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Fernanda Varela
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 05:00
A terapeuta belga Esther Perel, referência mundial em terapia de casais e com mais de 45 anos de experiência clínica, afirma que a infidelidade raramente nasce da luxúria. Segundo ela, a principal causa está em algo mais profundo e silencioso: a morte emocional da relação.>
Traição e infidelidade
Em entrevista ao The Telegraph, Perel explicou que muitos casais acabam presos em rotinas automáticas. Cuidam da casa, dos filhos e da vida prática, mas se esquecem de cuidar da conexão emocional e do desejo. “Responsabilidade e prazer nem sempre combinam. Os elementos que sustentam o amor não são os mesmos que alimentam o desejo”, afirma.>
Com o tempo, o vínculo se torna funcional e perde vitalidade. O parceiro deixa de ser visto como alguém inspirador, e o relacionamento passa a existir apenas por inércia. É nesse espaço de distanciamento afetivo, segundo Perel, que a traição costuma nascer — não como rejeição, mas como uma tentativa de sentir-se vivo novamente.>
Como evitar o esfriamento emocional>
Para evitar que o relacionamento entre nesse estado de dormência, a terapeuta recomenda reintroduzir curiosidade e novidade no cotidiano. Pequenos gestos, como contar histórias novas, planejar experiências diferentes ou criar novos rituais, podem ajudar a reacender a admiração mútua.>
Perel também defende a importância de preservar espaço individual. “O desejo precisa de distância para existir”, explica. Ter momentos sozinhos, hobbies próprios ou até férias separadas pode fortalecer a individualidade e, paradoxalmente, aproximar o casal.>
Quando a traição vira um ponto de virada>
Em muitos casos, a infidelidade surge como uma ruptura inevitável. Mas, segundo Perel, ela também pode ser o início de uma reconexão. “Algumas traições são rompimentos. Outras são reconciliações”, disse em entrevista ao The Observer.>
No livro The State of Affairs: Rethinking Infidelity, a terapeuta defende que o adultério não precisa ser o fim de um relacionamento, mas um chamado à transformação. “Às vezes, a relação que emerge depois de uma traição é mais honesta, mais forte e mais profunda do que aquela que existia antes”, conclui.>
Para ela, a infidelidade deve ser compreendida não como sentença, mas como sintoma de uma relação que parou de respirar — e que, em alguns casos, ainda pode ser revivida.>