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Condenados por homicídio, estupro e tráfico: 30 detentos fugiram de presídios na Bahia em um ano

Estado contabiliza sete ações de fuga desde dezembro de 2024

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 22 de outubro de 2025 às 05:30

Detentos fugiram na manhã desta terça-feira (21)
Detentos fugiram na manhã desta terça-feira (21) Crédito: Reprodução/Redes sociais

Pela segunda vez somente neste ano, detentos que estavam custodiados no Conjunto Penal de Feira de Santana armaram e executaram uma fuga do presídio. Na manhã de terça-feira (21), três presos tiveram a ausência notada por um policial penal, por volta das 8h30. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), foi constatada violação da grade da cela 29, localizada no Pavilhão 10. Com esse caso, a Bahia já contabiliza sete ações de fuga desde dezembro de 2024 e um saldo de 30 fugitivos – destes, apenas cinco foram recapturados e um morreu.

primeira fuga registrada no Conjunto Penal de Feira de Santana aconteceu no dia 25 de junho, quando três presos, que também estavam custodiados no Pavilhão 10 da unidade, saíram do local sem que ninguém percebesse, mesmo dividindo a cela com outros seis detentos no presídio. Horas depois, eles foram localizados por policiais penais em uma área de matagal no distrito de Humildes, no povoado Terra Dura.

Os dois casos ocorridos em Feira, no entanto, não foram os precursores no último ano. Isso porque, o mais emblemático da série de fugas ocorreu no dia 12 de dezembro de 2024, quando 16 detentos escaparam do Conjunto Penal de Eunápolis. Desde então, dois deles foram localizados, sendo que um acabou morto em um confronto com a polícia.

Daniel Costa Lima, Lucas Conceição dos Santos e Paulo Ricardo Santos da Silva fugiram na manhã desta terça-feira (21) do Complexo Penal de Feira de Santana por Reprodução/Redes sociais

O episódio teve um novo desdobramento em julho, que escancarou a crise do sistema penitenciário baiano, quando o Ministério Público denunciou Joneuma Silva Neres, ex-diretora do presídio de Eunápolis, por envolvimento no crime – ela teria recebido R$ 1 milhão para facilitar a execução do plano. No final do mesmo mês, a Seap anunciou uma série de mudanças em cargos do alto escalão da pasta.

Também no interior baiano, quatro presos fugiram do Conjunto Penal de Teixeira de Freitas, no extremo sul baiano, após cavarem um buraco na parede da cela. A ausência deles foi percebida por agentes penitenciários no dia 7 de julho. Um mês depois, um dos fugitivos – identificado como Joales Jesus de Souza – foi recapturado no bairro São Sebastião, na cidade de Rio Bananal, no Espírito Santo, no dia 10 de agosto.

Mais recentemente, no dia 17 de outubro, foi a vez da Delegacia Territorial de Serrinha ser palco de uma evasão. Uma dupla de homens, identificados como Franklin Brito Santana e Jailson Silva dos Santos, fugiu enquanto aguardavam transferência para o Conjunto Penal de Serrinha. Segundo a Seap, eles cerraram a grade do telhado da cela e escaparam do local por volta das 3h30. Os dois são acusados por estupro e organização criminosa.

Em Salvador, dois casos de fuga também foram computados em 2025. O primeiro deles aconteceu no dia 23 de março, no Complexo Penal da Mata Escura. Na ocasião, Edvaldo Firmo Dias, de 50 anos, acusado de estuprar as próprias filhas de 9 e 11 anos e mantê-las em cárcere privado, não foi mais visto após concluir as atividades laborais de ressocialização em uma área externa da Cadeia Pública. No dia 10 de agosto, um outro detento, que não foi identificado, evadiu do mesmo presídio enquanto trabalhava na manutenção da área perimetral da unidade e está foragido desde então.

Cenário da crise

A série de fugas registradas em menos de um ano nos presídios da Bahia é a faceta mais grave de uma crise que antes era apenas evidenciada pela superlotação dos complexos penais e por interferências políticas. Na perspectiva de Reivon Pimentel, presidente do Sindicato dos Policiais Penais da Bahia (SINSPPEB), ao longo dos anos, essa crise se intensificou pelo descaso – o que para ele, explica parte do problema das evasões.

“Isso é resultado de um sucateamento que vem ocorrendo nas unidades de gestão plena. Nós temos dois modais de gestão: o primeiro com policiais penais e servidores plenos e o outro com terceirizados. Mais de 50% do orçamento da Seap é para a cogestão, enquanto as unidades de gestão plena não têm investimento em tecnologia e manutenção. Gradeados e passarelas estão se decompondo. Isso é grave, porque essas estruturas são para manter as pessoas presas”, enfatiza.

Como forma de mobilização para tentar uma mudança na conjuntura atual, o sindicato tem atuado em diferentes cidades do estado para denunciar as condições dos presídios e dos policiais penais. “Nessa semana, estávamos denunciando em Ilhéus a falta de efetivo e falta de regulamentação dos policiais. É um problema geral, que justifica a fuga nos presídios de gestão plena”, diz Reivon.

Segundo ele, unidades prisionais, como a de Feira de Santana, não contam com um sistema de câmera ou com sistema de bloqueio para telefones celulares. “É uma perversidade. O Estado está violentando os servidores públicos. É um perigo apenas um policial penal ter que monitorar mais de mil presos. Além disso, lidamos com a ausência de policiais militares, que são responsáveis pela segurança perimetral, nas guaritas das passarelas. Não vemos interesse no estado no fortalecimento do sistema prisional”, afirma.

Henrique Arruda, conselheiro da Ordem dos Advogados – Seccional Bahia (OAB-BA), mestre em Políticas Públicas pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) e pesquisador do sistema prisional, ressalta a falta de efetivo como o principal problema do sistema prisional baiano.

“Existe um déficit enorme de policiais penais. Só o Conjunto Penal de Feira de Santana deveria ter mil policiais penais, mas ele dispõe pouco mais de 40 policiais penais. A unidade tem 10 pavilhões, sendo que o plantão, em média, só conta com dez policiais. Então, não há uma segurança para os próprios policiais penais, logo, eles não podem oferecer segurança para a população”, analisa.

Para ele, a resolução desse cenário exige uma postura crítica sobre a situação dos presídios. “É preciso encarar que a questão do sistema prisional baiano afeta frontalmente a segurança pública. O concurso que o governo fez no ano passado, com mais de 250 vagas para policiais penais, já está em fase final, mas não supre a necessidade do sistema. É preciso uma reforma estruturante em boa parte dos presídios, principalmente em Feira de Santana e nos presídios de Salvador. O Complexo da Mata Escura, por exemplo, não tem muro”, pontua.

A reportagem pediu um posicionamento para a Seap a respeito das fugas de detentos ocorridas na Bahia desde dezembro de 2024 e buscou saber as possíveis medidas que estão sendo adotadas para prevenir novos casos. Até a publicação da matéria, não houve retorno.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) foi procurada para se posicionar sobre a crise do sistema penitenciário baiano, mas não também não retornou até o prazo estipulado.

Linha do tempo

  • 12 de dezembro de 2024 – 16 presos fugiram do Conjunto Penal de Eunápolis

  • 23 de março de 2025 – um homem escapou do Complexo Penal da Mata Escura, em Salvador

  • 25 de junho de 2025 – três pessoas fugiram do Conjunto Penal de Feira de Santana

  • 7 de julho de 2025 – quatro presos escaparam do Conjunto Penal de Teixeira de Freitas

  • 10 de agosto de 2025 – um detento fugiu do Complexo Penal da Mata Escura, em Salvador

  • 17 de outubro de 2025– uma dupla escapou de uma delegacia em Serrinha, enquanto aguardava transferência para o Conjunto Penal da cidade

  • 21 de outubro de 2025 – outros três presos escaparam do Conjunto Penal de Teixeira de Freitas