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Agência Correio
Publicado em 10 de agosto de 2025 às 10:22
O hábito de pedir a bênção aos pais, um pilar de respeito e afeto para gerações no Brasil, está em declínio. Esse gesto simbólico cede espaço frente às profundas transformações que redefinem o formato e as dinâmicas das famílias atuais.
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Dia dos Pais
À medida que a concepção de família se modifica, rituais antigos como a bênção se tornam menos frequentes. Essa não é uma perda, mas sim um processo de adaptação cultural e simbólica que acompanha a evolução das relações.>
É fundamental compreender que essa mudança não apaga o afeto. Segundo o antropólogo David Stigger, da USP, "a cultura não perde as coisas, ela transforma. Ela realoca, ela reorganiza", sublinhando que as tradições culturais se reconfiguram.>
As configurações familiares no Brasil transcendem o modelo patriarcal. Hoje, há famílias chefiadas por mães solo, casais homoafetivos e avós que criam netos, mostrando diversidade.>
Este panorama influencia a lógica da bênção, anteriormente ligada ao pai ou à mãe. Stigger explicou que hoje "grande parte das famílias brasileiras são encabeçadas por mulheres. Então, o costume de falar 'bênção pai ou benção mãe', ele se desloca".>
A bênção também cumpria um importante papel simbólico: ela assinalava a transição do ambiente seguro do lar para o mundo externo, muitas vezes visto como perigoso.>
Era um gesto de cuidado que dava ao indivíduo a força simbólica dos laços familiares. "A bênção geralmente acontece ao sair de casa", destacou David Stigger.>
Com o avanço da tecnologia e a comunicação instantânea, as divisões entre o espaço público e o privado tornaram-se mais porosas.>
Aplicativos como o WhatsApp conectam as pessoas a todo momento, diminuindo a necessidade de um ritual específico ao sair. "A eficácia simbólica da bênção muitas vezes não se torna tão necessária", observou Stigger.>
Um estudo de Christiane Torres de Azeredo indica que a estrutura familiar sempre passou por alterações. Desde a barbárie até hoje, o modelo evoluiu de coletivo para nuclear e, agora, afetivo.>
A Constituição de 1988 consolidou o afeto e a dignidade, substituindo o "pátrio poder" pelo "poder familiar". Isso demonstra uma evolução contínua do conceito de família no país.>
O declínio da bênção tradicional não significa o fim do respeito ou do amor entre pais e filhos. Isso demonstra que esses sentimentos são expressos de novas maneiras.>
A cultura familiar é viva e se adapta. A bênção é menos um costume perdido e mais um símbolo que encontrou outras formas de existir e se manifestar nos lares brasileiros.>