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Após cantar com Dua Lipa, Carlinhos Brown relança Sarau e defende cultura contra a violência

Ao CORREIO, artista falou sobre encontros musicais no verão, antecipou novidades do Carnaval e plano de novo audiovisual

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 20 de novembro de 2025 às 08:00

Carlinhos Brown relança Sarau após dois anos de pausa
Carlinhos Brown relança Sarau após dois anos de pausa Crédito: Dodô Villar

Cantor, compositor, ativista e arte-educador. Sempre plural, Carlinhos Brown retoma neste fim de semana o Sarau do Brown, projeto nascido em 2003 que esteve em pausa nos últimos dois anos. Com retorno marcado para domingo (23), no Candyall Guetho Square, ele se reúne a Sued Nunes e Simone numa forma de aliar arte consagrada ao talento novo, sem perder de vista o Carnaval.

Ao CORREIO, adianta algumas novidades para seus dias de folia e reflete sobre os propósitos que tem para além da música. Destaca o apoio que tem dado a projetos arquitetônicos em Salvador com objetivo de promover espaços de cultura e educação, pilares que entende como principais armas de combate à violência. Confira:

1) O Sarau do Brown está retornando depois de dois anos de pausa. O que você fez nesse intervalo e o que motiva essa volta?

Nessa pausa do sarau, eu precisava ter uma casa desse conceito e estética. Dei uma pausa no Museu du Ritmo, livrando o Mercado do Ouro do folclore de ser uma casa de show e bebedeira. Eles têm um cuidado enorme, ali era onde gente como a gente comprava. Tem todo um trabalho sério com visão para um século, no mínimo, à frente. O Mercado do Ouro e aquele entorno todo, que eu batizei como Baixo Pelô, está em recuperação, um trabalho que está sendo feito pela Fundação Mário Leal, Unesco e a Prefeitura, com colaboração do Instituto Carlinhos Brown. Tudo isso requer um posicionamento e isso podemos chamar de meu sarau na arquitetura e na sociedade.

Carlinhos Brown relança Sarau após dois anos de pausa por Dodô Villar

Nesses dois anos, levantei cinco estúdios dentro da comunidade, então, não dava para focar no Sarau e, como isso é custo pessoal, porque não tenho patrocínio para essas coisas, precisava realmente dar um tempo em uma coisa que é muito custosa, porque o Sarau passa pela ópera, dança, poesia, hits do carnaval, por algo que se identifique com a adolescência.

Nesse caso [de identificação com a adolescência], esse algo é o DJ Mais Dois, que é um DJ e mais dos percussionistas, [que trago] com desejo de que isso seja um viral, para que os percussionistas baianos, que são as verdadeiras cadências rítmicas, não estejam afastados de um mercado que traz extrema possibilidade e originaliza mais um contato híbrido com a Bahia ancestral, a inteligência ancestral e a inteligência artificial.

Isso vem muito de uma responsabilidade do meu olhar, porque venho ao longo tempo dizendo ‘eu tenho esse DNA e acho que tenho muito ainda para colaborar’.

Carlinhos Brown

Músico, arte-educador e ativista

Então, estou trazendo Simone, que é talvez a maior referência do samba para a Bahia, em um ano em que a Bahia homenageia o samba. Vamos apresentar uma música inédita chamada Primeiro Amor Primeiro. Sued é minha outra convidada, que é um acontecimento na música mundial. Sabe um fã que espera um artista há anos na Bahia? E ela chega empossada na educação, na ancestralidade, no posicionamento e inteligência, como deve ser mesmo a presença feminina mestra para nós. Ela é isso e me encanta muito. Me encanta que estamos falando de Carnaval e temos um refinamento em termo de sofisticação.

2) Como será o carnaval de Carlinhos Brown?

Primeiro, vou lançar essa música com Simone, que é meu single de carnaval. Fiz coisas com Rachel Reis e estou fazendo uma beleza de um trabalho de samba com Escandurras e me preparando porque, quando passar o carnaval, vou fazer um novo audiovisual. Criei um repertório muito forte, que considero que é muito alegre e poderoso. Claro, falta as pessoas gostarem (risos). Mas, eu não posso jogar minha expectativa no chão, porque quem tem que acreditar primeiro sou eu. Estou investindo no bloco da Timbalada. Ano que vem, vamos chegar com dois trios novos, o Camarote Brown by Licia Fábio e Zum Brazil. Mas, antes, temos os quatro Saraus e a Enxaguada.

3) Seu sarau é um evento que sempre teve como premissa o encontro de artistas consagrados com novos talentos. O que você tem aprendido com eles?

A coragem de começar. O que se consagram são as obras, o artista precisa começar todo dia. Não posso parar de buscar novas ideias ou de concretizar ideias que estão fortes. O frescor e a inexperiência ensinam muito a quem subiu dois degraus a mais. Às vezes, é necessário voltar um pouco porque corri muito. É preciso frear porque é necessário acompanhar o crescimento do outro para se fazer presente.

4) Na semana passada, pudemos te ver cantando com Dualipa em São Paulo, na mesma semana em que recebeu Shawn Mendes no Candyall Guetho Square. Como você vê a aproximação, por parte de artistas internacionais jovens, da nossa cultura?

É ótimo. Eles se identificam porque veem nisso que a gente faz, nas performances percussivas e melódicas, o que eles não fazem. Eles não se identificam com quem imita, todo mundo busca uma novidade. E tem muita gente que quer se fazer americano, canadense ou inglês, mas eu sou baiano o tempo inteiro, eu canto a minha aldeia e é isso que me leva longe. Esse momento com Dua Lipa foi importante, porque ela choca o mundo reapresentando esse cantor. A repercussão mundial foi muito maior do que no Brasil pelo tamanho que ela tem e pelo olhar que está no Brasil por conta da COP-30. Isso foi importante, porque amarrou tudo.

Quando o presidente da França, Macron, esteve aqui, foi pedido a mim pelo cerimonial que eu cantasse ‘Muito Obrigado, Axé’, porque tem uma saudação para os orixás em iorubá e algumas partes em jeje, e o evento falava sobre a aproximação de França, Brasil e África. Então, eu falei com ele em francês, mas também em iorubá, saudando a todos os orixás, a partir do que aprendi no Gantois, com mestre Vadinho Ferramenta. Fui fortalecido por essa por todas essas ideias e a internacionalidade que não é do artista. É que eu nasci em um local internacional, na Bahia que já foi muito maior que Nova York.

Guardamos coisas e celebramos fatores que estão se amadurecendo, e o mundo está de olho. Identifico que isso tem que ser um motivo de vencer a pobreza, as violências. Vejo que o Candeal anda muito antenado nisso, porque se preocupou cedo com a educação, em dar notoriedade ao que é realmente nossa linguagem, nos fazendo fortes. A música baiana está muito preparada para receber gente do mundo inteiro e congregar.

Carlinhos Brown

Músico, arte-educador e ativista

5) Você tem um diálogo com a juventude que te coloca constantemente no local de referência. Você se considera uma pessoa que tem influência sobre as outras?

Não. Influência é Platão, é Demiurgo, é Jesus Cristo. Eu sou um aprendiz, alguém que conversa com o outro, porque, não importa se você é mais jovem ou tem mais idade, a experiência vai ser um aprendizado das nossas conexões. Agora, sou arte-educador formado pelo mestre Pintado do Bongô e essa influência como arte-educador se dá ao que eu acresci, consegui e aprendi com a cultura no lugar que eu vivo e nas respostas às minhas curiosidades.

6) Você tem discursos e ações constantes a favor da garantia da vida da juventude, especialmente a juventude negra. Em todos os indicadores de segurança, esse é o público-alvo de mortes. Como você vê esse cenário de violência que tem assolado a Bahia e se preocupa em contribuir para mudar esse quadro?

Os cenários de violência agora só se explicitam, porque eles nunca deixaram de existir. O resultado que o Candeal tem hoje, dentro da visão de uma comunidade contra a violência, é por deixar liderar a educação, a cultura e um reforço de sustentabilidade às famílias. As violências são constantes desde que existem no Brasil, mas, hoje, essa latência profunda, aberrada, inconsequente, leva a um índice de negros mortos. Os menores em conflito com a lei também precisam de suporte, porque muitos não sabem como se desconflitar. Por isso, acredito numa educação real, sem nenhuma ideia de separatismo.