Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Ana Beatriz Sousa
Publicado em 25 de novembro de 2025 às 17:36
Quando Karina Buchalla Lutkus, 46 anos, ouviu a frase "você não vai servir para isso, não é coisa de mulher", ela não recuou, acelerou. Hoje, três décadas depois, ela se tornou a primeira brasileira a comandar o Airbus A380 na Emirates, o maior avião comercial do mundo, capaz de levar mais de 500 passageiros em viagens que duram até 16 horas. >
O marco histórico veio em 27 de outubro, num voo que ela descreve como o momento mais emocionante de sua carreira: “É como ver minha vida inteira passando diante dos olhos. Tanta luta, tantos nãos, e, ainda assim, a certeza de que eu estava no caminho certo”, contou ao g1.>
Filha de um comandante da antiga Varig, Karina sempre soube que queria voar. Quando completou 16 anos, ouviu do pai a pergunta que mudaria seu destino: “Tem certeza que quer ser piloto? Você sabe o que vai enfrentar.”>
Ele temia o preconceito que ela sofreria e tentou testá-la. Levada ao aeroclube, Karina descobriu depois que o instrutor recebeu um pedido: fazer manobras radicais para ver se ela desistia.>
O efeito foi o contrário: "A cada manobra, eu gostava mais. Quando pousamos, o instrutor disse: 'Ela nasceu pra isso'". Com o apoio do pai na parte técnica e o incentivo emocional da mãe, Karina seguiu firme.>
"Desiste, isso não é coisa de mulher", mas ela insistiu. No curso de piloto privado, ouviu colegas dizendo que ela não deveria continuar. Ainda assim, permaneceu.>
Em 2001, entre 3 mil candidatos, Karina passou por todas as etapas para ser contratada pela Varig. Na última prova, o mundo parou: era o dia dos ataques de 11 de setembro. A companhia cancelou todas as admissões.>
No ano seguinte, a TAM a aprovou. Uniforme pronto, treinamento concluído… e, na véspera do primeiro voo, dois acidentes da empresa levaram à demissão de 400 pilotos, ela incluída: “Foi devastador. Eu estava no pódio, e o chão sumiu.”>
Dois anos depois, voltou à TAM, dessa vez, definitivamente. Virou comandante da frota Airbus A320 e seguiu crescendo.>
A Emirates sempre foi seu sonho. Ela só adiou o plano porque cuidava do pai, que tinha Parkinson. Depois de sua morte, decidiu tentar. Em Dubai, encontrou uma empresa que investe pesado nos pilotos. >
Ao concluir o cheque final, ouviu o examinador dizer: “Parabéns, comandante". Naquele momento, ela desabou, de emoção e alívio: Pilotar um A380: “É comandar uma nave”>
Primeira brasileira a pilotar o maior avião do mundo
O avião é tão grande que são necessários quatro pilotos para voos longos. São 24 comissários, duas equipes no cockpit e até cabines com camas para descanso em rota.>
“É uma máquina impressionante, com tecnologia absurda. É muito gratificante comandar algo assim.”>
Karina vive em Dubai com o marido, piloto aposentado, e os dois filhos pequenos e passa, em média, cinco dias por semana em casa, vantagem dos voos internacionais longos.>
Depois de quase três décadas de insistência, obstáculos e superação, Karina resume sua trajetória em uma frase que virou sua assinatura: “Nunca desistam dos sonhos. Com foco, dedicação e resiliência, dá para chegar onde quiser. Vai ter dificuldade? Vai. Mas não pode parar.”>
A primeira comandante brasileira do maior avião do mundo agora inspira milhares de pessoas, especialmente meninas, a ocuparem espaços que antes diziam não ser delas.>