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Saiba quais são os dias e os horários que a polícia mais mata na Bahia

Ações policiais que resultam em morte ocorrem majoritariamente em dias de semana, segundo relatório da SSP-BA

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 06:00

Polícia Civil cumpriu mandados
Polícia baiana é a mais letal do país Crédito: Pedro Moraes / Ascom PCBA

De janeiro a junho deste ano, 841 pessoas já foram vítimas da letalidade policial baiana – o número equivale a mais da metade dos casos (1.556) registrados em todo o ano de 2024, de acordo com dados disponibilizados em relatório divulgado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). A maior parte dessas mortes ocorreu em dias de semana e em horários que, contrariando o imaginário popular, ainda era possível ver a luz do sol.

Dez municípios da Bahia concentraram 51% das mortes por intervenção de agentes do estado. Salvador lidera com 247 casos, representando 29% do total da Bahia, seguida por Eunápolis, Porto Seguro, Lauro de Freitas e Juazeiro. O número total de mortes por intervenção de agentes de segurança do estado registrados neste ano ainda dá conta de que todas ocorreram durante rondas policiais.

Os dias úteis concentram a maior parte dos registros de óbitos, com destaque para a quinta-feira, que lidera com 158 ocorrências, seguida pela sexta-feira (149) e quarta-feira (129). Esses três dias somam mais da metade de todas as mortes registradas no período analisado.

Há uma maior concentração desses eventos durante a tarde (36,1%), com pico entre 16h e 17h. O período noturno tem a segunda maior incidência (23,2%), com destaque para o horário das 22h. O turno da madrugada responde por 21,3% dos casos, com elevação por volta das 5h. Já a manhã, embora com menor proporção (19,4%), registra uma concentração significativa às 6h (5,5%).

Luiza Silva dos Santos de Jesus foi baleada durante operação policial no bairro da Engomadeira por Reprodução e Wendel de Novais/CORREIO

Luiz Claudio Lourenço, sociólogo, pesquisador de organizações criminosas, professor da Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do Laboratório dos Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos), acredita que os horários das ações policiais resultantes em mortes na Bahia se concentram no período da tarde para tentar apreender drogas e realizar prisões.

“É o período em que os pontos de comercialização costumam estar mais abastecidos, sendo mais fácil os flagrantes, além de ser mais seguro empreender ações táticas à luz do dia”, constata. Quanto aos dias da semana, ele afirma que as hipóteses ainda precisam ser checadas, mas supõe uma questão de demanda. “Acredito que são os dias que tendem a ter uma maior concentração de ocorrências e demanda da ação policial”, completa.

Dudu Ribeiro, especialista em segurança pública, historiador e integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, ainda destaca que as mortes em ações por intervenção policial não ocorrem, necessariamente, em operações policiais. “As mortes são resultado de ações desorganizadas de determinados batalhões ou viaturas e ações à margem da legislação”, diz.

“São ações que não são devidamente acompanhadas. São recorrentes, mas não necessariamente programadas, sendo diretamente ligadas aos vínculos criados entre determinados batalhões e viaturas com a dinâmica das comunidades atingidas”, analisa Dudu Ribeiro

Uma vez que parte considerável do total de mortes ocorreu durante rondas policiais, a Região Integrada de Segurança Policial (RISP) que atua no Recôncavo lidera com 116 casos neste ano, seguida da que opera na Baía de Todos os Santos, com 90, e da que atua no Extremo Sul, com 89 ocorrências de morte. Nenhuma delas utiliza câmeras corporais.

Para os especialistas de segurança pública ouvidos pela reportagem, é necessário que as ações policiais passem por um rigoroso processo de controle e sejam articuladas de maneira integrada e prévia. Dudu Ribeiro defende que as polícias cumpram protocolos a fim de proteger a população e sejam fiscalizadas por outros órgãos.

Já Luiz Lourenço enfatiza a importância de adotar o uso da força apenas como alternativa última somente para salvaguardar a vida dos civis e dos policiais. “Todo uso de arma de fogo por parte da polícia deveria ser rigorosamente registrado e observado com o máximo de transparência para toda a sociedade. [...] Não é justo para com o policial colocá-lo numa ‘guerra’ e depois culpá-lo pelos resultados. Polícia não existe para matar. Não podemos continuar vivendo em estado de guerra”, conclui.