livro fez 10 anos em agosto. Consegui fazer o que queria, mas ainda continuava trabalhando muito, sem ter tempo de olhar para o mar e respirar. Troquei o crachá, mas a ânsia de trabalho, trabalho, trabalho não parava. Aí precisei mudar recentemente. E vi que precisava saber delegar, respirar, olhar o mar”, lembra.

A mudança pode ser feita, seja na profissão, nos hábitos, morada, tudo. Mas, para Cláudia, não dá para achar que será tão fácil assim. A palavra a ser dominada é ‘desafio’. Ela é a principal barreira para quem quer a virada de chave. E isso vale para todos: os que juntaram dinheiro, conseguiram se aposentar, que entraram numa faculdade, qualquer mudança será sempre desafiadora.

“Eu tinha uma fantasia que eu ia ter uma velhice tranquila e sossegada. E eu não tenho. A cada dia acontece uma coisa. O tempo todo você tem que ficar se adaptando e se adequando às coisas que vão acontecendo, à mudança, principalmente nas tecnologias, é muito brusca e constante”, afirma.

Cláudia fala de maturidade sem rodeios: “Eu tenho plena consciência que hoje eu sou uma pessoa idosa, velha. Pra mim é muito evidente isso, é muito claro. Os 60 anos são definidos não por acaso. A sua vida muda bastante depois dos 60 anos”. Ao mesmo tempo, ela assegura que a idade não é sinônimo de fim. “Você pode continuar fazendo maratona, escalando o Everest, trabalhando, dá tempo de fazer, mas é diferente. É preciso saber que o futuro virou presente”.

Cláudia Giudice transformou o que poderia ser um ponto final em um novo capítulo da vida. Ela mostra que a virada de chave não é apenas uma questão de oportunidade, mas de coragem, planejamento e disposição.

A experiência dela é um lembrete de que os 60 anos não são barreiras, mas ponto de partida para reinventar a rotina, criar novos projetos e, sobretudo, buscar satisfação pessoal. O recado dela, inclusive, se aproxima do de Bonner, mas com uma dose de realismo: não basta desejar, é preciso preparar-se para a virada. “Hoje, envelhecer virou um desafio diferente, diário. Mas é possível. Vai ser muito mais difícil, mas é possível”.

A vida sem Crachá, de Cláudia Giudice por Reprodução

Tags:

60+