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Millena Marques
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 15:03
A família de uma paciente oncológica internada no Hospital da Mulher, em Salvador, denuncia a falta de assistência adequada e o atraso na realização de uma ressonância magnética, exame essencial para a definição do tratamento. Luciene Lúcio Martins Costa, de 59 anos, foi internada na unidade de saúde no dia 26 de novembro. Três dias depois, o radiologista solicitou uma ressonância magnética de urgência. Até esta quinta-feira (4), o exame não havia sido realizado. >
Com histórico de câncer de mama tratado em 2024, Luciene apresentou um agravamento significativo do quadro clínico nas últimas semanas, incluindo dores intensas na cabeça e nas pernas, tonturas, vômitos persistentes há semanas, perda acentuada de peso, fala embolada, três episódios de convulsão e períodos prolongados de inconsciência, tendo recobrado a consciência recentemente.>
De acordo com a filha, Aiala Martins Costa Silva, Luciene descobriu o câncer de mama no início de 2024, realizou a cirurgia em outubro do mesmo ano e estava sendo acompanhada pelo Centro Estadual de Oncologia (Cican). Um mês depois do fim do tratamento com quimioterapia oral, em outubro deste ano, a paciente começou a sentir os sintomas. O primeiro deles foi a dor intensa no cóccix.>
“A médica do Cican não nos disse, em nenhum momento, que se tratava de um câncer que tinha 90% de chance de ser metastático, que poderia se espalhar pelo corpo, e que minha mãe deveria estar fazendo exames do corpo inteiro”, relata Aiala. No Hospital da Mulher, Luciene recebeu o diagnóstico de que o câncer se espalhou para o cérebro.>
Antes disso, Luciene chegou a ser atendida em duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Salvador. Ela só foi encaminhada ao Hospital da Mulher após conseguir a regulação. “A gente correu para a Defensoria Pública, procurou advogado, entrou na Justiça. O juiz liberou a liminar e, depois de uma semana, conseguimos a regulação”, conta Aiala.>
Segundo a filha, Luciene foi atendida no Hospital da Mulher como paciente paliativa — pessoa com doença grave, crônica e que ameaça a vida, cujo foco do tratamento é o alívio dos sintomas, da dor e do estresse, e não apenas a cura. A queixa da família é que Luciene não passou por médicos especializados. “Ela foi atendida pelo médico de plantão, que já mandou ela para os cuidados paliativos”, disse.>
A filha ainda relata que o médico radiologista solicitou, no dia 29 de novembro, com urgência, uma ressonância magnética de crânio, que é um exame indispensável para esclarecer o quadro neurológico da paciente e permitir o início de radioterapia paliativa, único procedimento que poderia melhorar sua qualidade de vida e possivelmente controlar o avanço da doença. O exame, no entanto, nunca foi feito.>
“A gente está vendo que eles estão empurrando com a barriga, que está tendo negligência. Eles a receberam como uma paciente oncológica, uma paciente com problema no cérebro, e que já vai morrer. A gente está considerando isso como eutanásia”, disse a filha. Considerada crime no Brasil, eutanásia é o ato de abreviar intencionalmente a vida de uma pessoa para aliviar o sofrimento.>
A filha relata que está na Chapada Diamantina, sem condições financeiras de retornar imediatamente para Salvador, enquanto o irmão acompanha a mãe sozinho. Ela afirma que a família está “completamente desamparada” e pede a intervenção urgente das autoridades de saúde, da Defensoria Pública e de demais órgãos competentes.>
“Minha mãe está sofrendo, sem diagnóstico completo e sem o exame que pode indicar o único tratamento possível. Não podemos aceitar que ela seja colocada em cuidados paliativos sem que os exames básicos sejam feitos. Precisamos de ajuda urgente”, afirma Aiala.>
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que administra o Hospital da Mulher e o Cican, foi procurada na manhã desta quinta-feira (4), via e-mail. Não houve resposta até a publicação desta matéria.>