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Agência Correio
Publicado em 4 de outubro de 2025 às 12:30
A saúde da nossa boca pode ser um espelho, e talvez até um fator de risco, para doenças muito mais sérias. Um novo estudo observacional publicado no periódico JAMA Oncology trouxe à luz uma intrigante correlação: microrganismos que vivem em nossa boca podem estar ligados a um risco significativamente maior de desenvolver câncer de pâncreas. >
Sorrisos e dentes
Os cientistas da Universidade de Nova York identificaram um conjunto de 23 bactérias e quatro fungos que, em conjunto, aparecem associados a uma chance até 3,4 vezes maior da doença. Essa descoberta reforça a ideia de que a microbiota oral desempenha um papel importante na saúde geral. >
Este estudo, contudo, estabelece apenas uma correlação e não uma relação de causa e efeito. No entanto, ele se soma a pesquisas anteriores que já apontavam a influência da microbiota oral em vários aspectos da saúde, incluindo a ligação entre má higiene bucal, gengivite e o risco de outras doenças. >
Os mecanismos exatos por trás dessas associações ainda não estão totalmente claros, mas a pesquisa acende um alerta importante sobre a atenção que devemos dar à nossa boca. >
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram os dados de mais de 122 mil pessoas, que forneceram amostras de saliva e foram acompanhadas por nove anos. Esse longo período permitiu registrar o eventual aparecimento de tumores, oferecendo uma base de dados robusta para a análise. >
Entre os participantes, 445 pessoas foram diagnosticadas com câncer de pâncreas. Para identificar a relação, os cientistas analisaram o DNA dos microrganismos na saliva desses pacientes e compararam com o DNA de amostras de 445 pessoas saudáveis, selecionadas de forma aleatória. >
É importante frisar que, ao final, eles ajustaram a análise para considerar fatores já conhecidos que influenciam o risco de câncer, como idade, raça e tabagismo. >
Os resultados confirmaram uma ligação esperada: várias bactérias conhecidas por causar periodontite – como P. gingivalis, E. nodatum e P. micra – estavam ligadas a um risco maior de câncer de pâncreas. Afinal, outras pesquisas já tinham estabelecido uma ligação entre gengivite grave e a doença.>
Além disso, a pesquisa identificou mais vinte bactérias e quatro fungos, incluindo do gênero Candida, que variaram fortemente entre os grupos e, por isso, parecem influenciar o risco da doença. Juntos, todos esses microrganismos estão associados a uma chance de câncer de pâncreas até 3,4 vezes maior.>
O câncer de pâncreas é um dos mais graves, muitas vezes sendo diagnosticado tardiamente por não apresentar sintomas nas fases iniciais. Portanto, encontrar formas de vigilância precoce é crucial para aumentar as chances de sobrevivência. >
Os pesquisadores sugerem que a análise genômica da microbiota oral pode se tornar uma ferramenta valiosa de vigilância para a doença. >
"Ao traçar o perfil das populações bacterianas e fúngicas na boca, os oncologistas podem identificar os pacientes que mais precisam de exames para câncer de pâncreas", afirmou Jiyoung Ahn, professora da Universidade de Nova York e coautora do estudo, em um comunicado à imprensa.>
Embora o estudo não prove que esses microrganismos causam o câncer, ele alerta para a importância da nossa microbiota oral e reforça a necessidade de cuidar da higiene da boca. >
Como destacou Richard Hayes, coautor do estudo e professor da Universidade de Nova York, "está mais claro do que nunca que escovar os dentes e usar fio dental pode não apenas ajudar a prevenir doenças como gengivite e periodontite, mas também a proteger contra o câncer". >