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Larissa Almeida
Publicado em 11 de abril de 2024 às 19:51
O excesso de velocidade é a principal hipótese da causa do tombamento do ônibus da empresa RM Viagens e Turismo na BR-101, que deixou nove pessoas mortas na madrugada desta quinta-feira (11), na altura de Teixeira de Freitas, no Sul da Bahia. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que investiga o caso junto com a Polícia Civil, o laudo pericial ainda não foi concluído para determinar a causa do acidente, mas “incialmente está sendo considerada a hipótese de velocidade incompatível com a via”, diz a pasta em nota. >
A passageira Vânia Mathias de Jesus, que estava acordada quando o acidente aconteceu, acredita que cocos secos na estrada e o farol de um caminhão que trafegava no sentido contrário também podem ter influenciado a ocorrência do acidente. “Estava acordada, passou acho que um caminhão, um carro grande, cruzou na curva, porque a gente tombou perto de uma curva, cruzou com o caminhão e acho que o farol atrapalhou ele, porque eu estava no 'panorâmico' em cima e me cegou. E a pista estava com muita coisa redonda e depois que nós vimos que eram cocos secos. O motorista tentou voltar para pista de novo, mas a roda traseira caiu na calha de chuva e o ônibus virou", contou, em entrevista ao programa Encontro, da TV Globo. >
Ao ser questionada se os cocos secos e o farol alto serão investigados como possíveis fatores que resultaram no tombamento do ônibus, a PRF disse que as declarações da vítima ainda não foram confirmadas e reiterou que a investigação inicial aponta para o excesso de velocidade. >
O especialista em trânsito Luide Souza adianta que é pouco provável que os cocos secos tenham influenciado o acidente “O que chama atenção deste acidente foi o horário: logo ao amanhecer, o que sugere como possíveis causas o sono e/ou a luz do sol ofuscando o motorista”, afirma. >
Riscos do farol alto >
Luide Souza aponta que o uso de faróis altos na mesma direção já configura risco para outros motoristas perderem a trajetória do veículo e se envolver em acidente. E esse risco é elevado quando o veículo que trafega no sentido oposto estiver com os faróis altos. Ele aponta que a Lei do Farol delimita claramente quando o mecanismo deve ser ou não usado. >
“O uso do farol baixo é obrigatório nas rodovias de pista simples. O farol alto só deve ser utilizado em vias não iluminadas e, ao cruzar com outro veículo, o motorista deve mudar para farol baixo para evitar o ofuscamento. Outro uso do farol baixo, independentemente do local onde esteja trafegando, é quando ocorre chuva e neblina. Neste último caso, o tipo de farol mais recomendado é o farol de neblina”, esclarece. >
Ainda de acordo com o especialista, um condutor pode evitar um acidente quando a luz do farol de outro veículo incidir sobre seu rosto. “[Basta] procurar não olhar diretamente para o farol do veículo que vem em sentindo contrário para não ser ofuscado e guiar o seu veículo usando a linha do acostamento como parâmetro”, aconselha. >
A legislação de trânsito prevê multa de R$ 130,16 e quatro pontos na CNH para o motorista que deixar de manter a luz baixa durante o dia, nas circunstâncias e nos locais onde ela é obrigatória, sendo esta uma infração de natureza média. Enquanto isso transitar com o facho de luz alta, de forma a perturbar a visão de outro condutor, é infração grave e gera multa de R$ 195,23 e cinco pontos na habilitação.>
O motorista que dirigia o ônibus da empresa RM Viagens e Turismo no momento em que o veículo tombou na BR-101, afirma que tentou desviar de outro veículo quando o acidente aconteceu. Identificado como Carlos Alberto da Silva, ele contou que já está aposentado e trabalhava porque precisava, mas já conhecia a estrada há bastante tempo. >
“Um carro vinha ultrapassando outro, ou um caminhão, não deu para ver. Foi muito rápido. Então, eu tentei tirar dele para não bater de frente com um carro menor. E no acostamento tinha muito coco, [...] ao frear e tentar sair, o ônibus escorregou a dianteira e foi onde ele caiu na vala. Hoje, fim de carreira, me acontece uma tragédia dessas”, disse ele, visivelmente abalado, em entrevista à TV Santa Cruz, da Rede Bahia. >
A versão do motorista é contestada por Moisés Damasceno, delegado titular da 8ª Coorpin/Teixeira de Freitas. Ele teve acesso às imagens do ônibus durante o trajeto do Rio de Janeiro até o ponto do acidente e descarta que tenha existido necessidade de desvio, como relatou Carlos Alberto. >
“O vídeo é bem claro. Uma pessoa que vinha logo atrás e a poucos metros do ônibus e, apesar da velocidade que ele desenvolvia, não conseguia alcançar o ônibus. E, mais a frente, ele passou por uma van, que vinha em sentido contrário, e fica bem claro que no momento que aconteceu o acidente o ônibus não vinha passando ou se encontrou com veículo realizando ultrapassagem. Então, isso vai para o inquérito policial e esse vídeo vai ser muito importante”, declarou.>
*Com orientação da chefe de reportagem Monique Lôbo>