Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Bruno Wendel
Publicado em 2 de maio de 2025 às 05:30
Até outro dia, o cenário caótico da segurança pública na Bahia era protagonizado pela rivalidade entre o Comando Vermelho e o Bonde do Maluco, principalmente em Salvador. No entanto, neste enredo, enquanto o CV e o BDM derramavam sangue de cada lado, um personagem foi crescendo, a ponto de virar outra grande força antagonista desta história, A Tropa. >
Nesta semana, a facção ganhou notoriedade através de uma aliança, ao que tudo indica, com uma das dez maiores organizações criminosas do mundo, o Primeiro Comando da Capital (PCC). O episódio ficou conhecido pela queima de fogos em vários pontos da capital baiana na noite de terça-feira (29), e levou até o governador Jerônimo Rodrigues a comentar sobre assunto. >
A Tropa é chamada também de Tropa do A, mas já foi Ordem e Progresso (OP) e “Tudo 5” e foi fundada em 2019 por Thiago Adílio dos Santos, o Coruja. Na época, ele foi apontado pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) como o criminoso mais procurado de Salvador e foi preso na comunidade de Jardim Caiçara, controlada pelo Comando Vermelho, na cidade carioca de Cabo Frio, onde vivia numa casa simples para o padrão que ostentava. Coruja foi cria do extinto Comando da Paz (CP) na região da Liberdade. No entanto, ele voou mais alto e reuniu outros integrantes, formando seu próprio bando, a OP, que mais à frente virou A Tropa. >
Segundo a Polícia Federal, a facção passou a movimentar milhões e conquistou espaços que antes pertenciam ao CP e ao BDM, como as áreas do Sieiro, Caixa d’Água, Curuzu, Pero Vaz e Santa Mônica. Coruja foi acusado de comandar uma chacina em janeiro de 2013, quando cinco pessoas foram assassinadas no bairro da Caixa d’Água. O traficante acabou solto por uma decisão judicial. >
A expansão de A Tropa marcou a extinção do CP e a chegada do CV na Bahia, ao mesmo tempo em que o BDM já estava consolidado como a maior organização criminosa do estado. Mas em 2020, Coruja, que estava novamente no Rio de Janeiro, teria sido capturado pelo CV em uma emboscada numa favela carioca. >
Na ocasião, fotos e vídeos mostraram um homem, que seria o traficante, dominado por um grupo armado, antes de desaparecer sem deixar rastro. A morte dele teria sido encomendada pelo CP como condição para união com a facção carioca. Thiago continua desaparecido até hoje.>
Atualmente, A Tropa é liderada pelo traficante Fagner Souza da Silva, o Fal. Em 22 de abril de 2021, ele foi esfaqueado dentro do Presídio Masculino de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata escura. Fal foi golpeado na cabeça por um rival. Na ocasião, ele foi socorrido para o Hospital Geral do Estado.>
Em fevereiro de 2022, o grupo foi responsável por liderar uma rebelião na Penitenciária Lemos Brito, também no complexo, onde cinco detentos morreram e pelo menos 17 ficaram feridos. Já em janeiro do ano passado, integrantes do BDM mataram um jovem que usava uma camisa com desenho do Mickey Mouse – o personagem foi associado como um dos símbolos de A Tropa.>
Moradores de bairros como São Marcos, Pau da Lima, Jardim Cajazeiras e Sussuarana foram surpreendidos com uma intensa queima de fogos de artifícios na noite de terça-feira (29), em Salvador. Facções criminosas já utilizaram fogos de artifício para comemorar a chegada de lotes de drogas e até aniversário de liderança. >
Desta vez, foi diferente. Em vídeos que a reportagem teve acesso, é possível ver uma intensa queima de fogos enquanto traficantes afirmavam que determinados bairros passavam a ter a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC). “Sussuarana agora é PCC, viu?” fala um traficante em vídeo. “Baixa da Paz agora é PCC, 1533, viu”, grita outro criminoso enquanto comemora a virada para facção paulista. >
De acordo com uma fonte da Secretaria de Segurança Pública, a ‘Tropa do A’, que atua nesses territórios, teria se integrado ao PCC.>
“Houve um rompimento entre a Tropa do A e o Comando Vermelho, que antes estavam alinhados. Agora, como a gente recebeu em vídeos, a facção teria se integrado ao que chamam de PCC da Bahia. Os fogos, além da comemoração, seriam para deixar claro a nova posição da Tropa do A, o que pode acirrar o clima entre as organizações criminosas na cidade”, diz, sem se identificar. >
A união das facções faz com que o PCC absorva a Tropa do A, bem como o controle do tráfico em bairros como São Marcos, Pau da Lima, Jardim Cajazeiras e Sussuarana, que tinham a atuação da facção baiana. >
Nesta quarta-feira (30), o governador Jerônimo Rodrigues (PT) comentou sobre a provável união das facções. Questionado sobre o fato, ele afirmou que cuida apenas da sua parte. >
“Eu trato do meu papel, eles cuidam deles, se preparam para a gente poder dar conta da responsabilidade. Estou fazendo um concurso, estou abrindo capacitação, estou comprando equipamento, entregando armamento, nossa palavra é essa. [...] Eu falo da minha parte, eles se cuidam dele porque eu estou em cima dessa ação”, respondeu Jerônimo em resposta ao portal Comunidade On. >