Não se fazem mais juízes como Frank Caprio e isso é uma pena

Frank Caprio morreu na última quarta-feira aos 88 anos e deixou um legado que precisa seguir adiante. Juiz na corte municipal de Providence por mais de 40 anos, tornou-se uma celebridade nas redes sociais, com os vídeos de suas sentenças reproduzidos mais de 1 bilhão de vezes – alguns traduzidos para centenas de países. Sabe o que mundo via naquele magistrado sorridente? Bondade, compaixão e, acima de tudo, um enorme senso de justiça.

Caught in Providence (Preso em Providência) – um programa de TV que está disponível no YouTube e que pode ser assistido com legenda automática em português – mostrou um homem que era tão comprometido com o estrito cumprimento da lei, quanto em fazer o bem às outras pessoas. Quando podia, oferecia perdão aos réus, quase todos envolvidos em infrações de trânsito com menor gravidade. Nas diversas ocasiões em que isso não foi possível, buscava caminhos para ajudar de alguma forma.

Caprio descrevia o seu tribunal como um lugar onde as pessoas eram tratadas com “gentileza e compaixão”. O magistrado fazia questão de contrastar com a imagem sisuda e distante que é tão comum a muitos dos seus pares. Por diversas vezes, utilizou sua posição para chamar a atenção das desigualdades no acesso à justiça – uma triste realidade que não se restringe ao condado de Providence.

Em um dos seus vídeos, perguntou a uma mulher que tinha cometido algumas infrações de trânsito se ela tinha como pagar as multas. Ela diz que sim, mas que sairia daqui com apenas US$ 5, o equivalente a pouco mais de R$ 25. Frank Caprio abre alguns dos envelopes que recebia pelos correios, de pessoas que o admiravam e que queriam ajudar. Consegue a soma para o pagamento das multas e ainda oferece àquela mulher uma pequena quantia para se alimentar.

Em outra audiência, chama o filho de um motorista nigeriano que excedeu o limite de velocidade e pergunta ao menino se o pai era culpado ou inocente. “Culpado”, diz o garoto, arrancando risos dos presentes. O pai foi inocentado, apesar do testemunho do garoto. Frank Caprio compreendeu que o nigeriano, recém-habilitado nos EUA, não compreendeu corretamente as sinalizações de trânsito. Até esta sexta-feira (dia 22), o vídeo tinha mais de 11 milhões de visualizações.

“Eu não julgo com um distintivo sobre a minha toga, eu julgo com o meu coração", disse em algumas ocasiões. Por toda a sua vida, defendeu a ideia de que era possível aplicar a justiça sem ser opressivo.

Após a sua aposentadoria, sua sala de audiências foi renomeada como “Chief Judge Frank Caprio Courtroom” e ele recebeu o título de juiz emérito. Entretanto, faz sentido imaginar que os maiores reconhecimentos que teve foram as lágrimas de gratidão. Além de muitos abraços apertados.

O juiz travou uma longa batalha contra um câncer no pâncreas. No início deste ano, proferiu uma palestra durante a formatura no Colégio Municipal de Providence. “Quando o livro for fechado, seremos julgados não pelo quanto ganhamos, mas pelo quanto nos importamos. Não pelas conquistas que fizemos, mas pelos sonhos que realizamos nos outros”, disse aos jovens iniciando a vida.

Poucos dias antes de morrer, postou uma reflexão em seu perfil: “Uma vida construída com bondade é uma vida que ecoa muito depois de partirmos”. As contas dele nas redes sociais informaram que ele “partiu em paz”.

Que descanse em paz e que o seu exemplo de bondade e compaixão no exercício da justiça siga vivo!

As voltas que a geopolítica dá

Donald Trump e Vladimir Putin se reunirem no Alasca para discutir o destino de terras ucranianas é uma grande ironia histórica. Os dois presidentes escolheram um território que já fez parte da Rússia e que foi vendido pela pechincha de US$ 7,2 milhões em 1867 para os Estados Unidos, conta uma reportagem do The New York Times. Em valores atualizados, seriam algo em torno de US$ 157 milhões, com base numa dessas calculadoras de inflação disponíveis na internet. Mais irônico é o que motivou o antigo império russo a abrir mão das terras: despesas com uma guerra na Crimeia – território que já foi russo, depois cedido aos ucranianos por Lenin, virou parte da Ucrânia independente desde 1991 e acabou anexado por Putin em 2014. A primeira oferta americana foi de US$ 5 milhões, mas após choro dos dois lados, o negócio foi fechado por US$ 7,2 milhões – menos de quatro centavos por hectare. Uma barganha pelo 49º estado norte-americano, que, hoje se sabe, é rico em diversos recursos naturais. Deve ser por isso que Zelenski, da Ucrânia, resiste tanto em abrir mão de territórios. O tempo mostra que normalmente não é um bom negócio.

CPMI vai sangrar o governo

Ninguém vai reconhecer isso publicamente, mas qualquer CPMI sempre será uma fonte de dores de cabeça para quem está no exercício do poder. Por mais que os discursos de representantes do Palácio do Planalto fossem de apoio a uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar as fraudes no INSS, o bom mesmo para eles é que a coisa não fosse adiante. Como não tinha jeito, tentaram controlar a situação aprovando a investigação, desde que tendo o controle da comissão, com presidente e relator alinhados. Faltou combinar com a oposição, que numa mobilização surpreendente conseguiu indicar os dois cargos. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) será o presidente e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), o relator. Se lembrarmos o estrago que a comissão criada no Senado em 2021, um ano antes da última eleição presidencial, para investigar a covid causou no governo Bolsonaro, vamos ter uma ideia do tamanho do problema que Lula terá pela frente. Vem chumbo grosso por aí.

memes da semana

O influenciador e humorista Felipe Bressamin continua em alta depois de ter gravado um vídeo alertando a sociedade sobre os perigos da "adultização". Aqui o jovem é retratado como um heroi de quadrinhos, lembrando o seu embate anterior, contra o Jogo do Tigrinho.

(Viu algum meme interessante e quer mandar para a gente? Encaminha para donaldson.gomes@redebahia.com.br)

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