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Poder, droga e sangue: quem é a mulher no comando da ‘Tropa da Juba’, filiada ao CV?

Organização criminosa foi alvo de operação que combate o tráfico de armas

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 05:00

Juliana comanda a 'Tropa da Juba', filial do CV  em Feira de Santana
Juliana comanda a 'Tropa da Juba', filial do CV em Feira de Santana Crédito: Reprodução

Um dos nomes de prestígio na hierarquia do Comando Vermelho em Feira de Santana, a segunda maior cidade baiana, tem cabelos alongados, está quase sempre maquiada e não renuncia a um decote. Juliana de Almeida Leite, a ‘Juba’, faz parte do quadro de gerentes da organização carioca e ainda acumula a função de líder da ‘Tropa da Juba’, célula do CV no bairro de Queimadinha. Temida na região, Juliana teve a prisão decretada, após ter o seu nome incluído na lista das 32 pessoas denunciadas pelo Ministério Público do Estado (MPBA) em abril deste ano, na Operação Skywalker. Ela está foragida.

Segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do MPBA, em junho deste ano e que o CORREIO teve acesso, a ‘Tropa da Juba’ é subordinada a Heverson Almeida Torres, o 'MG' ou ‘Mil Grau’, preso no dia 27 de fevereiro do ano passado, em casa de luxo no Rio Grande do Norte. O documento com 167 páginas traz uma foto dos dois abraçados, exibindo um gesto característico do Comando Vermelho ('Tudo 2'), conforme investigação do Departamento de Combate ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil da Bahia (PCBA), que apontou também que: todos os membros que possuem papel de liderança, inclusive 'Juba', tem a mesma tatuagem de 'Mil Grau', uma flor em uma das mãos, fato que, segundo o Draco, demonstra o "profundo laço de lealdade à facção à qual pertencem" (veja essas e outras imagens na galeria abaixo). A Polícia Civil descobriu  que a organização possui um núcleo formado só por policiais, ligado diretamente ao contrabando de armamentos

Enquanto o líder em Feira de Santana cumpre pena no Presídio Federal de Brasília, a gerente da organização segue solta e estaria escondida no Rio de Janeiro, sob a proteção da cúpula nacional do CV. Em abril, ela conseguiu escapar da segunda fase da Operação Skywalker, que investiga, principalmente, o tráfico de armas na Bahia.

Juliana é conhecida também como ‘Bibi’. A alcunha foi lhe atribuída devido à sua semelhança com a xará do Rio de Janeiro, Fabiana Escobar, a ‘Bibi Perigosa’, ex-esposa de um traficante da ADA (Amigos dos Amigos) que comandou a região da Rocinha. Segundo o Gaeco, além de possuir extensa ficha criminal, ‘Juba’ “comanda ações sistemáticas de tráfico de drogas, comércio ilegal de armas de fogo, prática de homicídios, extorsões e outras condutas delituosas, impondo um regime de violência e intimidação à população local, o que caracteriza verdadeira usurpação do poder estatal na região sob sua influência”.

Elementos comprobatórios

De acordo com o documento do MPBA, em relação ao núcleo da organização criminosa, foram reunidos elementos probatórios que confirmam a atuação direta da criminosa no tráfico de drogas em Feira de Santana e no Rio de Janeiro. Na denúncia, constam imagens e vídeos da venda de entorpecentes, como pasta base de cocaína, crack, maconha e até “lança perfume”.

Segundo a apuração, nas imagens publicadas nas redes sociais de ‘Juba’, “observa-se diversos emojis associados ao Comando Vermelho e ao núcleo de ‘MG’, além da exibição de cocaína — referida no meio criminoso como ‘peixe’. Na segunda, há várias menções a ‘MG’: o símbolo do falcão (‘Tropa do Falcão’), as expressões ‘Família Mil Grau’ e ‘Lili vai cantar paizão’, esta última indicando possível alusão à liberdade (‘lili’) do líder. Também se identificam referências à ‘Tropa da Juba’ e à ‘Tropa do Formiga’”.

A ‘Tropa da Formiga’, que aparece na denúncia, é outra célula do CV em Feira de Santana, comandada por Carlos Alberto do Amor Divino Silvo, o ‘Formiga’, que também ocupa a função de gerente em outra área da cidade. Assim como ‘Juba’, ele está foragido. A investigação localizou uma chamada de voz entre Juliana e ‘Formiga’ — a quem ela se refere como ‘Meu Chefe Formiga’ — tratando da negociação de 23,5 kg de cocaína tipo exportação, em Feira de Santana. A apuração verificou, ainda, que ela realizava com frequência chamadas de vídeo para negociar e comercializar entorpecentes.

Juliana comanda a 'Tropa da Juba', filial do CV em Feira de Santana por Reprodução

Tráfico de armas

A denúncia traz indícios de que a líder da ‘Tropa da Juba’ está envolvida no comércio ilegal de armamentos. “‘Juba’, inclusive, aparece em várias fotos portando armas de alto poder ofensivo, capazes de causar lesões graves ou morte, em razão de sua elevada energia cinética”, aponta documento. 

“Na primeira imagem, ‘Juba’ aparece empunhando um fuzil e fazendo o gesto característico do Comando Vermelho (‘tudo 2’). Na segunda, exibe, ao lado de outro fuzil, o que parece ser a contabilidade do tráfico, repetindo o mesmo sinal com a mão. Para reforçar a autoria dos crimes investigados, apresenta-se ainda foto em que Juliana ostenta uma pistola, ao lado de uma mulher não identificada que também faz o gesto associado à facção”, diz trecho.

No serviço de armazenamento em nuvem da criminosa, foi identificado um vídeo que mostra traficantes em incursão pela mata, portando fuzis, além de uma foto — provavelmente registrada por ‘Juba’ — de armas novas ainda lacradas em plástico, indicando que haviam acabado de ser recebidas. “Tais elementos configuram indícios suficientes de autoria e materialidade do crime de tráfico de armas. Destacam-se, ainda, figurinhas com referência à ‘Tropa do Falcão’”, diz denúncia.

Homicídios

A investigação aponta que a traficante teria participado diretamente de algumas execuções, a partir da análise das armas exibidas por ela. “Posteriormente, foram localizadas mídias (fotos e vídeos) que retratam homicídios, aparentemente cometidos com a mesma lâmina ou com instrumento similar ao exibido por Juliana, o que indica possível autoria mediata por parte da investigada, além de sugerir um eventual modus operandi da facção criminosa.

Em relação às gravações, revelaram que dois assassinatos cujas vítimas foram atacadas na região do pescoço, “seguindo o mesmo modus operandi, o que evidencia o elevado grau de crueldade da organização criminosa, que não hesita em eliminar rivais ou até mesmo moradores das áreas dominadas que se recusam a colaborar com suas atividades”.