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Carol Neves
Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 18:02
Com a promessa de endurecer ainda mais a política migratória em 2026, o governo do presidente Donald Trump anunciou que vai triplicar o valor pago a imigrantes em situação irregular que aceitarem deixar os Estados Unidos de forma voluntária até o fim deste ano. O incentivo passou de US$ 1 mil para US$ 3 mil (cerca de R$ 16,7 mil), segundo informou o Departamento de Segurança Interna (DHS). >
A secretária da pasta, Kristi Noem, apresentou a medida como um gesto de benevolência e afirmou que o aumento tem caráter temporário. “Durante a temporada de Natal, o contribuinte americano está generosamente TRIPLICANDO o incentivo para deixar voluntariamente o país aqueles que estão aqui ilegalmente - oferecendo um bônus de saída de US$ 3.000, mas apenas até o fim do ano”, disse.>
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Ao mesmo tempo, Noem fez um alerta em tom de ameaça aos imigrantes que não aderirem à proposta. Segundo ela, quem permanecer no país sem status legal “deve aproveitar esse presente e se autodeportar, porque, se não o fizerem, nós os encontraremos, nós os prenderemos e eles nunca retornarão”.>
A campanha do governo foi reforçada nas redes sociais do DHS, que classificou o pagamento como uma “oferta de tempo limitado” e um “bônus para ir para casa para as festas”. A publicação ainda traz um aviso: “Estamos riscando nomes da lista dos mal-criados. Não seja o próximo.” A mensagem sugere que o “lar” do imigrante seria o país de origem.>
De acordo com a diretriz oficial, quem optar pelo benefício deverá fazer a solicitação por meio do aplicativo CBP Home, desenvolvido pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. A ferramenta reúne serviços migratórios, incluindo o processo de autodeportação.>
Política de imigração ainda mais rígida>
Enquanto divulga o incentivo financeiro, o governo Trump prepara uma ampliação expressiva das ações de fiscalização e remoção de imigrantes a partir do próximo ano. O chamado “czar da fronteira” da Casa Branca, Tom Homan, afirmou que as estatísticas de prisões e deportações “vão explodir” em 2026, mesmo após um 2025 marcado por números recordes de remoções.>
Desde o início do mandato, Trump autorizou o envio de agentes federais de imigração para grandes cidades americanas, resultando em operações em bairros residenciais e confrontos com moradores. Até agora, embora tenham ocorrido ações de impacto em empresas, as autoridades vinham evitando fiscalizações mais amplas em fazendas, fábricas e outros setores considerados estratégicos e dependentes de mão de obra imigrante sem status legal - cenário que deve mudar.>
O plano ganhou fôlego após a aprovação, em julho, de um pacote de gastos pelo Congresso, controlado pelos republicanos. O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e a Patrulha da Fronteira deverão receber cerca de US$ 170 bilhões em recursos adicionais até setembro de 2029, um salto significativo frente aos orçamentos anuais atuais, estimados em cerca de US$ 19 bilhões.>
Segundo integrantes do governo, o dinheiro permitirá a contratação de milhares de novos agentes, a abertura de centros extras de detenção, o uso ampliado de cadeias locais e parcerias com empresas privadas para localizar imigrantes sem status legal.>
A escalada ocorre em meio a sinais de desgaste político. Em Miami, uma das cidades mais afetadas pela política migratória por causa da grande população imigrante, os eleitores elegeram, na semana passada, a primeira prefeita democrata em quase três décadas - resultado que, segundo a prefeita eleita, reflete em parte a rejeição às ações do governo federal.>
A aprovação de Trump especificamente no tema da imigração caiu de 50% em março - antes do início das ações mais agressivas nas grandes cidades - para 41% em meados de dezembro, justamente na principal bandeira de seu governo. Parte da crítica pública se concentra no uso de agentes federais mascarados, no emprego de gás lacrimogêneo em áreas residenciais e em detenções de cidadãos americanos.>
Além disso, Trump revogou o status legal temporário de centenas de milhares de haitianos, venezuelanos e afegãos, ampliando o grupo de pessoas sujeitas à deportação. O presidente prometeu remover até 1 milhão de imigrantes por ano, meta considerada difícil de alcançar em 2025. Desde janeiro, cerca de 622 mil pessoas já foram deportadas.>
O governo também passou a atingir imigrantes em situação legal, com detenções durante entrevistas para obtenção do green card, cancelamento de cerimônias de naturalização e revogação de milhares de vistos estudantis, ampliando o alcance da política migratória adotada pela atual administração.>