Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Moradores do Capão reclamam de preços exorbitantes: ‘Sinto que estou sendo expulsa’

Problema foi intensificado após requalificação de estrada que liga vilarejo ao município de Palmeiras, dizem residentes

  • Foto do(a) author(a) Yan Inácio
  • Yan Inácio

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 05:00

Vila do Vale do Capão
Vila do Vale do Capão Crédito: Reprodução/Redes sociais

Moradores do Vale do Capão, vilarejo na região da Chapada Diamantina, têm notado um grande aumento no quanto pagam em produtos básicos para a alimentação. A guinada nos preços acontece meses após a requalificação da estrada — um trecho da BA-849 — que liga a cidade Palmeiras ao local. Antes esburacada e com péssimas condições de tráfego, a via de 19 quilômetros ganhou asfalto e sinalização em maio deste ano e trouxe consigo um crescimento no fluxo de turistas de diversas partes do mundo.

A pesquisadora e multiartista Alice Cunha mora no vilarejo há 12 anos e nos últimos meses têm sentido cada vez mais o peso dos preços no bolso, ele vem acompanhado de uma sensação crescente de insegurança econômica. “Para eu que vim de fora também já não é uma coisa mais tão simples fazer essa manutenção da sobrevivência no Capão. Eu saio bastante para trabalhar, mas agora cada vez mais me sentindo expulsa do lugar”, diz.

Ela tem notado que os valores até de produtos básicos, como frutas, produzidos na região têm crescido por conta da chegada de turistas estrangeiros. Um exemplo é banana. Ela conta ter encontrado uma penca sendo vendida a R$ 4 há alguns meses. Hoje o valor passa de R$ 10. O impacto também chega nos doces que costuma vender. Segundo ela, em menos de três meses, o preço do pacote de cacau em pó subiu de R$ 26 para R$ 39.

Pavimentação foi finalizada em maio por Reprodução

Alice e o cenógrafo Adson Lima Leite — que entre mudanças para outras cidades, chegou no vilarejo há 31 anos — concordam em um ponto quando o assunto é alimentação. A subida exorbitante no preço do prato feito. “Você não compra o PF por no mínimo R$ 30. Com raríssimas exceções”, destaca o profissional. Para evitar gastar mais nos dez mercados e minimercados do vilarejo, ele prefere fazer as compras maiores em um atacarejo no município de Seabra, a 50 quilômetros do Capão.

“Antes, no geral, você ia para o mercado, gastava R$150, R$200, agora você gasta R$300, R$400, e compras bestas do dia a dia, que não compensa você viajar para a Seabra”, explica. A combinação de alta temporada com a chegada de turistas europeus agrava ainda mais a situação dos moradores mais antigos. “A galera chega com o euro, seis vezes mais forte do que a nossa moeda. E eles estão acostumados ao preço de lá, então o custo aumenta muito”, complementa Adson.

Já o assistente de desenvolvimento infanto-juvenil Jefferson Santos, natural de Feira de Santana, chegou ao Capão há 5 anos e diz ter dificuldades para se sustentar com um salário mínimo na vila turística. “Acabo tendo que recorrer ao CRAS [Centro de Referência da Assistência Social] e às vezes a cestas básicas”. O aperto é equilibrar as contas como aluguel e internet, que deixam pouco para alimentação. Por isso, faz compras coletivas com os amigos e busca sempre o básico, mantendo uma dieta de baixa proteína.

“Eu não consigo comprar proteína o mês todo. O quilo de peito de frango aqui é R$ 32, e carne mesmo é uma coisa que não é tão barata aqui. Pra você ter uma ideia, nem reparo esses preços, porque eu não consumo, não sobra meu dinheiro pra fazer essas compras”, desabafa. Em junho, outros moradores do Capão demonstraram apreensão com a revitalização da estrada, como se prevessem o resultado do projeto.

"Não sou contra a estrada, mas acredito que o Vale do Capão não comportará o fluxo do turismo e dos novos moradores que a proposta da estrada traz. O centro, a vila em si, é um local pequeno que não comporta esse fluxo, e as ruas internas comportam menos ainda", disse Ludmila Cunha, moradora do Capão, ao CORREIO em junho.

A preocupação, na época, era se o pequeno distrito sustentaria a chegada de uma grande quantidade de pessoas de fora para os festejos juninos. "⁠Sem dúvidas o número [de turistas] será muito maior. Até a estrutura de palco e atrações do São João aumentaram por aqui", revela Ludmila. Agora, revela-se nos gastos exorbitantes com alimentação básica de moradores relativamente antigos.