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Carol Neves
Publicado em 13 de novembro de 2025 às 09:05
Dezessete anos depois da tragédia que comoveu o país, a família de Eloá Pimentel voltou a falar publicamente. A jovem, que tinha 15 anos, foi assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Alves após ser mantida refém por mais de 100 horas em Santo André (SP), em outubro de 2008. O caso voltou aos holofotes com o lançamento de um documentário da Netflix que reúne os depoimentos emocionados dos pais e dos dois irmãos da adolescente. >
Durante o filme, os familiares realizam um dos sonhos que Eloá registrou em seu diário: ir à praia. A cena, que encerra o documentário, mostra todos juntos à beira-mar, como uma homenagem à garota. >
O irmão mais velho, Ronickson Pimentel, hoje policial, fez um desabafo ao lembrar da tragédia. “Para que o nome de Eloá permaneça como símbolo de inocência, e o do criminoso como lembrança da covardia. Sem idolatria de bandido.” >
Família de Eloá Pimentel
No documentário, Ronickson lamenta que Eloá nunca vai conhecer a filha dele. Com voz embargada, ele ainda relembrou o impacto da perda. “Ele (Lindemberg) acabou com a minha família, com nossa vida. Hoje a gente consegue, mas a ferida fica. Como seria se ela tivesse? Não conheceu nem a minha filha! E aí?”>
“Eu me culpava o tempo todo”>
O irmão mais novo, Douglas, também falou sobre o sentimento de culpa que o acompanhou por anos, já que foi ele quem apresentou Lindemberg à irmã.>
“Eu sentia como se a culpa daquilo tudo fosse minha. Então, eu não sabia muito o que falar ali pra ela (a mãe). Não tinha na minha mente o que falar, eu só me culpava o tempo todo.”>
Douglas também relatou uma cena marcante durante o julgamento. “Ele (Lindemberg) passou por mim e deu risada na cara de todo mundo! Ele não se arrependeu não", acredita. >
Condenado inicialmente a 98 anos de prisão, Lindemberg Alves teve a pena reduzida para 39 anos e atualmente cumpre pena em regime semiaberto.>
“Eu perdi o chão”>
O pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, contou que recebeu a notícia dos disparos da própria família. “Quando eu soube que minha filha tinha sido alvejada foi pelo meu filho, pelo Ronickson. Ele falou: ‘pai, ela tomou dois tiros’. E eu perguntei se tinham baleado ele: ‘e ele, balearam ele?’. Ele respondeu: ‘não pai, a Eloá tomou dois tiros’. Aí eu perdi o chão, eu desmaiei, sei lá.”>
Já a mãe, Ana Cristina Pimentel da Silva, relembrou o desespero ao descobrir que a filha havia levado dois tiros na cabeça, informação que só soube após a cirurgia. >
“Um dos médicos falou assim: ‘o que eu pude fazer, eu fiz, agora só Deus porque ela levou tiro na cabeça’. Aí eu desabei. Até então eu não sabia que ela tinha levado tiro na cabeça. Disseram que ela estava em coma, me levaram pra onde ela estava, e eu passei mal.”>
Logo depois, veio a pior notícia. “Eu fiquei sem chão, eu não sabia o que fazer. Eu queria morrer na hora. Mas aí meus dois filhos se abraçaram comigo, o Ronickson e o Douglas, e eu vi que eu tinha mais dois filhos.”>
Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá
Relembre o caso>
O sequestro de Eloá Pimentel aconteceu em outubro de 2008 e durou mais de quatro dias. Além dela, foram feitos reféns Nayara Rodrigues, também de 15 anos, e dois adolescentes, Iago e Victor Lopes de Campos.>
Durante as negociações, transmitidas ao vivo por emissoras de TV, Lindemberg chegou a conceder entrevistas a jornalistas. A ação terminou de forma trágica quando o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) invadiu o apartamento após ouvir um barulho — que acreditaram ser um tiro, mas era o som de uma mesa caindo.>
Lindemberg atirou contra Nayara, que sobreviveu, e disparou duas vezes contra Eloá, que não resistiu. A família optou por doar os órgãos da adolescente. >