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Alan Pinheiro
Pedro Carreiro
Publicado em 2 de julho de 2025 às 06:10
Nesta quarta-feira (2), o nascer do sol para o baiano vai brilhar mais forte. O 2 de julho é o dia de relembrar a história dos feitos do passado que moldaram o presente e comemorar a independência do estado da Bahia. No entanto, há exatos 25 anos, a data dividiu a atenção com outro evento importante: a final do Campeonato Baiano de 2000. Em um duelo travado por Bahia e Vitória no Barradão, o confronto eletrizante foi marcado por quatro gols, catimba, expulsões e a alegria da torcida vencedora. >
Ainda com a dupla Ba-Vi em seus primeiros dias de preparação após a pausa na temporada, o CORREIO revisitou a conquista do 17º título baiano do Vitória, última oportunidade em que os rivais duelaram em campo na data comemorativa. Além da decisão do estadual, o Tricolor e o Rubro-negro disputaram o clássico em outras três oportunidades na história, com vantagem do Leão. A primeira delas ocorreu em 1934, quando o time rubro-negro venceu por 4x3 no Campo da Graça. Em 1948, pelo torneio quadrangular de Salvador, o Vitória goleou por 7x1. Já o único triunfo do Bahia aconteceu em 1995, também pelo Campeonato Baiano.>
Antes da bola rolar, o clima era de agitação por parte das duas torcidas. O primeiro jogo da final, realizado na Fonte Nova, terminou empatado por 1x1. Já o grande vencedor seria conhecido após os 90 minutos no Barradão. Pela melhor campanha na competição, a vantagem do empate estava com a equipe comandada por Arturzinho. O técnico rubro-negro, inclusive, sentia que o Vitória sairia de campo com o título.>
“Arturzinho contava que, mesmo sem trocar qualquer palavra com os jogadores, um dia depois da derrota por 3x0 para o rival, na final do segundo turno, na Fonte Nova, sentia que eles haviam jurado a si próprios ficar com o título”, escreveu a edição do jornal CORREIO no dia 3 de julho daquele ano.>
Quando os times entraram em campo, os primeiros 45 minutos foram marcados pelo equilíbrio. Mas se tratando de bola na rede, o Leão foi mais eficiente. Aos 27 minutos, Juninho Petrolina cruzou para a área, a bola desviou no zagueiro Valber e encobriu Emerson Ferreti. O êxtase rubro-negro durou apenas oito minutos, quando o Tricolor chegou ao empate.>
Aos 35 minutos, a defesa do Vitória vacilou e Marcone mandou contra o próprio gol. Titular no jogo, o goleiro Paulo Musse disse que fez o possível para evitar o gol contra. "O Pingo chutou a bola para a frente e não viu que Marcone estava próximo. A contusão de Marcone prejudicou um pouco, ele não saiu do lance e a bola entrou. Ainda tentei fazer a defesa, mas não consegui", contou após a partida.>
No final do primeiro tempo, falta para o Vitória. Fernando cobrou e contou com o desvio da zaga do Bahia para colocar o Leão na frente novamente. Dois dos grandes personagens daquela partida histórica foram os técnicos Evaristo de Macedo, do Bahia, e Arturzinho, do Vitória, que protagonizaram comportamentos completamente distintos à beira do campo. >
O comandante tricolor manteve-se calmo durante quase toda a partida. Parado próximo à linha lateral, de braços cruzados e em silêncio, Evaristo só demonstrou alguma reação quando o Bahia sofreu gols. Do outro lado, Arturzinho era o completo oposto. Desde o apito inicial, percorreu a área técnica com energia, gesticulando e incentivando os jogadores o tempo todo.>
Relembre o último confronto Ba-Vi realizado em um 2 de julho
Na segunda etapa, os rubro-negros jogaram com o "regulamento debaixo do braço". Com o Esquadrão em cima, os mandantes contaram com as defesas de Paulo Musse para segurar o jogo. Após as expulsões de Moura, do Vitória, e Jean, do Bahia, a partida foi decidida nos minutos finais. Aos 48 minutos do segundo tempo, Cláudio driblou Emerson e empurrou a bola para o gol vazio. "Quanto custou ao Vitória este mágico e inesquecível lance? Valeu nada menos que o título de campeão baiano de 2000", escreveu o CORREIO à época.>
Apesar das posturas diferentes durante o jogo, os técnicos de Bahia e Vitória demonstraram respeito mútuo ao final da partida. “Quero dar parabéns ao Vitória porque ganhou o título em campo e a conquista foi merecida. Não adianta falar mais nada”, declarou Evaristo.>
“Tenho Evaristo de Macedo como referência. Ele é um professor e sempre admirei o seu trabalho. O treinador do Bahia é um vencedor. Hoje foi o meu dia. Vencedor e vencido estão de parabéns pelo espetáculo”, disse Arturzinho.>
Dias antes da final, o Vitória enfrentava uma grande dúvida: quem estaria no gol da equipe. O titular Jean sofreu uma lesão no músculo infra-espinhoso do braço direito a menos de uma semana da partida. Embora a recuperação fosse quase impossível, ele tentou até os últimos instantes reunir condições de jogo. Quando percebeu que não seria possível, desabou em lágrimas no vestiário.>
"Foi duro quando senti que não dava mesmo. Tentei até convencer o doutor Ivan Castillo que atuaria assim. Não houve jeito e tive que entregar os pontos. Ficaria difícil jogar, pois o goleiro trabalha muito na reposição da bola e eu não teria condições de fazer um movimento perfeito. Entrar em campo fora das condições não era bom", contou Jean.>
O zagueiro Flávio Tanajura lembra que Jean foi testado até pouco antes do jogo. Para o goleiro, a partida era especial: ele havia trocado o Bahia pelo Vitória recentemente. Muito abalado, Jean permaneceu no vestiário e sequer assistiu aos primeiros minutos da final. Só foi acompanhar o jogo depois do apito inicial, da cabine dos cinegrafistas.>
"Fiquei muito nervoso, mas quando o Vitória fez gol, me tranquilizei mais. Em nenhum momento duvidei duvidei que o campeonato seria do Vitória. Tivemos a melhor campanha e merecíamos o título", disse Jean em meio às comemorações.>
Coube a Paulo Musse defender o gol rubro-negro. Hoje preparador de goleiros do clube, ele não apenas deu conta do recado como também foi eleito o melhor em campo pela imprensa. Cria da base do Vitória, Paulo havia feito apenas cinco jogos como profissional até então, mas contou com a benção de Jean, que emprestou suas luvas, para produzir uma atuação histórica. >
"Lembro-me bem das suas palavras: ‘não vai dar para mim e você vai jogar. Tenha fé em Deus que tudo dará certo’. Elas me comoveram bastante. Dedico o título a ele e espero que Jean volte o mais rápido possível. Ele é o meu ídolo", destacou Paulo. >
Ao CORREIO, Flávio Tanajura e Emerson Ferreti relembraram o confronto. Os dois começaram como titulares na final, que teve um sabor diferente para ambos. Enquanto o ex-zagueiro do Vitória fazia sua última partida pelo clube, o atual presidente do Bahia entrava em campo para sua primeira decisão com a camisa tricolor.>
"Foi o meu último jogo pelo Vitória e meu 5° título estadual. Lembro do famoso desabafo de Marcone, grande amigo meu, falando que corria sangue rubro-negro nas veias dele, uma galera vindo da base muito identificada com o clube e uma torcida muito vibrante e apaixonada", disse o ex-defensor rubro-negro.>
Já o antigo goleiro do Bahia confessa não se lembrar muito do jogo. "Lembro do terceiro gol que tomei. Quando acabou o jogo, fui provocado por pessoas do Vitória que passaram por mim, falaram um monte de merda, mas isso é do jogo, não aconteceu nenhuma confusão. Eu lembro de todo mundo triste no vestiário", citou.>