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Agência Correio
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 20:30
O arroz e feijão sempre foi o retrato da alimentação brasileira. Símbolo de dieta equilibrada e cultura, a dupla viu seu consumo despencar. De acordo com a Embrapa e institutos de pesquisa, o consumo dos grãos atingiu, em 2025, os menores índices desde os anos 1960. Um alerta sobre mudanças em curso no país.>
Mesmo com uma forte queda de preços no primeiro semestre, a procura por arroz e feijão segue baixa. Historicamente, a demanda estava associada ao poder de compra das famílias. A nova realidade aponta para transformações que ultrapassam a economia, envolvendo estilo de vida e novas dietas.
>Arroz de forno
Cozinhar em casa virou um desafio na rotina intensa. A praticidade dita o cardápio, e o arroz e feijão, que demandam preparo, perderam espaço. Seu lugar é ocupado por marmitas prontas, congelados e ultraprocessados. Recorrer ao que está pronto virou uma escolha inevitável para quem concilia trabalho e transporte.
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O aumento de pessoas morando sozinhas ou em famílias pequenas alterou a dinâmica. Preparar porções pequenas exige planejamento, o que desmotiva. A alternativa é optar por refeições rápidas ou comprar alimentos prontos em aplicativos e restaurantes. A praticidade supera a tradição do feito em casa.
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Dados da Scanntech demonstram que o consumo de arroz caiu 4,7% e o de feijão 4,2% no primeiro semestre de 2025. O curioso é que o arroz ficou 14,2% mais barato, e o feijão, 17,5% no mesmo período. No acumulado de 12 meses até junho, tipos como o feijão preto registraram baixa de expressivos 21,37%, segundo o IBGE.
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Apesar da queda nos preços, a compra dos itens recuou. Isso reforça que a principal razão não é o preço, mas as novas formas de consumo. Enquanto a dupla tradicional cai, alimentos industrializados, proteínas animais e snacks seguem crescendo em popularidade. A conveniência pesa mais na decisão final.
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As preferências alimentares transformaram-se. Dietas com baixo carboidrato e foco em proteínas influenciam os mais jovens. Muitos optam por saladas ricas em proteínas, pratos únicos ou lanches que substituem as refeições completas. Isso diminui o espaço da dupla no prato brasileiro.
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As carnes continuam muito presentes. Em 2024 e 2025, a produção nacional de frango e suínos atingiu novos recordes. Segundo a Kantar, as proteínas representam mais de um terço dos gastos com alimentação das famílias. Essa estabilidade no consumo de carnes sugere uma substituição calórica por outras fontes proteicas.
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A queda no consumo preocupa médicos e nutricionistas. O feijão é marcador de alimentação saudável, por ser rico em fibras, ferro e proteína vegetal. Sua substituição por ultraprocessados pode ter um custo alto para a saúde pública a longo prazo.
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No campo, a baixa demanda atinge os pequenos agricultores. O cultivo de arroz e feijão é fonte primária de renda. A retração pode levar à redução de áreas plantadas e comprometer o sustento de milhares de famílias. A crise no prato afeta o agronegócio de base.
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Em 1985, o consumo médio per capita de arroz era de 40 kg, caindo para 28 kg em 2023. O feijão seguiu a mesma curva: de 19 kg per capita para 12,8 kg. A redução é gradual e contínua.
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