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Larissa Almeida
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 05:30
Maior que a velocidade máxima permitida na Av. Tancredo Neves, capaz de destelhar casas e até dificultar o caminhar de uma pessoa adulta na rua. Essa foi a força máxima dos ventos que acometeram Salvador nos últimos dias e chegaram a registrar 75 km/h na última quarta-feira (22), de acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal). A ventania foi tão forte que causou transtornos em diferentes pontos da cidade, com casos de quedas de árvores e interrupção do serviço de energia.
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Entre segunda (20) e quinta-feira (23), a Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman) operou na remoção de 23 árvores que caíram ao solo durante a tempestade, além de nove galhos e um bambu. O total de 33 remoções em quatro dias foi recorde no ano. Os bairros com maior incidência de ocorrências foram Cabula, São Rafael, Pituba, São Marcos, Graça e Piatã. >
Chuvas derrubam árvores na Federação e na Graça e deixam moradores sem luz
“Foi muita chuva em pouco espaço de tempo e uma rajada de vento, que caracteriza o que chamamos de inverno fora de época. Com a chuva, a árvore fica pesada, a raiz fica encharcada e, com a rajada de vento forte, ela tende, em alguns casos, a tombar. Foi o que aconteceu nesses dias. Nem na Operação Chuva, que ocorreu entre abril e junho, tivemos tantos casos”, afirmou Lázaro Jezl, secretário titular da Seman. >
A queda de vegetal que causou maior dano foi na Av. Silveira Martins, no bairro do Cabula, no final da tarde de quarta-feira. Localizada em um condomínio, uma árvore de grande porte caiu no sentido Saboeiro, próximo a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e acabou derrubando um muro, atingindo um carro e obstruindo completamente a via, o que gerou congestionamento no local. Apesar dos transtornos, ninguém ficou ferido. >
Entre quarta e quinta-feira, os ventos também duplicaram o número de atendimentos prestados pela Neoenergia Coelba, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica na Bahia. Em 24 horas, 700 ocorrências provocadas pelo temporal foram atendidas. Segundo a entidade, a maioria dos chamados foi causada pelo contato de vegetação com o sistema e, para normalizar o serviço, foi necessário triplicar a equipe em campo e pedir reforço. >
“Somente em Salvador e RMS, estamos com mais de 500 profissionais em campo para atender esse aumento provocado pelo temporal. Graças à integração entre as distribuidoras da Neoenergia, contamos com o apoio de eletricistas vindos de São Paulo e Rio Grande do Norte para nos ajudar no restabelecimento dos clientes afetados”, destacou Thiago Martins, superintendente técnico da Neoenergia Coelba. >
Em alguns pontos, a distribuidora afirmou que os danos ao sistema elétrico foram severos, exigindo, em casos específicos, a reconstrução da rede elétrica. As situações foram mais complexas na Barra, Graça, Ondina, Cabula, Castelo Branco, São Cristóvão, São Marcos e Itaigara. Em outros casos, os fortes ventos arremessaram objetos em direção aos cabos de energia, como em Alto de Coutos, onde uma placa metálica caiu sobre os fios. >
Também houve transtorno em partes da Pituba. Moradora do bairro, a aposentada Noemi Maia, de 83 anos, ficou incomunicável e perdeu um dia de trabalho. “No final da tarde de quarta, eu tentei acender uma luz e não consegui. Achei que tinha queimado a lâmpada, quando minha vizinha disse que estava sem energia. Hoje pela manhã, amanheci com tudo do mesmo jeito. Meu celular descarregou, não pude falar com ninguém, [...] não pude costurar ou fazer meus artesanatos. Tinho um trabalho para entregar na sexta, mas não vou mais entregar, porque não pude fazer”, lamentou. >
A ventania que fez os soteropolitanos tirarem o casaco do guarda-roupa tem sido resultado da frente fria que estacionou ao longo da faixa litorânea da Bahia. De acordo com a meteorologista Andrea Ramos, dois sistemas estão por trás dos ventos e das chuvas registradas nos últimos dias. >
“Ao longo da faixa litorânea que envolve a Bahia, inclusive Salvador, tem uma situação de uma frente estacionária em alto mar – uma zona de fronteira entre uma massa de ar quente e uma massa de ar fria que não se movem porque nenhuma tem força para empurrar a outra. Ela não só está promovendo ventos fortes, mas também chuvas. Abaixo dessa frente, há uma circulação de alta pressão, que tem esse perfil de gerar essa condição de tempo”, explica. >
Para se ter ideia da atuação desses sistemas, o Porto da Barra, conhecida pelo mar calmo, amanheceu com grandes ondas na manhã de quinta-feira a ponto de algumas pessoas serem vistas surfando. Segundo Guilherme Lessa, professor de Oceanografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), além dos fortes ventos, uma maré de lua favoreceu ondas de até três metros na entrada da baía durante quatro dias seguidos – em dias comuns, a média de altura dessas ondas é de um metro. >
“Quando a maré está alta, as ondas têm maior capacidade de chegar até a praia ou nas partes mais elevadas da praia, o que causa um efeito erosivo, o que derruba barraca de praia e árvores. É improvável que não tenha havido erosão [nesses últimos dias]. O transtorno maior foi em relação à navegação dentro da Baía de Todos os Santos.>
Apesar dos ventos fortes em Salvador, é possível dizer que a velocidades deles é equiparável apenas a de um ciclone, que tem velocidade de 50 km/h a 100 km/h. Um furacão leve tem ventos sustentados entre 119 km/h e 153 km/h; um tornado, entre 105 e 137 km/h; e um vendaval, entre entre 88 km/h e 102 km/h. >
1) Evitar surfe devido à formação de buracos na praia causados pela tempestade >
2) Evitar estacionar debaixo de árvores grandes >
3) Buscar abrigo fixo >
4) Evitar conduzir veículos leves, como bicicletas >
5) Fazer ou solicitar a poda de árvores de médio ou grande porte em propriedades privadas >