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Em apenas dois meses, 17 taxistas morrem de infarto em Salvador

Motoristas de táxi enfrentam diversos problemas de saúde, segundo a Associação Geral dos Taxistas (AGT)

  • Foto do(a) author(a) Yan Inácio
  • Yan Inácio

Publicado em 4 de setembro de 2025 às 05:00

Táxi em Salvador
Táxi em Salvador Crédito: Marina Silva/CORREIO

“A gente não aguenta tanta pressão, o coração é fraco”, diz Denis Paim, presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT). A morte de um motorista de táxi por infarto no Aeroporto de Salvador no último dia 25 é a ponta do iceberg de uma série de casos parecidos que vêm atingindo a categoria nos últimos meses. Segundo a AGT, pelo menos 17 taxistas morreram pelo problema de saúde na capital baiana desde julho.

Almir Pinto Bahia, de 46 anos, foi encontrado morto em seu carro após colegas estranharem o tempo que ele passou parado no veículo. Os taxistas o acharam dentro do carro com o ar condicionado ligado e quebraram o vidro do veículo para recuperar o corpo dele. O taxista descansava de um período prolongado de trabalho.

Antes do incidente, o condutor estava estressado com as dificuldades enfrentadas no ofício. Ele trabalhava como permissionário com um carro alugado e pagava uma taxa diária de R$100 por dia para atuar no serviço de táxis. “Almir falava que estava um inferno para trabalhar no aeroporto e já vinha chateado, desgostoso, como muitos taxistas que atuam na região”, conta Paim.

Além da hipertensão, um dos fatores de risco mais comuns para infartos, os taxistas também enfrentam obesidade, diabetes, infecções no trato renal e transtornos de saúde mental, como ansiedade e estresse crônico, de acordo com o presidente da AGT. Entre as diversas causas que colaboram para a más condições de saúde, a longa jornada de trabalho é um dos principais. Há motoristas que costumam rodar por até 18 horas em um único dia, às vezes sem pausas para comer ou ir ao banheiro.

Também é constante entre os taxistas o temor pela violência no trânsito da capital baiana. De acordo com a AGT, até agosto deste ano, 194 taxistas foram assaltados e 17 carros foram levados pelos bandidos nas ruas de Salvador. Só no mês de agosto, conforme Paim, 40 condutores foram vítimas de assalto na cidade. O número é 24% menor ao do mesmo período do ano passado, quando foram registrados 256 assaltos até agosto.

Esses fatores, aliados à forte concorrência com aplicativos de corrida e empresas clandestinas de transporte, tornam os taxistas propensos a acidentes vasculares cerebrais, os AVCs. É o que argumenta o médico cardiologista do Hospital Mater Dei Salvador, Marcos Barojas.

Táxi em Salvador por Marina Silva/CORREIO

“Esse estresse crônico, o viver sob pressão, traz uma liberação crônica de cortisol, que é um hormônio do estresse, que lhe prepara para a briga, mas quando não há, esse hormônio é acumulado no corpo a longo prazo, liberando açúcar, aumentando a pressão e, fora os efeitos psicológicos, trazem efeitos no sistema cardiovascular”, explica.

Estar sentado por muitas horas também é altamente prejudicial à saúde desses profissionais. O sedentarismo se junta, então, à alimentação de baixa qualidade, com alto consumo de ultraprocessados. Segundo o médico, esses trabalhadores têm uma tendência a se comerem alimentos com mais teor de gordura, de sal e de açúcar. “Esses hábitos aumentam as chances de problemas cardiológicos, como placas de colesterol, que pode ocasionar infarto”, diz o médico.

A falta de check-ups também impactam a saúde dos profissionais. “É preciso uma ação de saúde nos pontos de táxi. Eles não vão ao médico porque se saírem dali, podem perder clientes”, argumenta Paim. A reportagem pediu à AGT mais informações sobre outros motoristas que morreram recentemente, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.