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Carol Neves
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 08:12
Seis meses após a morte de Letícia Moreira Barbosa, de 24 anos, encontrada desacordada em um motel de Indaiatuba (SP), a família ainda espera por respostas. O caso, que ocorreu em 5 de abril, segue sem conclusão porque um laudo complementar solicitado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) ao Instituto Médico Legal (IML) de Campinas ainda não foi entregue. As informações são do portal G1. >
A primeira requisição foi feita em abril, mas o documento, considerado essencial para esclarecer de que forma ocorreu a asfixia apontada como causa da morte, não foi finalizado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), “assim que finalizado, o documento será enviado à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Indaiatuba para subsidiar a investigação e contribuir para o total esclarecimento dos fatos”.>
Jovem foi achada morta em motel
A delegada responsável pelo caso, Fernanda Hetem, afirma que o laudo necroscópico indicou sinais de asfixia, mas sem determinar o modo como ela aconteceu. “Eu não tenho informação de como se deu essa asfixia, existem muitas maneiras de ter acontecido. Por isso fiz um novo pedido de laudo complementar com quesitos específicos”, explicou em entrevista ao site. >
Entre os elementos observados está a fratura do osso hioide, no pescoço da vítima. A delegada requisitou mais detalhes para saber se a lesão ocorreu antes ou depois da morte. “Por enquanto, a gente só sabe que houve asfixia, só”, completou.>
A versão do suspeito>
O boletim de ocorrência relata que Igor Brito Rocha da Silva, que mantinha um relacionamento com Letícia havia cerca de três meses, contou à polícia que os dois haviam consumido bebida alcoólica e energético antes de irem ao motel. Ele disse que, durante a relação sexual, a jovem teve um sangramento e, ao retornar do banheiro, a encontrou desacordada.>
De acordo com o depoimento, Igor pediu ajuda aos funcionários do local e Letícia foi levada ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), onde o óbito foi confirmado. >
O que mostram os laudos>
No início da investigação, a morte foi registrada como suspeita. A Polícia Militar relatou não haver sinais de luta no quarto, apenas o sangue decorrente de uma possível hemorragia vaginal. O laudo posterior, no entanto, descartou a hemorragia como causa da morte e apontou asfixia.>
O documento indicou fratura no osso hioide e sinais compatíveis com “trauma direto na região do pescoço, como em uma esganadura”. A delegada reforça, porém, que o termo “como em” não significa necessariamente que a esganadura tenha ocorrido. “Pode ter havido uma esganadura, pode não ter havido. Pode ter sido alguma outra coisa que causou a asfixia”, explicou Hetem.>
A polícia ouviu ex-companheiras de Igor para verificar se havia histórico de práticas sexuais com constrição de pescoço. Todas confirmaram as declarações dele e não relataram comportamentos violentos.>
Sobre o sangramento, a delegada esclareceu que Letícia fazia uso de medicação devido a um problema cardíaco, o que pode ter intensificado a hemorragia após uma lesão superficial compatível com a posição sexual descrita pelo suspeito. “É superficial, não é órgão interno. Não tem nenhum sinal de violência sexual, e no quarto não tinha nenhum sinal de luta”, disse Hetem.>
O inquérito só será concluído após a entrega do laudo complementar e do exame toxicológico, que podem definir se o caso se trata de homicídio doloso, culposo ou morte acidental. “Se eu não pedi a prisão dele é porque não preenche requisitos de nenhum tipo de prisão cautelar. A regra é ser inocente até prova em contrário”, afirmou a delegada. A advogada da família chegou a pedir a prisão do suspeito, mas o pedido foi negado pela Justiça.>
Família espera por justiça>
Para os pais de Letícia, a demora nos resultados é uma nova forma de sofrimento. “A única certeza é que nossa filha faleceu, porque fizemos o enterro dela. As coisas são difíceis. São muitos laudos, estratégia para ganhar tempo, e enquanto não tiver esses laudos, não terminam o inquérito”, disse o pai, José Carlos Barbosa.>
Ele contesta a versão do suspeito, lembrando que a filha, portadora de uma doença cardíaca, “não bebia álcool nem energético”. O pai também contou que a jovem saía de casa apenas para trabalhar ou ir à academia. “Minha filha não saía de casa. Ia de casa para o trabalho, passava na academia e vinha para casa. A gente fazia tudo junto”, afirmou.>
Letícia era a filha mais nova do casal. O irmão mais velho, que tinha microcefalia, morreu há três anos. >