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Super-híbrido, ampliação, atrasos e desorganização marcam o grande dia da BYD na Bahia

Montadora chinesa inaugura complexo industrial de R$ 5,5 bilhões com promessa de chegar a 600 mil veículos produzidos por ano

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 05:00

A linha de montagem da fábrica que a BYD construiu em Camaçari ainda está operando em regime de SKD, onde as grandes partes dos veículos já chegam prontas Crédito: Joá Souza/GOVBA/Divulgação

Em uma cerimônia que acabou ficando marcada por atrasos, protestos do lado de fora e desorganização – com direito até a uma incompreensível troca da mestre de cerimônias no meio do evento –, a BYD inaugurou oficialmente o seu complexo fabril em Camaçari, com um investimento de R$ 5,5 bilhões. A montadora chinesa confirmou os planos de elevar a produção local de 150 mil para 300 mil carros por ano na segunda fase do projeto e anunciou que, numa nova etapa de investimentos, deverá chegar aos 600 mil carros/ano. Além disso, a empresa apresentou a primeira unidade do que chama de super-híbrido flex, seu primeiro carro com motor híbrido que pode ser abastecido com álcool ou gasolina.

Com cerca de 1,5 mil trabalhadores atualmente na fábrica em Camaçari, a BYD projeta tornar a unidade um dos seus hubs para a expansão da eletromobilidade. “Há 16 anos, criei os três sonhos verdes' da BYD, gerar, armazenar e utilizar energia limpa. Ver esse ecossistema se tornando realidade aqui na Bahia é a materialização dessa missão”, declarou o fundador da empresa Wang Chuanfu. Ele destacou a participação brasileira no lançamento do híbrido que pode ser abastecido com etanol. “O carro que entregamos hoje é a prova de que a BYD não apenas investe no Brasil, mas cria com o Brasil soluções únicas para o mundo”, disse em seu discurso.

Até o próximo mês, a montadora pretende produzir 30 unidades do veículo em homenagem à COP30, que será realizada em Belém.

“Após dois anos de esforço de mais de 100 engenheiros chineses e brasileiros, hoje nosso 14º milionésimo veículo sai da linha de produção equipado com o primeiro motor híbrido plug-in dedicado a biocombustível do mundo. Isso não é apenas um avanço tecnológico. É uma solução verde e sustentável feita sob medida para o Brasil”, apontou Wang Chuanfu.

Não se falou sobre prazos para a internalização da produção na fábrica baiana durante a inauguração e, afastada dos executivos da empresa por um “cercadinho”, a imprensa não pôde perguntar. Atualmente a BYD funciona no regime de SKD, em que as estruturas dos veículos são previamente fabricadas na China e são apenas montadas no Brasil. O fundador da marca disse que a meta é acelerar as obras para posicionar o complexo de Camaçari como o maior do país até 2030. Em pleno funcionamento, o complexo terá potencial estimado de 20 mil empregos, entre diretos e indiretos, incluindo funcionários, prestadores de serviço e fornecedores.

Stella Li, vice-presidente global e CEO da BYD para Américas e Europa, projetou um aumento na presença de baianos em posições de comando da companhia. Ela lembrou que cinco delegações oriundas do estado já visitaram a sede na China e que outros grupos deverão ter a mesma oportunidade. “A BYD acredita no potencial de expansão do mercado brasileiro, tem planos de longo prazo para uma população que merece veículos cada vez melhores e seguirá investindo para ajudar a aquecer a economia, gerar empregos e qualificar a força de trabalho”, analisa.

Inauguração da fábrica da BYD em Camaçari por Divulgação BYD

No Brasil desde 2014, a BYD é responsável pelas vendas de 76,36% dos veículos elétricos comercializados no Brasil no acumulado deste ano e por 27% dos híbridos. Em agosto, a montadora chinesa alcançou a quarta posição no ranking de vendas do varejo, superando outras com décadas de atuação no país. Em menos de três anos, a empresa ultrapassou a marca de 170 mil carros vendidos.

Zhu Qingqiao, embaixador da China no Brasil, fez questão de destacar a parceria que existe entre os dois países. “Os veículos da nova energia hoje são um destaque”, comemorou, citando o casamento entre o etanol brasileiro com os motores elétricos. Sem citar diretamente as polêmicas que envolveram o início das obras em Camaçari, envolvendo até denúncias de trabalho análogo à escravidão, o embaixador garantiu que as empresas chinesas no Brasil respeitam totalmente a legislação local e operam respeitando regras de segurança.

Passava das 14h quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou a palavra. Ele lembrou dos seus 80 anos e disse que não conseguiria falar muito porque estava com fome. Ele ressaltou que a BYD ocupou o espaço que foi deixado pela Ford em Camaçari. Pegando como base os números apresentados pela montadora, o chefe do Executivo federal projetou que Camaçari pode se tornar uma base para a exportação de veículos da marca chinesa quando a montadora atingir a capacidade de produzir 600 mil veículos por ano.

Para o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, o investimento da BYD está conectado aos planos para a reindustrialização do Brasil. Segundo ele, além de utilizar energia elétrica, no lugar de combustíveis fósseis a fábrica vai ser uma base para a exportação de veículos. “A BYD é inovadora, sustentável, competitiva e exportadora. Daqui sairão veículos para o mundo todo e isso nos deixa muito felizes”, ressaltou.

Os planos para exportar a produção, e até mesmo para dar à montadora maior segurança em relação à chegada de insumos, passam pela definição de uma solução para a operação portuária. O governador Jerônimo Rodrigues chegou a mencionar em seu discurso que o fundador da BYD cobrou uma solução em relação ao assunto, mas não deu maiores detalhes a respeito de possíveis encaminhamentos. Há alguns anos, o governo da Bahia tenta, sem sucesso, reativar o terminal que era operado pela Ford.

Organização

Quando as autoridades públicas e os representantes da empresa finalmente subiram ao palco montado na fábrica em Camaçari já passava das 12h35, portanto uma e meia após o horário previsto. A chegada ao local, que deixou de se chamar Avenida Henry Ford e recebeu o nome de Avenida BYD, foi dificultada pela realização de dois protestos, um deles relacionado à operação, realizado por carreteiros em busca de melhores condições pelos seus serviços.

A outra manifestação era de proprietários e funcionários de autoescolas, que esperavam aproveitar a presença do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para protestar contra o fim da exigência dos cursos de direção para a retirada da carteira nacional de habilitação. A medida deve entrar em vigor no próximo dia 3, reduzindo os custos em mais de R$ 2,5 mil em média. Não se tem notícias de que o presidente tenha tomado conhecimento das duas mobilizações, porém elas dificultaram o acesso ao local.

Dentro da fábrica, a estrutura de credenciamento era caótica, ainda que a empresa tenha exigido previamente os dados dos participantes, e que boa parte do corpo de funcionários tenha ficado de fora. Muita gente dando “carteiradas” e furando fila pelas mais diversas razões. O espaço reservado aos jornalistas, na lateral do auditório improvisado na fábrica, fornecia aos profissionais apenas uma visão parcial do palco, mesmo para quem optou por ficar de pé para tentar enxergar melhor. Ainda assim foi possível ver e ouvir que a mestre de cerimônias, a jornalista Luana Assiz, foi substituída pelo locutor Jota com seu inconfundível vozeirão, depois de já ter iniciado o seu trabalho, sem nenhuma explicação para isso.

No final do evento, quase às 15h, os profissionais de imprensa ainda foram convidados a participar de um almoço, mas a comida já tinha acabado.