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Bahia teve quase 2 mil internações por arma de fogo em 2024; 98% das vítimas são negras

Dados são da terceira edição da pesquisa Custos da Violência Armada, elaborada pelo Instituto Sou da Paz

  • Foto do(a) author(a) Maria Raquel Brito
  • Maria Raquel Brito

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 08:00

Cápsulas de balas
Cápsulas de balas Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

No último dia 5 de julho, a apóstola Carine Carvalho dava carona a um conhecido depois do evento gospel Canta Bahia quando foi abordada por um grupo de homens armados na Engomadeira. Seu marido, o pastor Manoel Carvalho, mostrou a Bíblia aos criminosos, mas não adiantou: o carro em que estavam foi alvejado, e Carine foi atingida por um tiro na cabeça. Ela passou mais de dez dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e segue internada cinco meses após o crime.

O caso da apóstola reflete a incidência da violência armada na Bahia. Em 2024, o estado teve a quarta maior taxa de internações por arma de fogo em todo o país. Foram 1.855 internações, o equivalente a 12,5 internações por grupo de 100 mil habitantes. Os dados são da terceira edição da pesquisa Custos da Violência Armada, elaborada pelo Instituto Sou da Paz e lançada nesta quinta-feira (18).

Carine Carvalho está internada há cinco meses por Reprodução

A grande maioria das vítimas de armas de fogo no estado é negra, representando 98% das internações - 16 pontos percentuais acima da taxa nacional, que é de 82%. Em relação à idade, o perfil das vítimas se assemelha ao perfil nacional, formado principalmente por jovens de 15 a 29 anos (50%) e adultos de 30 a 39 anos (19%).

Em todo o Brasil, apenas em 2024, os hospitais brasileiros internaram 15,8 mil pessoas para o tratamento de ferimentos provocados por armas de fogo, o que gerou um custo de R$ 42,3 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Na última década, R$ 556 milhões dos recursos federais destinados à saúde foram gastos com internações hospitalares para tratamento de lesões provocadas por violência armada, uma média de R$ 56,6 milhões por ano. A pesquisa não tem informações sobre custos por estado.

De acordo com Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, o número de internações e seus custos vêm reduzindo nos últimos anos, mas continua sendo um valor alarmante. “Ainda há uma cifra muito importante gasta pelo SUS [Sistema Único de Saúde] e destinada às internações para tratamento de ferimentos por arma de fogo. Se a gente olhar a década, de 2015 até 2024, o SUS despendeu meio bilhão para tratamento de violência armada”, reforça.

Ela explica ainda que esses números podem ser ainda maiores, visto que o cálculo do levantamento se restringe aos gastos federais - já que não há dados públicos que permitam mensurar o uso de recursos estaduais e municipais que integram o SUS nos casos que envolvem violência armada – e não inclui atendimentos ambulatoriais em unidades de saúde relacionados a ferimentos por arma de fogo que não necessitam de internação, nem as reabilitações físicas e psicológicas posteriores à alta hospitalar, pois “há falta de informações desagregadas que permitam calcular esses valores”.

Onde esse dinheiro poderia estar

As internações por violência armada possuem custos cerca de 80% maiores do que os de agressão por objeto cortante e por agressão física, tipos mais frequentes ao lado da arma de fogo na prática de agressões. Isso porque, devido à alta letalidade, os ferimentos causados por arma de fogo exigem procedimentos de maior complexidade na saúde, que são também mais caros.

O custo médio de uma internação para tratamento de lesão por arma de fogo foi de R$ 2.680,00 em 2024, 159% a mais que o gasto federal com saúde per capita no mesmo ano, que foi de R$ 1.033,57.

Os gastos direcionados ao tratamento das vítimas consomem recursos que poderiam ser investidos, por exemplo, em: 42,3 milhões de testes de HIV; 10,3 milhões de hemogramas completos; 4,5 milhões de radiografias de tórax; 74 mil sessões de quimioterapia para tratamento do câncer de mama; 39,8 mil sessões de quimioterapia para tratamento do câncer de próstata; 77,5 mil partos cesáreos e 1,7 milhão de ultrassonografias obstétricas.