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Agência Correio
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 05:00
Nos elevados planaltos andinos da província de Chumbivilcas, ao sul de Cusco, acontece todo dia 25 de dezembro um encontro singular: o festival Takanakuy. Comunidades inteiras se reúnem para celebrar e, sobretudo, para resolver desentendimentos acumulados ao longo do ano. >
O ponto central do evento é o confronto público, ritualizado, no qual homens, mulheres e até crianças participam para solucionar disputas de forma direta, evitando que se prolonguem para o ano seguinte. >
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A celebração começa com cerimônias tradicionais, segue com momentos de confraternização e chega ao auge nas lutas, que seguem regras, têm árbitros e visam mais a resolução simbólica do que o ferimento real. Após os combates, há gestos de reconciliação como abraços e apertos de mãos, fortalecendo os laços comunitários e permitindo que todos entrem no novo ano com sentimentos renovados.>
No contexto andino de Chumbivilcas, o Takanakuy vai muito além de um espetáculo: ele cumpre um papel social importante. Conflitos pessoais ou coletivos acumulados durante o ano são levados à arena do festival para serem, simbolicamente, resolvidos. O termo “Takanakuy”, em quechua, pode ser traduzido como “quando o sangue ferve”, refletindo a intensidade do momento.>
Dessa forma, a tradição oferece à comunidade uma forma de catarse coletiva, permitindo que ressentimentos sejam dissipados. O objetivo é reforçar os vínculos sociais e purificar as relações, deixando espaço para um ciclo novo mais harmonioso.>
As lutas do Takanakuy são curtas e bem regulamentadas. Árbitros supervisionam os combates, garantindo que não haja comportamentos que possam causar ferimentos graves.>
Cada confronto inicia e termina com um gesto de conciliação, geralmente um abraço ou aperto de mãos. Esse ritual assegura que a luta seja percebida como um ajuste simbólico, e não como vingança ou agressão pessoal.>
As roupas e trajes usados durante o festival carregam significado cultural e evidenciam a identidade andina da região. As vestimentas ajudam a diferenciar os participantes e reforçam o caráter ritualizado do evento.>
O cenário ao redor, montanhas de mais de 3.600 metros de altitude e aldeias próximas convergindo para o festival, torna a experiência única, mostrando que, apesar da confrontação física, o espírito do Takanakuy é de união e reconciliação.>
Para visitantes da região de Cusco em dezembro, o Takanakuy oferece uma experiência cultural singular. É uma oportunidade de observar de perto um ritual vivo que combina tradição e resolução de conflitos. No entanto, quem assiste deve respeitar as normas locais e compreender que o evento tem profundo significado comunitário.>
O festival mostra como práticas indígenas conseguem se manter relevantes, atraindo interesse externo sem perder sua essência. Em um mundo que busca experiências autênticas, o Takanakuy destaca-se como um exemplo de vivência cultural intensa e reflexiva.>