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Você conhece as “sete vidas” da Boca do Rio?

De palco da Tropicália a pista de skate olímpica, o “bairro dividido” é feito de resiliência, cultura e história

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 26 de novembro de 2025 às 10:57

Praia da Boca do Rio
Praia da Boca do Rio Crédito: Max Haack/Secom

Se você acha que a Boca do Rio é só engarrafamento na Paralela ou o lugar do novo Centro de Convenções, você ainda não pegou o espírito da coisa. A Boca do Rio é um bairro que tem alma, cheiro de maré e uma história que se confunde com a própria memória da música popular brasileira.

Este bairro, cujo nome original era Boca do Rio das Pedras (por causa da foz do rio homônimo), é classificado como um Bairro Negro de Salvador. Sua população, majoritariamente parda (50,49%) e preta (29,56%), é nascida da ocupação por pescadores e de famílias que foram retiradas de áreas nobres, como Pituba e Ondina, na década de 1960.

Onde a baleia dava na praia e a Tropicália nasceu

Muito antes de ser o point de infraestrutura que é hoje, o terreno da Boca do Rio abrigou muita história. A área onde hoje está o Novo Centro de Convenções era, no século XIX, explorada por Manoel Inácio (o Visconde do Rio Vermelho) para a pesca de baleias. Séculos mais tarde, a orla testemunhou uma etapa sombria: a Praia da Armação (que fica no bairro) faz parte de uma área que já foi conhecida como Praia do Chega Nego, um dos principais pontos de desembarque clandestino de pessoas escravizadas em Salvador. Saltando para a década de 1970, o cenário muda radicalmente. Uma das praias do bairro se tornou o destino favorito de uma galera que mudaria o som do Brasil: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia e os Novos Baianos. Não à toa, o local ficou conhecido como “Praia dos Artistas” e, de acordo com muita gente, foi ali - e não no Porto da Barra - que a Tropicália deu seus primeiros passos.

Moradores da Boca do Rio recebem atendimento itinerante da Embasa até sexta-feira (14) por Divulgação/Embasa

A saga do Aeroclube e o novo brilho da orla

Por muitos anos, a paisagem da Boca do Rio foi marcada por um gigante do lazer, o Aeroclube Plaza Show. Inaugurado em 1999, ele era um centro comercial ao ar livre com tudo dentro. Excelentes restaurantes, cinema (UCI), casas noturnas como o Rock in Rio Café, boliche, mini kart e até lojas de abadás do Carnaval fizeram história por muitos anos. Porém, o centro comercial entrou em decadência, enfrentou litígios judiciais e acabou fechando em 2014. Mas a Boca do Rio é feita de renovação! No lugar do antigo complexo, foi inaugurado em janeiro de 2020 o Novo Centro de Convenções de Salvador, adjacente ao Parque dos Ventos. O parque, uma das joias da requalificação, é um convite aberto à diversão, oferecendo uma baita pista de skate, área para Parkour, anfiteatro e áreas de lazer.

A requalificação da orla, o maior projeto de requalificação que a cidade já viu, transformou o bairro. Hoje, a Boca do Rio conta com ciclovias, calçadas largas para caminhada, iluminação em LED e acessibilidade. Pra completar, é lá que todo ano acontece o grandioso Festival da Virada, evento que desloca o eixo das festas de fim de ano em Salvador.

Memória

A Boca do Rio também é um bairro de autoconstrução, onde a ocupação inicial por pescadores era marcada por casas de madeira e pau-a-pique. Mesmo com a modernização, a comunidade local luta para que sua história não seja apagada.

Um grande exemplo dessa luta pela preservação da memória é o Festival de Contação de Histórias da Boca do Rio. Organizado por coletivos locais de forma voluntária, o festival celebra a arte de contar histórias e incentiva a leitura.

Nas origens da Boca do Rio, a pesca era de Xaréus e Bagres e as mulheres, além de venderem produtos prontos, sustentavam a renda doméstica fazendo vassouras artesanais de piaçava. O comércio local é vibrante e conta até com um canal de comunicação, o Boca do Rio Magazine, que visa fortalecer os empreendedores da região.

O lado B

Apesar do glamour da orla revitalizada e dos projetos de mobilidade, o bairro ainda lida com mazelas que o caracterizam como "dividido". Historicamente, a Boca do Rio é uma periferia social, pois a maior parte de sua população é de "baixa a média renda". Enquanto as áreas mais próximas à orla e centrais recebem investimentos em infraestrutura, as áreas mais periféricas do bairro ainda carecem de investimentos.

A Boca do Rio, no final das contas, é um lugar onde o passado de luta e a cultura exuberante se encontram com a modernidade, criando um contraste onde a beleza da orla recém-construída convive lado a lado com as necessidades dos bairros periféricos da cidade. E você? Conhece esse bairro que é a cara de Salvador?

Por @flaviaazevedoalmeida