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Moyses Suzart
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 22:36
Um festival de verdade não se resume ao palco principal com suas atrações de grande porte. Uma festa como o Festival Virada Salvador, os artistas ditam, na verdade, a trilha sonora de quem faz a festa acontecer: ambulantes, fãs, público, catadores, entre outros. Cada um tem sua história, como Arthur Costa, que pela primeira vez pôde subir em uma roda gigante, enquanto Durval Lelys cantava no palco principal. “Foi uma experiência única, que vou levar para a minha vida toda. Festival é isso, né? Precisa marcar”, conta o auxiliar de enfermagem e morador de Brotas. >
Na grade oficial, Durval, Nattan, Nattanzinho Lima, Matheus e Kauan e Psirico iriam fazer o público se emocionar, pular e cair do salto, literalmente. Para esta galera, porém, um festival com esta grandeza chega para dar solução. No Festival Virada Salvador se encontra de tudo, inclusive Havaianas. Vendedores apostam na sandália não pela polêmica recente, mas pela comodidade. Com uma média de três vendas por noite, as mulheres que resolvem estrear aquele salto novo acabam apelando para as sandálias, que custam R$ 40, mas podem cair para R$ 35, a depender do desespero e da quantidade de calos no pé.>
O Festival Virada além do palco
Edvania Santos é uma das vendedoras que está faturando com o calçado. “Eu vendo por R$ 40 sempre que as mulheres chegam reclamando dos pés. Se estiverem com muito calo, eu faço R$ 35”, brinca. Segundo ela, consegue vender de três a quatro pares por dia. Na barraquinha da vendedora ainda dá pra encontrar absorventes, curativos tipo Band-Aid, cola tipo Super Bonder e até óculos “de cria”.>
Além das mulheres de salto, quem vai com o sapato velho que descola a sola também recorre aos produtos. “Primeiro eles compram a cola, quando ela não serve, compram a sandália”, revela Edvania.>
O evento também está transformando a vida do ambulante Marcelo Santos, que há mais de 20 anos trabalha vendendo bebidas em festas populares na capital. Pela primeira vez, ele tem um isopor em que pode colocar cadeado, uma novidade no Festival. “Para muitos isso pode ser pouco, mas transformou nossas vidas. Agora temos este isopor mais robusto, que não quebra e ainda podemos colocar cadeado. O que muda? Posso agora pegar um isopor a menos, encher de bebidas, ir até o palco, vender e não ficar preocupado com roubarem minhas mercadorias, que agora ficam trancadas aqui. Olha como o simples é muito”, disse.>
Marcelo pôde abastecer a sede de Augusto Costa, que foi para a festa curtir Nattanzinho, mas curtiu também Durval, a primeira atração da noite. “O bom deste festival é poder ir ver o que gosta, mas acaba curtindo outras coisas. Não costumo escutar axé, mas Durval foi muito bom, já vou escutar ele amanhã no Spotify”, disse Costa, de 20 anos.>
Augusto é um pouco novo para lembrar dos tempos do Asa de Águia e das inúmeras Trivelas que paravam cidades pelo Brasil. E Durval entrou no palco com a mesma pegada, cativando não apenas seu público, quase coroas com bonés fazendo referência à banda, mas também o público jovem que aguardava atrações mais novinhas, como Nattan e Nattanzinho (não, não é uma dupla sertaneja).>
Durval Lelys puxou o terceiro dia com muito axé das antigas, colocando seu público para cantar clássicos como “Não tem Lua”, “O Asa Arrêa”, “Pequena Eva”, entre outros. “O Asa é um evento. Durval continua sendo um dos melhores cantores de axé. Só vim para ver ele”, disse Isabel Moura, com seu chapéu do Asa. Ao seu lado, Denise foi menos empolgada. “É legal, minha mãe gosta. Eu prefiro Nattanzinho, mas foi bem divertido ver Durval”, replica.>
Eram quase 22h quando, com gritos de “tem cabaré esta noite”, Nattan - com um copo de uísque na mão e o microfone na outra - entrou fazendo o festival cantar em coro. E ele não perdeu tempo. “Estou em uma das melhores cidades do Brasil”. A emoção da sofrência entrou “de com força” no público, desta vez com muitos jovens. A turma do Asa preferiu ir comer um churrasquinho no espaço gourmet enquanto, no palco, o sertanejo prometia escolher cinco pessoas pra beber com ele no palco e depois seguir pra um after.>