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64 mortos no Rio: a Bahia pode repetir o cenário de guerra carioca?

Três baianos foram alcançados em megaoperação no Rio de Janeiro nesta terça (28); especialista analisa avanço do crime organizado do Rio na Bahia

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 20:33

Três baianos foram alcançados por megaoperação no Rio de Janeiro Crédito: Reprodução

megaoperação contra o crime organizado, liderado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, culminou na morte de 64 pessoas nesta terça-feira (28) e se tornou a mais mortal da história do estado. Se, por um lado, a ofensiva estatal foi classificada como uma mera defesa por parte do governador Cláudio Castro, que já não vê mais a situação do Rio como um caso capaz de ser resolvido pelas polícias, é fato que a atuação das facções criminosas está se disseminando e ganhando proporções maiores – inclusive, em outros estados, como a Bahia.

Por mais de uma década apontado como exemplo do que não ser na segurança pública, o Rio de Janeiro só perde em índices de violência para a Bahia. Em 2022, os agentes policiais baianos desbancaram o Rio nos números da letalidade policial, quando mataram 1.464 pessoas em intervenções oficiais em 2022 – 134 mortes a mais que a segunda colocada –, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Desde então, dados mais recentes indicam a permanência da ação letal das polícias baianas, que adotam o confronto como principal método contra facções. Na Bahia, foram 1.556 mortes em ações policiais no ano passado – no estado dos cariocas, foram 703.

Barricadas em chamas em reação à Operação Contenção por Reprodução

Em outro aspecto, que diz respeito às mortes violentas, a Bahia foi o estado com o maior número absoluto de homicídios registrados no Brasil em 2023, de acordo com o Atlas da Violência 2025. Foram 6.616 mortes violentas intencionais, 55,1% a mais do que o registrado no Rio de Janeiro, que apareceu na segunda posição do ranking.

A escalada da violência baiana coloca o estado em alerta, uma vez que, no horizonte, a preocupação é ver o cenário de guerra do Rio ser reproduzido na Bahia. Para Ricardo Moura, doutor em Sociologia e pesquisador da Rede e do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC), essa possibilidade não é distante, embora o crime organizado nos dois estados opere com peculiaridades e estratégias distintas que impedem que o estágio de estruturação da violência seja a mesma.

“O que a gente vê no Rio são processos e dinâmicas criminais que já somam décadas e a gente percebe que há um elemento geográfico – a presença extensiva de morros – que faz com que os grupos criminosos tenham uma outra estratégia de atuação. Nesse sentido, a forte conexão entre o Nordeste e o crime organizado do Rio e de São Paulo tem causado o incremento da criminalidade nas capitais nordestinas. [...] Por isso, a gente pode ter a chegada de pessoas importantes do Comando Vermelho (CV) aqui no Nordeste”, afirma Ricardo Moura.

Atualmente, também já há, nessa relação criminal entre Rio e Bahia, a ação de lideranças do crime organizado baiano a partir do Rio. Na megaoperação desta terça, três baianos com histórico de envolvimento em atividades criminosas relacionadas à facção Comando Vermelho (CV) foram alcançados. Dois deles morreram e um foi baleado. Na ação, um fuzil 5.56 com bandeira da Bahia e nove motocicletas foram apreendidos.

Um dos suspeitos mortos era Júlio Souza Silva, natural de Salvador, que já foi preso no Complexo Penitenciário da Mata Escura por tráfico de drogas. Ele cumpria pena em regime semiaberto e, segundo a Polícia Civil da Bahia, possivelmente era reincidente nas atividades criminosas após saída do sistema prisional. Os demais não tiveram a identidade revelada.

Na perspectiva do especialista Ricardo Moura, qualquer possibilidade de mudança do estágio atual da violência desencadeada pela ação do crime organizado perpassa a atuação integrada das forças do estado. É também essa a saída que ele vê para frear a letalidade policial e o crescimento de mortes de inocentes e policiais na Bahia.

“O Governo Federal precisa estar mais presente dentro de um arcabouço institucional e político, [para] que a União consiga realizar ações, sempre respeitando a autonomia dos estados. O que vemos hoje são os estados ‘batendo cabeça’ na área da segurança e com o problema da replicação do que acontece no Rio em outros locais. Com isso, a atuação mais ostensiva da polícia acaba acirrando a letalidade, o que é um resultado desastroso”, aponta Moura.

Além do apoio do Governo Federal, o trabalho integrado das polícias, desde a concepção das operações até a execução das ações, é outra solução proposta pelo especialista. Outro recurso é uma ação mais articulada da Polícia Federal na tentativa de promover uma asfixia financeira nos grupos criminosos.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) se solidarizou com os parentes, colegas e amigos dos policiais que foram mortos durante operação policial no Rio de Janeiro e ressaltou que as “ações de inteligência e de repressão qualificada contra as facções continuarão intensificadas em todo o território baiano”. Ainda, acrescentou que a integração entre os estados é imprescindível para desarticulação do crime organizado.