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Larissa Almeida
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 05:30
Uma revisita à história do Brasil para além do que é mostrado nos livros. Essa é a proposta do projeto ‘Era Uma Vez... Brasil’, que vai levar 24 estudantes e quatro professores das redes públicas de Salvador, Camaçari, Jacobina e Mata de São João para passar dez dias em Portugal. Os selecionados vão embarcar rumo à Europa a partir de quarta-feira (5) e, durante o intercâmbio cultural, terão contato com estudantes portugueses e com os registros da história afro-indígena e brasileira presentes no país estrangeiro. >
Neste ano, a iniciativa vai trabalhar o tema ‘Quem Conta a Nossa História? A Participação Indígena e Afro-Brasileira na Formação do Brasil’, que pretende ir além do que o ensino tradicional nas salas de aula aborda sobre o protagonismo indígena e de povos africanos na história do Brasil. Marici Vila, diretora executiva da Origem Produções, realizadora do projeto, explicou a escolha de Portugal como destino da construção desses novos olhares.>
“A ideia de ir até Portugal é justamente pela relação que temos desde a colonização. Acho que é de extrema importância que a gente possa dar a oportunidade a esses jovens estarem em outro país, apresentando projetos e trabalhos desenvolvidos no Brasil e, com isso, trabalhando em conjunto com os portugueses que também têm essa diretriz antirracista e não eurocêntrica nas escolas”, ressalta.>
O processo de seleção dos jovens aconteceu em etapas. Após se inscreverem no projeto, eles desenvolveram histórias em quadrinhos com o auxílio do professor orientador, tendo como ponto de partida a temática proposta. Após submeterem o trabalho ao projeto, os autores das melhores histórias foram chamados para a segunda fase, que reuniu estudantes em um acampamento em Mata de São João durante sete dias.>
“Trabalhamos com eles a história viva. Vivenciamos com eles a ida a territórios indígenas e quilombolas, conversamos com lideranças e ouvimos a história contada por essas pessoas. Em cada acampamento que aconteceu no Brasil, os jovens produziram curtas-metragens. [...] Olhamos como esse jovem trabalhou coletivamente na produção desse curta-metragem, se houve evolução durante a semana, cuidado com o meio ambiente e o engajamento nas atividades propostas”, detalha Marici.>
Projeto ‘Era Uma Vez... Brasil’
Ao todo, 125 alunos de 15 cidades e quatro estados brasileiros – Bahia, Pernambuco, Paraná e São Paulo – foram escolhidos para participar da nona edição do projeto. Uma parte viaja nesta quarta (5) e outra embarca no dia 15 de novembro. Entre os participantes, está a estudante Eduarda dos Santos Santana, de 14 anos, que estuda em Mata de São João. Ela relatou a emoção com a oportunidade.>
“Quando eu descobri que havia sido selecionada para a segunda etapa, eu chorei de alegria, pois não tinha muitas esperanças de passar, já que não sou muito boa em desenhar. Depois que eu vi o meu nome na lista, senti uma esperança. Essa vai ser a minha primeira viagem de avião. Eu nunca fui mais longe que Salvador por motivos de custo, então essa viagem vai ser muito significativa”, diz.>
A estudante Mayara Kesley Carvalho Santos, 14, também fará a primeira viagem de avião e a primeira viagem internacional. Ela conta que a expectativa é tanta que já está com quase tudo pronto para embarcar. “Já comecei a organizar documentos, roupas e tudo o que vou precisar durante o intercâmbio. Ainda estou ajustando alguns detalhes, como o roteiro e o que quero conhecer por lá. Espero conhecer novas culturas, costumes e pessoas, além de aprender mais sobre a história e o jeito de viver em Portugal. Quero voltar com novos conhecimentos, memórias e uma bagagem cultural que eu possa compartilhar com outras pessoas”, pontua.>
De malas prontas, Welber Henrique de Jesus Santos, 14, estudante de uma escola municipal de Camaçari, valorizou a iniciativa e não escondeu a animação com o intercâmbio. “É uma iniciativa muito boa, ainda mais para nós, estudantes de baixa renda, já que nossos pais não podem proporcionar uma viagem como essa. Vai trazer mais aprendizado sobre a descoberta do Brasil e nos fazer enxergar algo diferente do que a gente vê em livros e sala de aula. Espero conhecer de perto a cultura, pessoas novas e trocar conhecimentos. Essa experiência vai ficar marcada na minha história”, frisa.>
Segundo Marici Vila, é esperado que o projeto marque, sobretudo, a vida pessoal e profissional de cada jovem. “Esperamos que ele entenda que pode estar e ocupar os espaços que quiser, que tenha capacidade intelectual para ter uma análise crítica da nossa história, do Brasil e da vida, e possa ser um grande agente transformador na sua escola e na sua comunidade. Que eles saiam de lá muito transformados e engajados para que possam movimentar outras pessoas”, finaliza.>