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Maysa Polcri
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 15:49
Na última sexta-feira (5), três dias antes de ser demitido, um funcionário baiano do Itaú acreditava que estava no melhor momento da carreira. Tinha feito uma apresentação e estava feliz com os resultados e elogios que recebeu. Mas tudo virou de cabeça para baixo no início desta semana, quando ele descobriu que era um dos cerca de 1 mil trabalhadores demitidos pelo banco. A justificativa de baixa produtividade não convenceu o funcionário, que planeja ingressar com uma ação judicial contra o Itaú. >
O funcionário é desenvolvedor de software e trabalhava no banco há quase três anos. Morador de Salvador, trabalhava de casa para o setor de tecnologia da empresa em São Paulo. "Anualmente temos avaliações feitas pela gestão direta, e as minhas sempre foram ótimas. Estava no meu melhor momento, tinha feito uma grande entrega na sexta-feira. Na segunda, tivemos uma reunião para falar de projetos e, em seguida, fui demitido", conta. >
Só após o desligamento, o funcionário descobriu que tinha o tempo de tela do computador monitorado diariamente. "Eles utilizaram uma métrica de software que mede o tempo de tela. Ou seja, se você ficar com mais de cinco minutos de ociosidade da tela, ela entra em proteção de tela, e começa a contar a métrica. Mas nunca fomos orientados sobre isso", afirma. Segundo o Itaú, as demissões ocorreram por incompatibilidades entre a marcação de ponto e a atividade registrada nas plataformas de trabalho durante o home office. >
O baiano acredita que entrou na leva dos funcionários demitidos em massa ao estudar no mesmo computador que utilizava para trabalhar. "O banco trabalha com tecnologias de ponta, e nós precisamos estudar as novas tecnologias para aplicá-las em algum produto no banco. Eu, como engenheiro de software, tinha a liberdade de estudar no compuador. Na minha inocência, achava que agregava conhecimento para o banco, mas fui penalizado por isso", lamenta. >
Ele teme que seja prejudicado quando for buscar novas contratações. "O que mais me deixou indignado foi a justificativa dada em público pelo Itaú. Isso mancha a nossa imagem. Uma justificativa deveria ter sido apresentada pela gestão direta do funcionário, a cada caso", completa. O funcionário acredita que a demissão em massa tem relação com o desejo do banco de acabar com o home office. >
"Todos nós sabemos que o Itaú quer acabar com o home office. Todos os anos inventam um tema para justificar alguma medida contra esse regime de trabalho", diz. O funcionário afirma ainda que nunca recebeu advertência dos chefes. A maior parte dos funcionários demitidos trabalhavam para os polos do Centro Tecnológico (CT), CEIC e Faria Lima, na cidade de São Paulo. >
A notícia de que o Itaú demitiu cerca de 1 mil funcionários que trabalhavam em regime remoto ou híbrido pegou os profissionais de surpresa. Os desligamentos foram justificados, segundo o banco, pela baixa produtividade no home office. A demissão em massa deixou bancários de todo o país em alerta. O clima é de indignação e receio, já que os funcionários não receberam advertências antes de serem demitidos.>
Os desligamentos desta semana aconteceram sobretudo no estado de São Paulo, mas a demissão em massa repercutiu em todo o Brasil. Na Bahia, a maioria dos bancários trabalha em regime presencial. Os funcionários em esquema home office estão ligados à área de investimentos do Itaú, de acordo com Luciana Dória, diretora da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe. Mesmo assim, o momento é de tensão. >
"As nossas negociações e acordos são nacionais, então, quando um sindicato é afetado, todos são atingidos. Existe uma parcela considerável dos funcionários do banco, que trabalha em home office, que ficou amedrontada com as demissões", afirma Luciana Dória. Na terça-feira (9), a Comissão de Organização dos Empregados (COE) se reuniu com o banco e solicitou a revisão das dispensas. A empresa aceitou apenas avaliar o caso das pessoas adoecidas.>
A diretora da Federação dos Bancários da Bahia ressalta que as demissões não foram comunicadas ao sindicato, o que vai de encontro ao entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. "O STF, no Tema 638 de repercussão geral, estabelece a necessidade de participação sindical em casos de demissões em massa. Dessa forma, ao não manter qualquer diálogo com o movimento sindical bancário, a postura do Itaú revelou-se arbitrária e desrespeitosa à essa decisão constitucional", diz Luciana Dória. >
Em julho deste ano, funcionários do banco Itaú em Salvador realizaram protestos contra o fechamento de três agências na capital baiana, localizadas nos bairros de Brotas, Cabula e Imbuí. Cerca de 73 mil correntistas precisaram ser transferidos por conta do encerramento das atividades das unidades. Só neste ano, o banco encerrou as atividades de 130 agências no país. Assim como outros que promovem fechamentos de unidades, o Itaú justifica a ação pelo aumento de serviços bancários feitos por canais digitais. >
Fechamento de agências na Bahia