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Monique Lobo
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 18:20
Uma jovem de 26 anos morreu no Hospital Regional de Irecê, no último sábado (27), após chegar ao local com fortes dores abdominais. Ao dar entrada, na quinta-feira (25), ela foi colocada em uma maca no corredor da unidade. >
Quem relatou a situação foi o irmão de Thainá Steffani Barbosa Oliveira, em uma publicação no Instagram. Tulio Barbosa Oliveira classificou o atendimento no hospital como "descaso" e "negligência". >
De acordo com Tulio, Thainá chegou por volta das 9h e passou pela triagem e pelo atendimento médico. "Logo após, foi para o corredor, aguardar a realização da TC [tomografia computadorizada] do abdômen", contou. Ainda segundo o irmão, ela esperou duas horas para fazer o exame. E precisou esperar mais de 24 horas para receber o resultado. >
Durante a espera pelo diagnóstico, a jovem continuou no corredor do hospital. "Ela continua na unidade, em uma maca no corredor, com intensas dores, bastante vômito, palidez, com fome e com sede", acrescentou. >
No seu depoimento, Tulio destacou que sua irmã foi bem atendida pelos médicos e enfermeiros. "Mas isso não minimiza o descaso por parte do hospital", completou.>
"Como um paciente com dor aguda terá condição de ficar mais de 30 horas em uma maca no corredor. Com dor, sem comer e sem beber. Onde estão os direitos, o respeito e a dignidade da pessoa? São perguntas que merecem respostas", disparou.>
Após uma piora do quadro de saúde, a jovem foi intubada e encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de acordo com informações de familiares reveladas pelo Jornal da Chapada. Com um novo agravamento, a equipe médica decidiu encaminhar Thainá para o centro cirúrgico para um procedimento de emergência. Ainda segundo as informações, durante a cirurgia, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu. >
Familiares também relataram ao portal que a jovem apresentou um quadro de apendicite que teria evoluído para um estrangulamento e o que a intervenção tardia pode ter contribuído para o fim trágico. >
O Hospital Regional de Irecê integra a rede de saúde do Governo do Estado e é gerido pelas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda não respondeu. >
Em nota, a Osid, através da direção do hospital, informou que foi instaurada uma "Apuração Técnica Interna" para analisar o atendimento prestado à paciente. A instituição também lamentou a morte da jovem. "O hospital manifesta seu profundo pesar pela perda de Thainá e se solidariza com seus familiares e pessoas próximas, permanecendo à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários à família".>
O atendimento vivido por Thainá não é uma exclusividade do Hospital Regional de Irecê. No último domingo (28), os corredores do Hospital Regional de Guanambi estavam lotados. >
Veja os pacientes deixados nos corredores do Hospital Regional de Guanambi
Um vídeo gravado dentro da unidade mostra os enfermos deitados em macas recebendo soro, sendo monitorados por aparelhos ou sendo atendidos na área de passagem. Ao menos dois corredores foram filmados lotados de pacientes.>
O hospital é gerido pelo Governo do Estado, desde 2008. A Sesab também foi procurada para falar sobre a situação do Hospital Regional de Guanambi, mas também não retornou. >
Os dois casos deram ainda mais impacto a uma fala polêmica do governador Jerônimo Rodrigues (PT) sobre a superlotação de hospitais no estado.>
No mês passado, durante uma coletiva de imprensa, Jerônimo falou sobre uma conversa com a secretária de Saúde Roberta Santana e afirmou ter orientado que os pacientes sejam deixados nos corredores.>
"Quando eu vejo no final de semana, que eu peço o relatório à secretária Roberta: 'Roberta, como tá hoje a regulação?'. 'Governador, tem gente nos corredores do [Hospital Geral] Clériston Andrade'. Eu falei: 'Deixe, pede pro Ministério Público me procurar'", disse.>
A fala foi duramente criticada por deputados estaduais e outros políticos. Na ocasião, o ex-prefeito de Salvador e vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, afirmou que o comentário de Jerônimo revela "insensibilidade e desconhecimento" sobre a "gravidade" da situação da saúde pública da Bahia.>
“Jerônimo, o paciente que vai ao Hospital Clériston Andrade ou a qualquer hospital da Bahia não está indo lá fazer turismo, não está indo lá para diversão, está indo lá porque quer sobreviver. Sobreviver. E o governador não consegue sequer entender isso", disparou.>