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Felipe Sena
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 15:34
Durante uma reunião de uma Escola Bíblica de Obreiros em São Paulo, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Fraternal das Assembleias de Deus em São Paulo (Confradesp), foi filmado dizendo que o “capeta é preto”. >
Pastor José Wellington Bezerra da Costa
Na gravação que foi transmitida nas redes sociais, o pastor disse: “Já tem templo da Assembleia de Deus pintado de parede preta? Já viram isso aí? Irmão, por que preto, irmão? Preto é treva, rapaz! O capeta que é preto. Jesus é luz!”>
No vídeo, o pastor criticava igrejas com paredes escuras, o que gerou forte reação entre fiéis e lideranças evangélicas negras, que consideraram o discurso racista. O pastor ainda orienta que os templos da Assembleia de Deus sejam pintados “da cor mais clara possível”.>
Diversos ativistas se posicionaram nas redes sociais. O farmacêutico e ativista Anicet Okinga, disse que a Bíblia não afirma que Satanás tem cor de pele, e além disso, transformar um ser espiritual em símbolo racial é um erro teológico e violência simbólica.>
“A Escritura apresenta Satanás e os demônios como realidades espirituais, não como figuras humanas com fenótipo. Paulo, por exemplo, nos lembra que Satanás pode se disfarçar de anjo de luz. Isso fala de astúcia moral, não de pigmento”, ressaltou em gravação publicada em seu perfil no Instagram, que acumula mais de 300 mil seguidores.>
A Bíblia não cita características de Satanás, apenas sua presença em algumas situações. A imagem que se tem sobre ele foi criada durante a expansão do cristianismo, assimilando traços de outros mitos, como pés de bode, asas, entre outros.>
“Misturar metáforas espirituais com características biológicas legitimou opressão e racismo em nome da religião. Chamar o diabo de ‘preto’ não é apenas um erro de interpretação, é um ato moral”, explicou o farmacêutico.>