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TCP na Barra: 'Mais do que uma sigla, representa uma nova dinâmica das facções', diz especialista

Grupo criminoso do Rio de Janeiro pichou a sigla em pontos próximos ao Farol da Barra

  • Foto do(a) author(a) Elaine Sanoli
  • Elaine Sanoli

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 05:30

Marcas do TCP estão em balaustradas na Barra
Marcas do TCP em balaustrada na Barra Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A inscrição da sigla do Terceiro Comando Puro (TCP) nas balaustradas do calçadão do Farol da Barra, área nobre de Salvador, acendeu um alerta para a segurança pública na capital baiana. Embora ainda seja cedo para avaliar de que forma a inserção do novo grupo criminoso vai afetar o território, uma coisa é certa: a consolidação de mais uma facção altera a dinâmica do tráfico de drogas na cidade, segundo apontam especialistas. 

O coordenador da organização Ideas - Assessoria Popular e articulador do Fórum Popular de Segurança Pública do Nordeste, Wagner Moreira, sugere que a chegada do TCP a Salvador acontece em um contexto de fortalecimento das facções locais. Desde que desembarcou na capital baiana, a facção carioca tem se aliado ao Bonde do Maluco (BDM), que disputa territórios, em grande parte da cidade, com o Comando Vermelho (CV), principal facção carioca. 

Marcas do TCP estão em balaustradas na Barra por Arisson Marinho/CORREIO

"Esse processo acirra conflitos territoriais nos bairros a partir de novos comandos, nova lógica de fornecimento de armas e drogas e mais do que só uma sigla nos muros, representa uma nova dinâmica de organização faccionada, e isso, sim, reflete um novo perigo para a população", afirma. 

Wagner argumenta que a facção, que é a segunda maior do Rio de Janeiro, possui um funcionamento próprio e diferente dos outros grupos criminosos que já estão consolidados em Salvador, pois está atrelado à religiosidade. "O TCP é tido como 'Soldados de Jesus'. É preciso entender como a facção vai se comportar em Salvador, que tem uma dinâmica religiosa e cultural própria, e como esse processo de chegada vai se dar", diz.

O professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Horácio Hastenreiter endossa a ideia de que a inserção de novos agentes na disputa de territórios para o tráfico de drogas aumenta a ameaça à população do local. "A Bahia já é o estado com o maior número de facções no país. A chegada de novas facções não acontece sem disputas e busca de reacomodações, que só aumentam a violência", argumenta. 

Território estratégico

Essa nova possibilidade de organização, no entanto, ainda não possui nuances claras, visto que a chegada do grupo em Salvador é recente, tendo ocorrida em meados de 2024, conforme noticiado pelo CORREIO. O TCP entrou no estado por meio do Recôncavo e região norte, até chegar aos bairros de Mussurunga e Vila Verde na capital.

Apesar de ter aparecido inicialmente em bairros mais afastados da Barra, a chegada a um dos principais cartões-postais da capital baiana não chega a ser uma surpresa. A Barra é um território em disputa que possui, segundo Horácio, um "potencial em termos turísticos" pouco explorado. "Essas novas facções estão chegando também em busca de um mercado consumidor. Salvador tem um processo de turismo forte e vinculado à cultura. Turismo de festas, do carnaval, de lavagens. Dentro desse processo há também um alto consumo de drogas", acrescenta Wagner.

BDM e TCP têm aliança em Salvador por Reprodução

Além disso, a escalada da violência em bairros nobres e turísticos também não é uma novidade. Em julho de 2023, por exemplo, um homem foi encontrado morto dentro de uma caixa de isopor no Porto da Barra. Em dezembro de 2023, uma mulher foi morta em frente ao Farol da Barra. Em janeiro de 2024, um homem foi atingido por disparos após trocar tiros com a polícia na Avenida Centenário. A suspeita é que ele roubou um passageiro na região. Já em março deste ano, um tiroteio assustou os banhistas da praia Porto da Barra, no final da tarde de um domingo.

"Recentemente a gente também tem percebido um aumento de violência no bairro do Rio Vermelho. É importante perceber que a dinâmica faccional tem extrapolado a lógica da periferia e que a violência em Salvador tem alcançado espaços que outrora eram tidos como seguros e resguardados da criminalidade", diz Wagner Moreira.

Ação do Estado

Wagner sugere que não só o comportamento dos grupos terá influência. A consolidação de um novo contexto também exigirá ações de inteligência do Estado, que podem minar ou não esse processo de implantação. Nessa quarta-feira (6), o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), cobrou ações do governo estadual para conter o avanço das organizações criminosas na capital.

"A gente tem uma série de mecanismos para inibir o crime e a marginalidade. Quanto ao tráfico de drogas, que é o que tem nessas áreas, cabe ao governo do Estado, que controla as forças de segurança, em especial a Polícia Civil, identificar os traficantes e fazer a prisão", disse o gestor.

As marcas da facção na balaustrada da Barra foram apagadas, informou a Secretaria de Segurança Pública no mesmo dia em que foram noticiadas.