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Maysa Polcri
Publicado em 19 de junho de 2025 às 06:00
No Recôncavo baiano, fazer licor é um ritual passado de geração em geração, nos quintais de casa. Foi assim que Diego Lemos teve o primeiro contato com a bebida. A paixão pela tradição abriu espaço para os negócios, e o licor virou projeto de pesquisa e, depois, indústria exportadora. >
Até conseguir espaço no mercado europeu com o produto baiano, Diego Lemos precisou trilhar um caminho que exigiu dedicação. Fez mestrado em Gestão e Tecnologia Industrial e doutorado em Modelagem Computacional, ambos pelo Senai Cimatec. Ele uniu as técnicas de aprendizagem à intuição do "olhômetro" das receitas. E deu certo. >
“Lá atrás, percebi o quanto a produção era artesanal, feita ‘no olhômetro’, sem qualquer medição técnica. A maioria ainda usava prensa de madeira, a mesma de fazer farinha de mandioca”, conta. Em 2011, surgiu a ideia da marca Lamavos. A industrialização começou dois anos depois, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fabesb).>
Agora, os licores baianos da Lemavos serão exportados para França e Portugal. A conquista é resultado de anos de preparação, com apoio do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB). Através do CIN, a empresa participou de mentorias e consultorias personalizadas que orientaram desde adequações regulatórias até mudanças nos rótulos. >
Os licores são todos produzidos com frutas compradas diretamente de agricultores familiares. De acordo com o produtor, parte considerável da matéria-prima vem da agricultura familiar. "Para mim, a parte mais emocionante da produção de licor é se relacionar com a agricultura familiar”, diz. E acrescenta: "A lida da agricultura familiar não é fácil, mas me deixa muito feliz em saber que posso contribuir para melhorar essa realidade". >
Os exemplos são muitos, como o de uma família que conseguiu comprar bezerros a partir do dinheiro da venda das frutas para a produção do licor e investiu em capacidade de refrigeração e equipamentos para melhorar a extração do mel de cacau, insumo este que antes era quase todo descartado. Outra família agricultora revelou ao produtor baiano que viu os filhos retornarem à zona rural depois de irem para a cidade em busca de uma vida melhor.>
Essa relação garantiu à Lemavos o Selo da Agricultura Familiar que é fornecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para produtos que são produzidos ou que utilizam insumos produzidos pela agricultura familiar. O licor da linha Brazeiro é o primeiro e, até o momento, o único licor do estado da Bahia a conquistar este selo. "Para nós é muito importante esta conquista porque deixa claro para o consumidor que nosso compromisso vai além de simplesmente fabricar licor", diz Diego.>
Os licores produzidos atendem a demanda o ano todo, seja por rede de supermercados, espaços especializados, e-commerce ou na loja da Lemavos em Itacaré, no Sul do Estado. Em breve, uma nova loja será aberta em Morro de São Paulo. Para atender todos os públicos, a indústria tem dois tipos de licores, sendo um popular (Sr, Nô) e um premium (Brazeiros). >
Entre os sabores que mais fazem sucesso estão mel de cacau, limão siciliano e canela, caju, maracujá e outros. Ampliando o mercado, a Lemavos também tem destilados de caju, cacau e jabuticaba em seu portfólio, além de aguardente de melado e rum.>
A Lemavos é uma das dezenas de empresas que o CIN apoia através do Programa de Internacionalização, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). São oferecidas capacitações sobre a temática, assessoria individualizada — que inclui técnica e prática, além da promoção comercial, através da participação em missões empresariais, rodadas de negócios e feiras.>