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Yan Inácio
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 12:33
A mãe da jovem Damaris Vitória Kremer da Rosa, de 26 anos, que morreu dois meses após ser absolvida de um crime que não cometeu, deu um forte relato sobre a morte da filha, vitimada por um câncer no colo do útero diagnosticado enquanto estava encarcerada. Damaris morreu no dia 26 de outubro, em Balneário Arroio do Silva (SC). >
A mulher foi presa preventivamente em agosto de 2019, acusada de envolvimento no homicídio do ex-namorado Daniel Gomes Soveral, ocorrido em novembro de 2018, na cidade de Salto do Jacuí, no Noroeste do Rio Grande do Sul. >
Damaris Vitória Kremer da Rosa
Segundo a mãe de Damaris, Claudete Kremer Sott, de 51 anos, a filha passou pelo menos um ano sofrendo com dores provocadas pela doença e não recebeu tratamento adequado no presídio onde estava presa. >
"Deveria ter sido diferente. A maior dor não é dela ter tido um câncer. Câncer pode ser removido, tratado; tem cura, quando tratado de início. Para minha filha, o tratamento foi negado", desabafou, em entrevista à GZH.>
"Se ela tivesse sido julgada em dois anos, já teria sido absolvida e não teria passado por tudo isso. Quando descobrimos, já não tinha mais o que fazer", disse Claudete.>
Ainda de acordo com a mãe de Damaris, outras presas chegavam a pedir medicamentos para a filha. "Outras presas diziam que estavam morrendo de dor. Iam lá pedir medicamento e repassavam para ela, porque não aguentavam vê-la gritando de dor", contou.>
Na época da prisão, em 2019, o Ministério Público alegou que ela teria “ajustado o assassinato juntamente com os denunciados” e mantido um relacionamento com a vítima para atraí-la até o local onde o crime seria executado. A defesa de Damaris sempre negou a acusação. Segundo os advogados, ela apenas contou ao então namorado que havia sido estuprada pela vítima, e o homem, tomado pela raiva, teria cometido o assassinato por conta própria, ateando fogo no corpo de Daniel após o crime.>
Durante o processo, foram feitos diversos pedidos de revogação da prisão, todos negados pela Justiça com base em pareceres do Ministério Público. Em uma das decisões, o MP afirmou que a suposta fragilidade de saúde da ré se baseava em “mera suposição de doença”, e a Justiça reforçou o entendimento de que os documentos apresentados “não demonstravam patologia existente”.>
Damaris passou por quatro penitenciárias diferentes — Sobradinho, Lajeado, Santa Maria e Rio Pardo — até que, em março de 2025, a prisão foi finalmente convertida em domiciliar devido ao agravamento do seu estado de saúde. Nessa ocasião, foi determinado o uso de tornozeleira eletrônica.>
Em abril, a Justiça autorizou que ela permanecesse na casa da mãe, em Balneário Arroio do Silva (SC), onde ficou sob cuidados familiares. Dois meses depois, em maio, o júri absolveu Damaris, reconhecendo sua inocência. No entanto, o diagnóstico avançado do câncer e os anos sem tratamento adequado foram fatais.>