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Larissa Almeida
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 06:00
No Corredor da Vitória, o casarão amarelo onde funciona o Goethe Institut Salvador vai se tornar palco de um encontro cultural entre quatro artistas internacionais e o público baiano. Na ocasião, O Dia de Portas Abertas da instituição vai receber, neste sábado (15), pessoas que queiram participar de atividades diversas, como jogos em alemão, experiência em realidade virtual, oficina de crochê, peça de teatro e feira de artesanato, além de experimentar a gastronomia local na Feira Pira. Tudo isso tendo a oportunidade de ver de perto a produção de artistas do Canadá, Alemanha, Nigéria e Inglaterra, que estão fazendo intercâmbio em Salvador há cerca de dois meses. >
A ideia do Dia de Portas Abertas é sediar o encontro, experimentação e diálogo entre linguagens e culturas de diferentes partes do mundo. Foi com essa premissa, inclusive, que surgiu a Residência Artística Vila Sul, um programa de intercâmbio cultural que, anualmente, recebe, em Salvador, 12 artistas de nacionalidades diversas. Nos nove anos de existência, a residência recebeu um total de 134 intercambistas de 36 países. >
Atualmente, um grupo artístico composto por quatro pessoas está encerrando a passagem pela capital baiana. Na cidade desde o dia 20 de setembro, cada um deles viveu uma trajetória personalizada que permitiu realizar diferentes projetos que vão ser expostos ao público no sábado. Todos eles, no entanto, precisaram ter conexão com o tema Meio Ambiente e Sustentabilidade. >
“A residência foi desenhada para focar em temas importantes ao Sul Global, bem como no diálogo com o Atlântico, África e América. Essa é a única residência do Goethe Institut que não recebe apenas pessoas que moram na Alemanha, diferente dos outros três programas que existem no Japão, Índia e Turquia. Não há um foco em produção, então os artistas não precisam realizar um produto final, mas precisam ter entregas ancorados no tema”, explica Leonel Henckes, diretor de operações da Residência Artística Vila Sul. >
Veja os artistas internacionais que vão se apresentar no Goethe Institut Salvador
A artista visual, documentarista e educadora Nyancho NwaNri nasceu na Nigéria e vive atualmente em Cabo Verde. Ao desembarcar na capital baiana, ela conta que ficou fascinada pela energia, pela efervescência cultural da cidade e pela possibilidade de estar próxima de artistas negros. Ainda assim, decidiu ir além e visitou uma comunidade indígena do povo Pataxó em Porto Seguro. >
“É minha primeira vez no Brasil, então muitas coisas mexeram comigo. Quando estive perto do povo Pataxó, na Coroa Vermelha, foi inspirador estabelecer um contato e conexão, porque é diferente apenas ler sobre aquelas pessoas e falar com elas. O curta que fiz para a instalação, no sábado, eu produzi na Nigéria, mas houve uma conexão com as experiências que tive aqui. Vi pessoas que transformaram um lixão em uma reserva e jovens que estão realmente trabalhando para manter a água limpa, tendo como uma das ferramentas a arte”, ressalta. >
O músico britânico Henry Weeks, que passeia entre o jazz, folk, eletrônica e música experimental, viu em Salvador uma musicalidade que define como viva. “Fiquei inspirado com o fato de que a música faz parte do dia a dia das pessoas e todos conseguem falar sobre música. Uma diferença que notei em relação a Alemanha, onde moro, é que nos lugares que vendem instrumento, as pessoas compram caixas de som altas, que vem dessa ideia das pessoas se juntarem para ouvir música”, destaca. >
O entendimento da musicalidade como produção urbana contribuiu para a decisão de apresentar, no Goethe Institute, uma performance musical que vai encerrar o evento. Na oportunidade, Henry Weeks vai reunir música improvisada, pixação e pajubá, ao lado do pixador Leo Papel e da performer Celeste Victorio, que vão dar destaque a corpos invisibilizados e a abordar a fluidez das linguagens marginais como formas de resistência e espiritualidade. >
A especialista em teatro Camille Banville, natural do Canadá, por sua vez, vai trazer uma peça teatral nomeada ‘Fofocas Comestíveis’. O projeto, que nasceu quando ela morou no Caribe, coloca os alimentos como personagens principais para discutir a indústria alimentícia e as alternativas ao desperdício. Ela relata que, desde que começou a se interessar pelo tema, ainda no Ensino Médio, ela já ouvia falar sobre os impactos da má relação com os alimentos no Sul Global. >
“Eu fiz esse projeto no Caribe, no México, no Canadá e, agora, no Brasil. É como o fechamento de um ciclo, porque é importante reconhecer que esse é um problema global. No Brasil, alguns personagens vão ser diferentes. Vou, por exemplo, usar o cacau e falar sobre a vassoura-de-bruxa, praga que devastou plantações na Bahia, sendo um reflexo da monocultura”, pontua. >
Já a artista visual, curadora e pesquisadora alemã Karina Griffith vai promover uma oficina de crochê, ideia que surgiu do reencontro com esta arte em Salvador. “O crochê é grande parte da minha ancestralidade guianesa. Sempre me incomodei com a narrativa que dizia que o crochê chegou na Guiana por conta da colonização britânica, que é algo que me recuso a acreditar porque sempre fez parte da nossa cultura. Gosto de pensar nesta como uma prática também indígena e africana, e eu reencontrei e confirmei isso aqui com o trabalho de Juliana Lima, que faz crochê e macramê em uma comunidade indígena no Extremo Sul da Bahia”, relata. >
No sábado, Karina e Juliana vão comandar um estúdio para erros, exposição que apresenta vídeos e instalações que exploram o erro como prática de empoderamento, refletindo sobre as experiências de corpos negros sob vigilância e invisibilidade. A artista exibe ainda um curta-metragem parcialmente filmado em Salvador e obras em crochê que traduzem falhas em gestos poéticos. >
O quê: Dia de Portas Abertas do Goethe Institut Salvador >
Quem: Apresentações de artistas residentes do último grupo da Vila Sul >
Quando: Sábado, dia 15 de novembro, das 13h às 18h30 >
Onde: Goethe-Institut Salvador – Corredor da Vitória >
Quanto: Entrada gratuita e livre para todos os públicos >