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Fernanda Varela
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 16:44
O Rio de Janeiro tem sido o centro dos noticiários após a megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na segunda-feira (28), que deixou oficialmente 121 mortos, mas cujos números reais devem subir, segundo estimativas de autoridades locais. A ofensiva, considerada a mais sangrenta da história do estado, provocou forte reação de artistas, atletas e comunicadores, que denunciaram nas redes sociais o que chamam de “política de extermínio”.>
A atriz Débora Bloch resumiu o sentimento de indignação: “A maior chacina do estado do Rio de Janeiro não é política de segurança, é política de extermínio.” Alice Wegmann também se manifestou: “Não se anestesiar com o absurdo do Brasil.”>
Megaoperação contra o Comando Vermelho
A cantora Ludmilla fez um alerta aos fãs: “Galera do Rio de Janeiro, se protejam, fiquem em lugar seguro. Não é momento de sair de casa. Se você, por algum motivo, teve ou tem que sair por causa do trabalho, tenha cautela e se mantenha informado através dos canais oficiais. Se cuidem, amo vocês.”>
O cantor João Gomes relatou o susto que viveu na cidade. “Meu irmão, na saída da locação, bizarro. Saí no carro, veio uma moto. Dizem que esses caras começaram a atirar do nada, velho. Meu Deus do céu. Quando pegou as avenidas aqui, as rodovias, deserto. Que loucura.”>
O rapper Oruam chamou a ação de “chacina” e denunciou o que chamou de “sistema sujo”: “Minha alma sangra quando a favela chora porque a favela também tem família. Se tirar o fuzil da mão, existe o ser humano.”>
O humorista Paulo Vieira foi um dos mais duros críticos ao governador Cláudio Castro (PL). “O governador bolsonarista Cláudio Castro é o grande responsável pela desgraça que o Rio vive hoje. Agora, numa atitude desesperada e eleitoreira, sacrifica o povo para fazer esse teatro sanguinário para sua plateia trevosa. Que Deus tenha piedade do povo.”>
O campeão olímpico Nalbert Bitencourt também desabafou: “Por mais que nós, cariocas, tentemos manter o nosso otimismo e positividade, as esperanças de vivermos em um RJ com um mínimo de estabilidade e segurança se esgotaram. O RJ não tem mais jeito. Infelizmente. Que Deus nos proteja hoje, amanhã e sempre.”>
A jornalista Míriam Leitão chamou a operação de “desastrosa”: “O Rio ainda está contando os mortos. Não teve planejamento. Se tivesse, não teria acontecido isso. O primeiro movimento do governador de culpar o governo federal foi quando ele viu que estava começando a dar errado.”>
Rachel Sheherazade reforçou as críticas à ação: “A polícia entrou para cumprir 100 mandados de prisão, não para cometer 60 execuções.” A jornalista também lamentou o perfil das vítimas: “Essas pessoas não têm nome, não têm rosto, e principalmente, não têm dinheiro. São favelados, pretos, pardos, desafortunados. Morrendo muitos, ainda assim, não farão falta. Assim pensam alguns.”>
Ela concluiu: “Os maiores e mais poderosos criminosos andam de jatinho e vivem em condomínios de mansões. Por que o governo não faz operações nesses lugares? O policial aprende a odiar a favela de onde veio e não o sistema que aprisiona ele e o traficante na mesma pobreza. Ele é o bucha de canhão. No fim das contas, o gatilho quem puxa é o policial, mas a culpa da chacina é de quem manda matar.”>
O cantor e compositor Chico César também se posicionou, ao compartilhar uma publicação da vereadora Luana Alves (PSOL-SP): “A operação desastrosa de hoje, que causou dezenas de mortes e deixou o povo sitiado, é um teatro macabro de um governador aliado de traficante, desesperado pela baixa popularidade. Uma política de combate às drogas onde só quem sai perdendo é o povo.”>
O ator Marcello Novaes anunciou o fechamento de sua pizzaria, a Ella, no Jardim Botânico, devido à violência. “Não funcionaremos hoje devido aos atuais acontecimentos no Rio de Janeiro. É triste mesmo”, escreveu.>
A dançarina Lore Improta, que estava no Rio para um compromisso profissional, decidiu retornar a Salvador às pressas. “Assim que a gente pousou, começamos a receber muitas mensagens sobre o que está acontecendo aqui. Está uma situação bem violenta, infelizmente, com operações policiais. Todas as pessoas orientaram a gente a não ficar aqui nesse período. Conseguimos remarcar passagem de todo mundo para voltarmos para Salvador. Espero que todo mundo que está aqui no Rio fique bem.”>
O antropólogo e escritor Michel Alcoforado também cancelou o lançamento do livro “Coisa de Rico”, que seria realizado no Shopping Leblon. “Nesse momento, a segurança de todos é nossa prioridade.”>
A megaoperação, segundo o governo estadual, tinha como objetivo conter a expansão territorial do Comando Vermelho, maior facção criminosa do Rio, e prender seus líderes. Já organizações de direitos humanos, moradores e especialistas denunciam o uso excessivo da força, a falta de transparência e o impacto humanitário da ação.>