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Agência Correio
Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 15:00
Em uma noite comum com amigos, depois de uma semana cansativa, cada um pede um tipo diferente de cerveja. Em poucos minutos, algo chama a atenção: a espuma de alguns copos parece muito mais firme e compacta do que a de outros. >
Até pouco tempo, isso passava despercebido para a maioria das pessoas. Agora, virou tema de pesquisa de cientistas do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Zurique, que investigaram o que faz com que algumas cervejas consigam manter a espuma por mais tempo.>
Cerveja
O estudo foi publicado na revista Physics of Fluids e mostrou que a resposta vai muito além da aparência. A estabilidade da espuma depende de uma combinação de fatores físicos e químicos.>
A origem da pesquisa veio de uma pergunta simples. Jan Vermant, professor e coordenador do estudo na ETH Zurich, quis entender como os mestres cervejeiros controlavam o processo de produção. A resposta foi surpreendente: a espuma era o principal indicador.>
A partir disso, a equipe decidiu investigar o que impede a espuma de “desabar” logo após se formar.>
A pesquisa levou mais de sete anos para chegar a conclusões definitivas. Durante esse período, os cientistas analisaram as proteínas presentes no malte, com destaque para uma proteína chamada LTP1, fundamental para a formação da camada de espuma.>
Durante a fermentação, essa proteína muda completamente de estrutura. Em alguns tipos de cerveja, ela se fragmenta em partículas menores.>
Esses fragmentos funcionam como surfactantes, ou seja, moléculas com partes que atraem a água e outras que a repelem. Isso faz com que elas se organizem em volta das bolhas de gás, formando uma espécie de película protetora.>
Essa “membrana” torna a espuma muito mais resistente e durável.>
Os pesquisadores também descobriram que não existe uma regra única para todas as cervejas.>
Cada estilo tem mecanismos próprios que influenciam a formação e a durabilidade da espuma.>
Cervejas do tipo Tripel, Dubbel e Singel foram analisadas. A partir disso, foi possível estabelecer uma hierarquia.>
As Tripel apresentaram a espuma mais estável. Em seguida vieram as Dubbel. Por último, as Singel, que mostraram uma espuma menos duradoura.>
Isso acontece porque o menor teor alcoólico e a fermentação mais leve geram menos fragmentos de proteínas capazes de fortalecer a espuma.>
Na prática, é isso que explica por que algumas cervejas mantêm uma espuma firme por vários minutos, enquanto outras perdem a camada quase imediatamente.>
A explicação não envolve apenas a química. Existe também um fenômeno físico chamado efeito Marangoni.>
De forma simples, quando surgem diferenças de tensão na superfície da cerveja, pequenos fluxos microscópicos são criados. Esses fluxos redistribuem constantemente as proteínas ao redor das bolhas de gás.>
Esse processo fortalece a película que envolve a espuma. É como se a própria espuma conseguisse se “auto-reparar”, retardando o afinamento natural que levaria ao colapso.>
Ao final do estudo, os pesquisadores identificaram três fatores principais que determinam a estabilidade da espuma:>
Não existe uma fórmula pronta que sirva para todas as cervejas. O que existe é um “mapa” de processos que explica por que a espuma desaparece rapidamente em algumas bebidas e permanece por mais tempo em outras.>
Essa descoberta pode impactar diretamente as cervejarias. A partir dessas informações, será possível ajustar ingredientes, métodos e tempos de fermentação para alcançar o resultado desejado.>
No fim, o que parece ser apenas um detalhe estético é, na verdade, um dos indicadores mais confiáveis da qualidade da cerveja.>
Da próxima vez que você notar uma espuma mais firme do que o normal, já vai saber: não é só estilo. É física e química trabalhando juntas.>