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No rosto, na voz e na alma: fãs de ontem e de hoje celebram o retorno do Fantasmão

Banda acumula legião fiel de fãs desde 2006; só no Orkut eram mais de 800 comunidades

  • Foto do(a) author(a) Maria Raquel Brito
  • Maria Raquel Brito

Publicado em 20 de outubro de 2025 às 05:00

Show de retorno do Fantasmão em Salvador
Show de retorno do Fantasmão em Salvador Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Em 2007, um amigo do fiscal Jordson Souza lhe deu um CD de presente. “Eu acho que você vai gostar, tem uma pegada meio louca”, foi o que Jordson ouviu na ocasião. Assim que deu play, sentiu sua vida mudar e nunca mais deixou de acompanhar a tal banda. “Virou paixão, eu seguia 20 páginas deles no Orkut”, conta o fiscal. E lá se vão quase 20 anos de amor pelo Fantasmão.

Neste domingo (19), ele chegou com duas horas de antecedência no Parque da Cidade para prestigiar o show de retorno da banda, que marca a volta de Edcity aos vocais do grupo. Acompanhado da esposa Giovanna e da filha Letícia, de 18 anos, os três com a famosa pintura branca tomando metade do rosto, ele mal conseguia segurar a ansiedade. A admiração passou para toda a família: Letícia, que cresceu ouvindo em casa, diz que Fantasmão é “essência e vivência”. Giovanna, que antes se irritava com a obsessão do marido, hoje também é fã.

“Todos os shows que eles faziam, Jordson baixava os CDs, comprava a mídia, ia para a lan house pesquisar. Às vezes Fantasmão fazia dois shows no mesmo dia e ele baixava os dois. Eu perguntava: ‘menino, que loucura é essa?’”, diz. “No começo eu brigava, mas depois passei a escutar e fui gostando, até que virou paixão também.”

No anfiteatro, era comum ver pessoas com o rosto pintado, em homenagem ao estilo adotado pelo grupo desde 2006 por Arisson Marinho/CORREIO

A dedicação de Jordson se assemelha à de muitos outros fãs apaixonados pelo Fantasmão. Prova disso foi o adiamento do show de retorno, que aconteceria inicialmente na Praça da Cruz Caída no dia 21 de setembro, mas precisou ser adiada por risco de superlotação. Pouca coisa explica a conexão que um fã sente em relação ao seu ídolo, a ligação que atravessa gerações, desafia os limites geográficos e faz despertar a nostalgia. Milena Mascarenhas, de 27 anos, que o diga. Integrante do fã-clube “A cidade é nossa”, que surgiu no Facebook em 2009, ela passou a adolescência ouvindo a música da banda.

Quando souberam do retorno, ela e os outros fãs reviveram a comunidade e fizeram de tudo para presenciar o show. No caso dela, nem o trajeto de 115 quilômetros de Feira de Santana para cá foi impedimento. E nem comemorações familiares. “Abri mão do aniversário do meu irmão e estou aqui por Edcity”, conta. Para outros membros do clube, as distâncias foram maiores: teve gente vindo de Catu, Ribeira do Pombal e Candeias.

Prestes a subir no palco do anfiteatro, Edcity sentia o coração bater mais forte e um frio tomar conta na barriga. A ansiedade era mais que positiva. Vestido com a mortalha clássica do grupo e com o rosto também pintado de branco, mal via a hora de olhar nos olhos dos fãs. “Se não fosse por eles, esse momento não aconteceria. Porque eles pediram de forma contundente esse retorno, essa turnê, e isso é um presente para essas pessoas. É a realização do sonho de todos os fãs de verdade.”

O anfiteatro repleto de crianças e adolescentes com rostos pintados de branco refletia uma percepção que o vocalista já tinha: a de que a influência do Fantasmão continuaria sempre através dos fãs.

“É impressionante, porque às vezes, em algumas reuniões, falavam: ‘a gente precisa renovar o público, temos que ver’, e eu falei: ‘fique tranquilo, porque o público se renova automaticamente’. São os filhos, os netos, os sobrinhos dos verdadeiros fãs. O público vai se renovar automaticamente. São todas as faixas etárias, desde criancinhas até os idosos, e isso não tem preço”, diz.

Se a pintura branca e as mortalhas foram alguns dos diferenciais do Fantasmão, o que conquistou mesmo a legião de fãs do grupo foi a disposição deles em amplificar as pautas das comunidades de Salvador, das mazelas à potência do povo. Só no Orkut, eram 810 comunidades dedicadas a eles, uma quantidade expressiva para a rede social.

Foi por conta dessa vontade de mostrar a realidade da periferia que Jéssica Carolina, pasteleira de 33 anos, virou fã da banda. No show, entre coreografias e lágrimas, ela não conseguia segurar a felicidade de vê-los juntos novamente. “Eles puxam o que a gente precisa. Ninguém ouve a gente, mas através dele o sistema pode ouvir”, afirma ela, que vestia uma camisa estampada com o rosto de Edcity e os dizeres “Fantasmas existem”.

A coordenadora pedagógica Mariana Miranda, de 42 anos, e o professor de biologia Edson Matos, 36, concordam. Segurando um cartaz que dizia “eu nunca vou te abandonar, Fantasmão”, os dois defendem que a banda é o ato de pagode baiano que mais traz crítica e consciência social.

“Resistência inclusive de uma camada que é muito menos favorecida e pouco falada. Fantasmão traz isso em forma de cultura, fala sobre essas camadas pouco enxergadas pela sociedade em forma de arte”, diz Edson. “Estar aqui hoje é um ato de resistência e de subversão”, completa Mariana.

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