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Maysa Polcri
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 15:09
Um homem apontado como o maior traficante de aves silvestres do país e outras 23 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Pública da Bahia (MP-BA) por integrarem rede de tráfico de animais, inclusive espécies ameaçadas de extinção. As investigações apontam ainda que os acusados praticavam crimes como lavagem de dinheiro, receptação qualificada e maus-tratos a animais.>
Conhecido como 'Paulista', Weber Sena de Oliveira foi preso em flagrante em janeiro deste ano. Durante blitz realizada na BR-101, próximo à cidade de Itabuna (BA), ele foi localizado transportando 135 pássaros ilegalmente. De acordo com o MP-BA, o homem é responsável por liderar o tráfico de animais entre os estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.>
O grupo, segundo as denúncias, é formado por 14 fornecedores, sendo dez deles com atuação na Bahia, além de cinco receptadores, três transportadores e uma operadora financeira. Conforme as investigações, em seis meses do ano de 2023, quase R$ 500 mil foram movimentados nas contas de Ivonice Silva e Silva, companheira de ‘Paulista’. >
Mais de 200 aves silvestres são resgatadas de comércio ilegal na Bahia
Ela é apontada como a operadora financeira da organização criminosa, responsável por receber os depósitos pela entrega das "encomendas", que chegavam a conter mais de mil pássaros de uma só vez. As apurações apontam que parcela significativa das transferências bancárias partiu de terminais de autoatendimento da cidade de Magé, no Rio de Janeiro, onde reside Valter Nélio, conhecido como ‘Juninho de Magé’. Assim como Weber e Ivonice, ele também foi acusado por lavagem de dinheiro.>
Aves como estevão, canário, chorão, papa-capim, trinca-ferro, azulão, pássaro preto, entre outros, eram capturados, com utilização de armadilhas e redes de 20 metros de comprimento que possibilitavam apreender até 500 passarinhos em um único dia. Há registros de venda de aves por R$ 80 mil.>
Os investigadores descobriram que as aves eram alojados em cativeiros provisórios e sem alimentação, onde aguardavam por muitos dias a chegada de ‘Paulista’, responsável por colocá-las em veículos de passeio e caminhões para remetê-las, em sua maior parte, ao estado do Rio de Janeiro e a capital baiana. >
A promotora de Justiça Regional do Meio Ambiente Aline Salvador destaca que dados da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indicam que 90% dos bichos capturados não sobrevivem durante o transporte, morrendo por maus-tratos, estresse ou condições precárias.>
A rota do tráfico de animais silvestres (do Sudeste da Bahia e nordeste de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro) foi identificada, por meio de estudo 31 manchas de calor que indicam a recorrência das apreensões oriundas do tráfico de, realizado por meio do projeto ‘Libertas’, da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa).>
O oferecimento das denúncias decorre da segunda etapa da 'Fauna Protegida', deflagrada no dia 29 de outubro em cidades da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. >
Aves de canto mais traficados no país
O histórico de crimes ambientais de Weber Sena é extenso e suas ações são registradas por autoridades há pelo menos 20 anos. Em 2008, o Ibama já tinha o intimado para pagamento de multa por conta de comércio ilegal de aves. Dois anos depois, ele foi preso na Operação Marco Zero, conduzida pela PRF, PM, Polícia Civil da Bahia, Ibama e Ministério Público. >
Anos depois, em 2015, foi novamente detido em flagrante com cerca de 1.500 aves silvestres. Na ocasião, tentou subornar policiais com o montante de R$ 7 mil, sendo autuado também por corrupção ativa. Em 2021, fiscais do Inema e agentes da PRF encontraram em um imóvel alugado por ele, também em Mascote, um depósito clandestino com 413 aves em situação de maus-tratos, além de galos utilizados para rinhas. O espaço funcionava como apoio para a remessa dos animais com destino ao Sudeste, escoado pela BR-101.>
Outro episódio emblemático ocorreu na noite do dia 15 de janeiro de 2024, quando a PRF abordou o veículo conduzido por Weber, na BR-101, em Gandu (BA). No carro, os policiais sentiram um forte odor de fezes de pássaro e acabaram encontrando 492 aves vivas e outras 135 mortas, além de 946 jabutis. A cena incluía animais amontoados em caixas de papelão, sem ventilação ou acesso à água. Enquanto os policiais retiravam as aves, Paulista aproveitou um momento de distração e fugiu pela mata. O mesmo veículo que Weber estava já tinha sido flagrado no Rio de Janeiro, em 2022, servindo de transporte para o mesmo crime.>
As espécies traficadas por ele estão entre as mais visadas do mercado clandestino: bicudos, curiós, cardeais-do-nordeste, azulões, tico-ticos, entre outros. Muitas dessas espécies constam em listas de ameaça de extinção e são alvo de competições de canto, o que eleva seus preços. Segundo o MP-BA, Paulista chegava a vender um curió por R$ 80 mil, e movimentava animais em escala industrial, com extensões na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.>