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Elis Freire
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 16:36
A manifestação contra a PEC da Blindagem tomou as ruas do bairro da Barra neste domingo (21) e reuniu em um trio elétrico inúmeros artistas como Daniela Mercury, Baco Exu do Blues e Wagner Moura. Dentre eles, estava uma figura emblemática que nem todos conhecem, o “homem do sombreiro” ou o "sombreiro man". >
O senhor de indumentárias africanas avermelhadas e sombreiro branco de renda chamou atenção do público e gerou debates nas redes sociais. Quem não conhece a atuação do artista na cidade até chegou a estranhar um homem negro segurando um guarda-sol e sobre a cabeça de Wagner Moura e Daniela, apontando uma possível reprodução do racismo. Porém, tudo na verdade faz parte de uma grande performance com significativos culturais específicos e o tal "homem do sombreiro" é um dos integrantes do Cortejo Afro, tradicional bloco afro da cidade. >
Manifestantes protestam contra PEC da Blindagem em Salvador e outras capitais
Em uma postagem no X, a discussão sobre essa figura segurando um sombreiro alcançou mais de 1 milhão de pessoas. "A Bahia continua a mesma. Só mudaram os senhores de engenho", diz a legenda do texto com o vídeo do artista com o acessório cobrindo o protagonista de "O Agente Secreto".>
Mas, logo alguns conhecedores da cultura local rebateram o posicionamento da página. "O sombreiro no Cortejo Afro é símbolo cultural ligado ao candomblé e à tradição baiana. Não é servidão, é ancestralidade e respeito. Pesquisar antes de julgar evita deturpar nossa cultura", explicou uma pessoa. "Ele faz parte cortejo afro, em todas as apresentações ele está segurando esse sombreiro, até a noite. Informe se antes de espalhada fake news", alertou outro.>
Veko Araújo - Homem do sombreiro
Nascido na Vila Brandão, comunidade entre a Igreja da Vitória e Santo Antônio Além do Carmo, o "homem do sombreiro" é Veko Araújo. Parte do Cortejo Afro, bloco criado pelo artista plástico Alberto Pitta, desde 2004, o homem por trás do utensílio redondo é um estudioso das Belas Artes e um movimentador importante do Teatro de Rua na Bahia. A história o que coroou como esse "personagem/entidade" é curiosa. >
Durante um desfile de Carnaval, há cerca de 20 anos, Veko tomou um sombreiro das mãos de uma mulher que trabalhava na festa e realizou uma série de movimentos, que, segundo os fundadores do bloco transformou, o acessório em símbolo de uma entidade. A partir dali, Veko incorporaria esse personagem sagrado nas ruas e nos palcos. >
"Como eu venho do Movimento de Teatro de Rua, o Cortejo Afro vem reafirmar minha porção artista: 'um apara-sol e chuva prenunciando a poesia pelas ruas'. O Cortejo Afro vem consolidar o meu lugar de Mestre da Cultura Popular no Estado da Bahia", explicou Veko em entrevista recente ao CORREIO. >
Hoje em dia, o "sombreiro man", viaja o mundo com o bloco, atuando como um multiartista que performa, canta, atua e declama poesias. >