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Yan Inácio
Publicado em 22 de maio de 2025 às 05:00
Após a morte da avó, no final do ano passado, o estudante Rafael Cerqueira, de 25 anos, entrou em um turbilhão de dívidas: sem conseguir equilibrar as despesas de casa com outros gastos essenciais, descobriu que seu score no Serasa havia diminuído consideravelmente e atingiu regulares 408. >
O Serasa Score é uma pontuação que varia de 0 a 1000 e indica as chances de um consumidor pagar as contas em dia nos próximos meses. A nota é dividida entre faixas, de 0 a 300 é considerado ruim, 301 a 500 regular, de 501 até 700 significa que está bom, e do 701 ao 1000 representa uma nota de crédito excelente. Essa ferramenta é utilizada por empresas para avaliar o risco de crédito, ajudando a decidir se concedem ou não um empréstimo ou cartão de crédito.>
A história de Rafael segue uma tendência demonstrada pelo Mapa Score do Brasil, levantamento divulgado pelo Serasa na terça-feira (20). De acordo com os dados da empresa de proteção ao crédito, os jovens baianos de 18 a 25 anos têm, em média, um score de 462. A nota, assim como a do estudante, é considerada regular, mas acende um alerta, pois indica uma probabilidade considerável de inadimplência.>
Como explica Fernando Gambaro, gerente de comunicação do Serasa. “Isso isolado não significa uma boa chance de aprovação de crédito, já que os credores levam em consideração diversas outras informações para avaliação. Mas isso pode ser sim considerada um termômetro para chances de pagamento nos próximos meses”, >
Na média geral, a Bahia ocupa a terceira colocação entre os estados do Nordeste em pontuação de crédito, com score médio de 531. O estado fica atrás de Alagoas, que registra 533, e de Sergipe, líder do ranking regional, com 543 pontos. A média de crédito do Nordeste é de 527, superando apenas a da região Norte, que apresenta o menor índice nacional, com 509 pontos. Os estados com os melhores desempenhos no país são São Paulo (561), Paraná (560) e Roraima (560).>
Para o economista e educador financeiro Edísio Freire, os dados refletem os altos índices de desemprego e inadimplência das famílias baianas. “Temos uma população que na sua grande maioria tem a renda média baixa, de até dois salários mínimos, soma-se a isso um nível de custo de vida elevado. São fatores que vão interferir drasticamente no processo de endividamento e refletem na qualidade dos indicadores”, explica.>
Também na Bahia, os dados mostram que quanto maior a faixa etária, maior tende a ser o score de crédito. Depois dos jovens de 18 a 25 anos, os baianos com idades entre 26 e 30 anos têm, em média, score de 496. A faixa dos 31 a 40 anos registra média de 527, enquanto os de 41 a 50 alcançam 547. Entre 51 e 65 anos, o score médio é de 573, e os maiores índices estão entre os idosos acima de 65 anos, com 597 pontos.>
As estatísticas baianas ficam abaixo da média nacional neste recorte. No cenário nacional, também observa-se que o score de crédito cresce conforme a idade avança. Jovens entre 18 e 25 anos têm uma média de 505 pontos, enquanto o grupo de 26 a 30 anos apresenta leve crescimento, com 523. A pontuação segue em alta nas faixas seguintes: 542 pontos entre 31 e 40 anos e 558 entre 41 e 50. Já aqueles com idades entre 51 e 65 anos registram média de 584, e os brasileiros com mais de 65 anos lideram o ranking etário, com um score médio de 609 pontos — o mais alto do país.>
Segundo Freire, a média menor entre os jovens baianos pode ser explicada pelo histórico financeiro ainda incipiente de quem está nessa fase da vida. “Quando você não tem uma atividade laboral formal e uma movimentação financeira, isso vai puxar seus scores para baixo”, explica. Além disso, a falta de informação sobre o funcionamento da classificação de crédito também pode ser um fator dentro desse recorte de idade.>
“Viver é muito caro em Salvador, como eu precisava gastar com outras coisas, resultou justamente em duas dívidas, uma do Santander, de aproximadamente 3 mil reais, e outra no Banco do Brasil, de mil reais”, conta Rafael Cerqueira. O estudante descobriu que estava com o score de 408 quando foi a um Feirão Limpa Nome. O número está abaixo da média em sua faixa etária.>
Ele conta que o score baixo causou espanto e afetou sua percepção financeira sobre os gastos, além disso, acendeu um alerta, pois a dívida inicial era bem menor que a atual. “Eu não sabia muito o que fazer, não me sentia apropriadamente instruído a como quitar minha dívida da maneira correta, tendo em vista que eu gastei com coisas que eram importantes”, relembra. Atualmente, sua única fonte de renda é uma bolsa que recebe da faculdade onde estuda.>
Já a estagiária Liandra Veiga, de 25 anos, viu seu score chegar a 52 pontos. A dívida que refletiu na avaliação ruim com o Serasa foi feita quando ela tinha 19 anos e precisou pagar cirurgias de emergência para um animal de estimação. “Tive que usar todo o limite do cartão e não consegui pagar a dívida. Isso abaixou meu score abruptamente para 52", conta. Depois, Liandra fez um empréstimo para um parente e também não conseguiu quitar o débito.>
Cinco anos depois, somadas, as dívidas chegaram a R$55 mil. A questão resultou em uma situação de inadimplência que a atinge até hoje e a impede de fazer cartões de crédito, solicitar empréstimos e até de financiar um apartamento. “Eu não consigo fazer [meu score] subir. Eu negocio as dívidas, só que por algum motivo, mesmo negociando, elas continuam em um valor muito alto, que não consigo pagar”, relata.>