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Setor produtivo brasileiro reforça papel social na agenda climática e prepara compromissos para a COP30

Metade da população mais pobre do mundo é responsável por apenas 10% das emissões de carbono

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 05:00

Carlos Magri, do Instituto Ethos, desafiou participantes de seminário a ir além do controle ou redução em emissões Crédito: Donaldson Gomes/CORREIO

Por mais séria e urgente que seja a questão climática, é preciso ir além dela e pensar em soluções também para o grave quadro de desigualdade na sociedade brasileira. Até porque os menos favorecidos são os que mais sofrem os efeitos nas transformações ambientais. A menos de duas semanas para o início da COP30, conferência climática que será realizada em Belém, no Pará, grandes líderes empresariais brasileiros se reuniram ontem no “II Fórum Integridade Bahia: Impacto da COP 30 para além do Clima”, na sede do Sebrae Bahia, com a finalidade de mostrar como o setor produtivo está contribuindo com a solução para o problema.

“A metade da população mais pobre do mundo é responsável por apenas 10% das emissões de carbono”, destacou Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, citando dados da Oxfam, uma comunidade internacional de organizações ligadas ao desenvolvimento criada após a Segunda Guerra Mundial. O mesmo documento, que foi apresentado na COP realizada em Paris, no ano de 2015, indica que os 10% mais ricos são os responsáveis por metade das emissões de carbono. Um outro relatório da Oxfam indica que 900 milhões de pessoas pobres ao redor do mundo estão expostas a riscos ambientais ou climáticos graves.

Neste cenário, a responsabilidade das empresas precisa ir além de apresentar ações mitigatórias para os problemas climáticos, alertou Caio Magri. “Quando eu falo que precisamos ir além do clima, não estou dizendo que a questão climática perdeu importância, mas que a preocupação com ela apenas é insuficiente”, frisa o presidente do Instituto Ethos. “As pessoas estão no centro da transição e a desigualdade é um motor para a crise climática”, completou.

Roberta Carneiro, do IBGC, e Renata Correia, diretora do Jornal CORREIO por Arisson Marinho/CORREIO

“O mundo falha em reconhecer o óbvio, não há futuro ambiental com desigualdade”, diz, defendendo a necessidade da construção de um novo pacto pela sustentabilidade, que una a iniciativa privada ao poder público, mas que coloque a desigualdade social no centro das discussões. “Não adianta reduzir emissões de carbono no mesmo modelo de produção injusto, o que o mundo precisa é de uma integração ética da sustentabilidade. A revolução energética precisa ser social também”, acredita.

Caio Magri apelou que as empresas brasileiras aproveitem a COP30 para assumir cinco compromissos: de revisar seus modelos de negócios, fortalecer políticas públicas, ouvir territórios e pessoas, reconstruir a confiança social e promover a educação para a sustentabilidade. “O clima é importante tanto quanto outras questões. Precisamos caminhar para um cenário em que a economia sirva a vida, e não o contrário”, defendeu.

Hugo Barreto, diretor de Clima, Natureza e Investimento Cultural da Vale, diz que a jornada da sustentabilidade é marcada por um processo de aprendizado. Segundo ele, a preocupação social caminha ao lado dos cuidados com o ambiente na mineradora. Ele apontou como exemplo a operação em Carajás, no Pará, onde a Vale produz 60% do seu minério de ferro. “A nossa província é vizinha a áreas de conservação e desde o início da operação em meados do século passado, apenas 3% da área foi impactada. Quando a gente olha para a área total de floresta no estado, que é impactada por garimpo ilegal e pecuária irresponsável, o desmatamento é de 40%”, compara. Em 2020, a empresa assumiu o compromisso de retirar uma população de 500 mil pessoas da pobreza até 2030. Segundo ele, 51 mil pessoas já foram atendidas.

Roberta Carneiro, responsável pelo Instituto Brasileiro de Gestão Corporativa (IBGC) diz que existem diversos níveis de maturidade entre as empresas brasileiras. “Tem organizações que elas já entendem o seu papel de responsável, de responsabilidade social, mas há outras que não. Quando trazemos os bons exemplos, temos a possibilidade de inspirar quem ainda não faz”, acredita.

Caio Zanardo, CEO da Veracel, defende uma ampliação no olhar das empresas. “A ideia da confiança social está juntando três palavras que ao meu ver são fundamentais, que é equidade, integridade e sustentabilidade”, analisa. Para ele, esta reunião é a base para uma agenda de inclusão efetiva.

Leanna Mattei, gerente de ESG na Secretaria de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-estar e Proteção Animal (Secis), defende a importância de garantir que as pessoas consigam garantir o seu sustento de maneira sustentável. Para ela, é importante também investir na formação educacional em relação ao assunto. “Quando pensamos em mudanças climáticas, a imagem que vem é do urso polar na geladeira, mas esquecemos que ela impacta o Porto da Bahia e a nossa comida”, ponderou.

Duda Lomanto, secretária do Mar de Salvador, conta que a Prefeitura de Salvador foi pioneira na criação da pasta para desenvolver de forma sustentável a economia baseada nos oceanos. “Nós temos 95% do comércio brasileiro acontecendo pelo mar. Se o agro é pop, o mar é muito mais”, lembra. Segundo ela, o mar é responsável por 20% do produto interno bruto (PIB) da Bahia, gerando uma movimentação econômica de R$ 80 bilhões. “Não existe desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico”, acredita.

A empresária Isabela Suarez, presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB) e da Fundação Baía Viva, apresentou o trabalho desenvolvido em ilhas de Salvador. Para ela, sem desenvolvimento não existe preservação ambiental. “Precisamos desmistificar alguns conceitos e enfrentar situações complexas. O verdadeiro crime ambiental brasileiro está em cidades desordenadas”, afirmou.

Com base na experiência de adequações das ilhas para o turismo, gerando desenvolvimento econômico e social, Isabela destacou a importância dos investimentos entre os menos favorecidos. Ela citou como exemplo a melhoria nas condições educacionais numa das ilhas em um local mais próximo de uma comunidade que é frequentemente atingida por enchentes e tempestades. “Não conseguimos controlar a natureza, mas construindo uma escola próxima à comunidade, muitas crianças deixaram de faltar aulas por não conseguir atravessar a ilha”, contou.

O regramento e o reforço na infraestrutura melhorou a vida de pessoas que tinham casas atingidas pela erosão. “O mar subiu 10 centímetros e impactou locais que não impactava antes. Se existe a perspectiva de continuar subindo, precisamos nos preparar. Os impactos existem e precisamos entender isso”, defendeu.

Impacto da comunicação

A empresária Renata Correia, diretora do CORREIO e membro do Conselho de Administração da Rede Bahia, falou sobre o impacto positivo da comunicação na transformação de realidades sociais. Ela destacou o exemplo do Afro Fashion Day, evento realizado pelo jornal, que terá a sua 11ª edição realizada no próximo sábado (dia 1º). “Vamos realizar o Afro Fashion Day pela décima primeira vez. É um evento que traduz a nossa cultura, mostra as pessoas pretas como protagonistas na sua beleza, criatividade e ajudando a transformar vidas”, destacou.

Renata lembrou ainda que o jornal tem em sua grade de eventos encontros para fomentar o desenvolvimento sustentável. “Nós temos no jornal CORREIO uma série de eventos em sua trilha ESG. Somos pioneiros na realização de um fórum para tratar do assunto, o que mostra nossa preocupação com o que as empresas e entidades coloquem a temática no seu radar”, completou.

Ela defende que a atuação responsável cumpre um papel positivo para os negócios e cita o Afro como exemplo. “É um evento inclusivo de verdade e que ainda se transformou numa grande oportunidade de negócios. Quando a gente acredita verdadeiramente, vai transformar e vai trazer resultados”, afirmou.

Ela também falou sobre o papel social da Rede Bahia de ir além da atuação responsável dentro dos muros da empresa. Segundo ela, o grupo de comunicação cumpre o papel de fomentar pautas de transformação e fortalecer a representatividade de quem vive no estado. “Nós nos preocupamos em fomentar o desenvolvimento tanto internamente quanto no vídeo, porque isto gera um estímulo positivo”, acredita.

Isaac Edington, presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), destaca a importância da informação no processo de engajamento das pessoas para as mudanças. “A nova era da comunicação exige propósito e coerência. Fora disso é só propaganda, mas até a propaganda vem se modificando”, disse.