Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Monique Lobo
Publicado em 31 de julho de 2025 às 05:15
O decreto que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na quarta-feira (30), oficializando a tarifa de 50% para produtos brasileiros, trouxe um certo alívio aos produtores baianos. Isso porque, junto com a ordem de decreto veio, também, uma lista com 694 exceções que serão isentas do acréscimo na taxação. Entre elas, algumas que representam uma importante parcela do que é exportado pela Bahia. >
"Dá um certo alívio. É uma longa lista de exceções de mercadorias importantes para a economia americana e também para a economia brasileira. A gente viu que ficaram de fora dos 50% alguns derivados de celulose, que entram em uma pauta importante da Bahia", explicou o coordenador de Conjuntura Econômica da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI), Arthur Cruz.>
O setor de celulose lidera as exportações baianas para os Estados Unidos e, de acordo com informações do superintendente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, 12% da celulose baiana que vai para fora tem os Estados Unidos como destino. >
Alguns derivados do petróleo também entraram na lista de produtos isentos ao acréscimo na tarifa - outro setor que a Bahia exporta para o país norte-americano. Também pularam a fogueira alguns minérios, metais preciosos e o sisal que são fornecidos pelos baianos. >
Veja quais são os setores baianos que ficaram isentos da taxação americana
Frutas ficam de fora>
Mas nem tudo são flores. Setores importantes para a Bahia foram afetados. Das frutas, apenas a laranja ficou isenta. Mas a manga, por exemplo, que é o carro-chefe do setor e tem 60% da produção em todo o estado escoada para os Estados Unidos, de acordo com informações do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Humberto Miranda, vai ser taxada em 50%. >
O mesmo vale para os derivados de cacau, que estão entre os maiores produtos baianos comprados pelos americanos. De acordo com Vladson Menezes, só no primeiro semestre, este setor exportou para os EUA o equivalente a 47 milhões de dólares, ou R$ 261,8 milhões. >
"Lamentavelmente, só foi poupada a laranja, o suco de laranja. Mas a manga, que é um produto importante na nossa pauta, o cacau e derivados ficaram de fora", falou Arthur Cruz.>
O café é outro produto que não entrou na lista de exceções. Antes da oficialização da tarifa, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) já tinha manifestado, em comunicado, a preocupação com a medida. “Representa um grave retrocesso nas relações comerciais entre os dois países que pode gerar impactos extremamente negativos e relevantes para toda a cadeia produtiva do café brasileiro, comprometendo a competitividade das exportações e pressionando os custos operacionais em um momento de reorganização do mercado global”, apontou a entidade. >
Acrescente também produtos químicos, petroquímicos e pneumáticos, os pneus produzidos por aqui. "A gente vai ter uma perda aí de alguns setores", avaliou o coordenador de Conjuntura Econômica da SEI. >
Preço mais baixo para os baianos>
A expectativa, no entanto, é que esses produtos que serão tarifados a partir da próxima quarta-feira (6), quando começa a valer a nova medida nos Estados Unidos, redirecionem parte das suas produções para o mercado interno e isso acabe barateando os produtos nas prateleiras dos supermercados na Bahia. >
"Porque esses produtos, não indo para o mercado internacional, vão ter que ser desovados aqui no mercado interno. E isso pode melhorar a inflação, ou seja, é melhor para o consumidor brasileiro. Embora não seja tão favorável para o exportador", ponderou Arthur Cruz.>
É o que já aconteceu com a manga. Após o anúncio do tarifaço aos produtos brasileiros, o preço da fruta caiu no estado. O quilo da manga que custava R$ 4,22 no Mercado de Juazeiro, no mês de junho, agora custa R$ 1,92, representando uma diminuição de 54%, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento na Bahia (Conab). Em Salvador, a diferença foi de 51% em relação ao mês de junho, quando o preço saiu de R$ 7,64 para R$ 3,70.>
Alguns setores que foram tarifados não conseguem redirecionar toda a sua produção para o mercado local, outros sequer conseguem vender por aqui. Para esses, a negociação continua. Para Arthur Cruz, é necessário um trabalho articulado com o Governo Federal. "O governo federal promete, inclusive, mitigar e trazer algumas medidas com financiamentos e isenções por tempo determinado, até que eles se reestruturem e consigam achar mercados alternativos para esses produtos", disse. >