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Moyses Suzart
Publicado em 25 de outubro de 2025 às 05:00
Em 2012, Nikita foi capa do CORREIO como uma fonte representativa para o Dia Internacional da Mulher, afirmando que a brasileira é a solteira mais otimista do mundo. Nenhuma relação com brigadeiro. Para ela, este doce não passava de uma sobremesa após o almoço, que ela fazia e comia na própria panela. “Se me falasse naquela época que eu venderia brigadeiro hoje, eu ia rir”, lembra. Mas a gargalhada da ironia do destino é muito mais alta. E doce também. Ela, após quase dez anos trabalhando com o brigadeiro, foi eleita a doceira com o brigadeiro tradicional mais gostoso do CORREIO Experimenta. >
“Jamais pensei que um dia estaria assumindo uma função que envolvesse comida, porque eu não tinha intimidade nenhuma com a cozinha, a não ser pra chegar e comer”, disse Kátia Monique Sena Gambôa de Santana, ou simplesmente Nikita. Quando conversamos com ela, Sena só sabia que estaria entre as cinco melhores. E, para ela, já era a prova que faltava para ter a certeza que está no caminho certo. >
“Se eu fosse vencedora, seria uma resposta pra mim mesma, pra lembrar que sou capaz e que meu trabalho tem valor”, disse Nikita, que busca um reconhecimento que já vem da família e clientes, mas falta um pouco dentro de si. “Eu me cobro demais, comparo muito o meu trabalho com o dos outros, acho que nunca está à altura. Ganhar seria uma injeção de confiança, a prova de que o esforço valeu a pena”, completa, sempre de fala suave e tímida.>
Brigadeiros de Doce Nikita
Ganhou, mas foi por pouco. Não pelas notas, ela tirou 10 na maioria dos critérios. É que quase Nikita não participava do concurso. Entrou na briga quase no fim das inscrições. Só descobriu por conta de um cliente que a marcou numa postagem do CORREIO sobre o projeto. Aí começou a “caçar” o jornal, querendo saber onde faria a inscrição. >
“Repostei pedindo pra galera me marcar pra ver se me notavam. Gerou um movimento tão grande que, no dia seguinte, o jornalista me chamou para participar. Disseram que havia uma lista com 70 marcas. Só de ter sido chamada entre essas, já foi uma vitória. Estar no top 5 é reconhecimento, conquista, visibilidade”, conta Nikita, sem saber que foi a primeira entre todos os outros concorrentes. Vai acordar este sábado (25) com o susto de ser campeã. “Menino, pelo amor de deus, me fala. Tenho um show de Thiaguinho para ir sábado, quero saber qual será meu nível de felicidade na festa”, brinca. >
Início>
O currículo de Nikita é vasto: publicitária por formação, com MBA em Marketing. Mas como a maioria dos brasileiros, o desemprego bateu na sua porta em 2016. Mas onde tudo deveria ser amargo, o docinho salvou sua história, com ajuda de seus pais, incluindo Mamacita, sua mãe, que foi e é o braço direito nesta virada de chave. E o que era apenas um docinho, virou propósito de vida. >
Ela pegou um pouco de dinheiro que ainda tinha e investiu num curso presencial de brigadeiros, a fim de se profissionalizar. Mas, segundo Nikita, ela aprendeu mesmo na internet, de forma gratuita, olhando receitas, trocando experiências com pessoas do ramo e testando sabores.>
“O brigadeiro deixou de ser um docinho qualquer quando percebi que com ele eu poderia viver do meu jeito, no meu ritmo, sendo minha própria chefe. Com ele, posso marcar momentos, ser presença, aconchego, lembrança, sinônimo de prazer e alegria. Já saíram até pedidos de namoro com meus brigadeiros”, lembra Nikita, que faz brigadeiros personalizados, a pedido dos clientes. >
Muito tímida, o início precisou do empurrãozinho da mãe. Mas não demorou para conseguir clientes fiéis. Ela começou indo de porta em porta no condomínio onde mora, em Salvador. >
“A gente dava para degustação. Numa dessas casas, a mulher pegou um brigadeiro para dar à filha. Achei que estava só sendo educada. No dia seguinte, ela me ligou dizendo que a filha tinha amado e queria comprar todos os que sobraram. Eu nem tinha pensado em preço ainda. Foi o estalo”, lembra. Mamacita também levava para o Pilates e voltava sem nenhum brigadeiro para contar história. >
Local>
Com o sucesso, até a casa se adaptou ao ator principal, neste caso o brigadeiro. A cozinha de casa virou seu local de trabalho, mas um ateliê, na própria casa, está bem perto da conclusão. Nikita também está se organizando com as finanças, pois tudo ainda é bem artesanal e simples e gostoso como um brigadeiro de panela. Atualmente ela tem 13 sabores e vende por meio do seu telefone e perfil no Instagram (@docenikita). >
Com o novo ateliê quase pronto no quintal da casa dos pais, Nikita vê se materializar o sonho que começou numa panela simples, entre incertezas e coragem. Hoje, o mesmo doce que ela fazia para si virou símbolo de autonomia e afeto, presença em celebrações e recomeços. “É a concretização de um sonho”, resume. Mais do que o prêmio, o brigadeiro de Nikita representa um reencontro com a própria confiança, o sabor da persistência e a prova de que, às vezes, o destino sabe mesmo caprichar no ponto certo.>
Nikita, a vencedora do melhor brigadeiro tradicional da Bahia