Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Família contesta versão da polícia sobre morte de funcionário em prédio no Horto Florestal

Willian Santos, 30, passou por duas cirurgias, mas não resistiu

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 16:11

Willian morreu em construção de prédio no Horto Florestal
Willian morreu em construção de prédio no Horto Florestal Crédito: Reprodução

A última sexta-feira (19) seria um dia comum de trabalho para Willian Santos de Oliveira, de 30 anos, em Salvador. Há um ano, ele percorria o mesmo trajeto, da casa onde morava, na Mata Escura, até um canteiro de obras no Horto Florestal, local em que trabalhava como armador. Lá, o funcionário foi atingido por uma barra de ferro, que caiu do 13º andar do prédio, segundo relato de familiares. Willian foi socorrido por colegas, passou por duas cirurgias, mas não resistiu. 

A esposa de Willian, Joana Oliveira, recebeu a notícia da morte do companheiro através de uma mensagem no Facebook. "A empresa não entrou em contato comigo. Um colega dele, da obra, me mandou mensagem dizendo que teve um acidente e que eu deveria ir correndo para o hospital", relata. Joana foi de moto até o Hospital Geral do Estado (HGE) para onde o trabalhador foi levado após ser atingido pelo vergalhão. "Quando cheguei, ele estava na cirurgia. Willian lutou, mas teve duas paradas cardiorrespiratórias", lamenta. O acidente aconteceu na Rua da Sapucáia, 219.

 A versão contada pelos parentes de Willian - de que o objeto de ferro caiu sobre o trabalhador - vai de encontro ao registro oficial do acidente. De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima teria caído de uma altura de 30 metros. O caso é investigado pela Delegacia Territorial de Brotas. Após receber denúncias de familiares, a reportagem entrou em contato novamente com a polícia, que não se manifestou sobre a versão relatada por pessoas próximas da vítima até esta publicação. 

Familiares de Willian Santos ainda denunciam que ele foi socorrido por colegas e não pelo serviço especializado. "Ele foi atingido na cabeça e levado para o hospital por colegas que podem não ter feito o socorro da maneira correta. O Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] deveria ter sido acionado", afirma Jadson Oliveira, tio da vítima. Relatos de quem esteve no local afirmam que Willian chegou no hospital com vida, mas tendo dificuldades para respirar sozinho.

A família afirma que vai ingressar com ação judicial contra a Moura Dubeux, empresa responsável pelo edifício de alto padrão Poème Horto - torre de de 36 andares, com dois apartamentos por pavimento. "A família ingressará com uma ação trabalhista por danos morais e materiais, em face do acidente ocorrido, que poderia ter sido evitado. A empresa não adotou as medidas fiscalizatórias e preventivas. Esse ferro não deveria ter caído", afirma o advogado Gustavo Neiva, que representa os parentes de Willian. 

Projeto do edifício Poème Horto por Divulgação

Luto e revolta 

As obras do Poème Horto seguem paralisadas desde a última sexta-feira (19), quando o acidente ocorreu. Enquanto isso, familiares do trabalhador de 30 anos transitam entre a dor da perda e a revolta. "Willian foi tirado do local sem a presença do Samu. Soubemos que o técnico de segurança da obra sequer apareceu, e que ele foi socorrido pelos próprios colegas. A empresa não entrou em contato após o funeral e não deu assistência depois do sepultamento", diz o tio da vítima. A Moura Dubeux arcou com os custos do enterro do funcionário. 

Willian e Joana Oliveira eram casados há quatro anos e não têm filhos. Os planos dos casa foram interrompidos de maneira abrupta. "Vou ficar sozinha agora. Meus sonhos foram todos embora. A gente queria ter filhos, construir casa, mas foi tudo embora porque eu perdi o meu marido", lamenta a esposa. Ela diz que o marido nunca havia reclamado sobre as condições de trabalho da empresa. 

Os pais dele estão arrasados, impossibilitados de falar. Meu irmão está sob efeito de remédios. Tentamos nos manter fortes, mas está muito complicado

Jadson Oliveira

Tio de Willian

Em nota enviada à imprensa, a Moura Dubeux lamentou a morte do trabalhador e disse que presta assistência aos familiares da vítima. "Logo após o acidente, o colaborador foi levado imediatamente ao Hospital Geral do Estado, onde infelizmente veio a óbito. A empresa, junto ao condomínio, vem prestando toda a assistência necessária à família, incluindo auxílio velório, seguro de vida e transporte para amigos e familiares participarem da despedida", diz. 

A empresa afirma ainda que está à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades. "A obra encontra-se paralisada. A Moura Dubeux permanece à disposição das autoridades para esclarecer qualquer informação e reafirma seu compromisso com a segurança, a transparência e o respeito à vida, seguindo rigorosamente todas as normas legais e medidas de proteção coletiva e individual em seus projetos", completa (veja a nota completa abaixo). 

Investigação 

O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu investigação nesta segunda-feira (22) para apurar a morte de Willian Santos na construção do prédio no Horto Florestal. O órgão vai investigar se as normas de segurança do trabalho foram seguidas pelo empregador, tanto com a oferta de equipamentos de proteção individual quanto de treinamento de protocolos de atividade de risco. Também é prioridade garantir que medidas preventivas sejam adotadas para evitar que outros trabalhadores sejam vítimas de acidentes semelhantes.

"A apuração dos fatos permitirá que sejam responsabilizados os eventuais envolvidos e, principalmente, que sejam adotadas medidas futuras para prevenir outras situações semelhantes", afirma o MPT. Essa é a segunda investigação desse tipo instaurada na Bahia. O Ministério Público do Trabalho abriu inquérito próprio para apurar a circunstâncias do acidente de trabalho que terminou na morte de Fábio Ribeiro de Jesus, que morreu soterrado em uma mina, na última quarta-feira (17), em Jacobina, no interior do estado. 

Os casos não são isolados. O número de acidentes de trabalho registrados na Bahia cresceu 10,3% em comparação com o ano passado. Entre janeiro e o dia 10 de agosto, 10.187 acidentes de trabalho e doenças ocupacionais foram comunicados por empregadores baianos através do Canal de Denúncia Trabalhista do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), como mostrou reportagem do CORREIO

Em novembro do ano passado, outro acidente de trabalho foi registrado no Horto Florestal. Manoel Francisco da Silva, de 54 anos, e Ariston de Jesus, de 61, trabalhavam como carregadores de mudança quando o elevador de um prédio desabou. Ambos morreram no local do acidente. Um acordo foi feito entre familiares e as empresas envolvidas. 

O que diz a Moura Dubeux sobre a morte de trabalhador 

"A Moura Dubeux lamenta profundamente o falecimento do colaborador vinculado ao condomínio da obra do Edifício Poème Horto, ocorrido na última sexta-feira (19). Expressamos nossa solidariedade à família, amigos e colegas de trabalho neste momento de dor. Logo após o acidente, o colaborador foi levado imediatamente ao Hospital Geral do Estado, onde infelizmente veio a óbito.

A empresa, junto ao condomínio, vem prestando toda a assistência necessária à família, incluindo auxílio velório, seguro de vida e transporte para amigos e familiares participarem da despedida.

A obra encontra-se paralisada. A Moura Dubeux permanece à disposição das autoridades para esclarecer qualquer informação e reafirma seu compromisso com a segurança, a transparência e o respeito à vida, seguindo rigorosamente todas as normas legais e medidas de proteção coletiva e individual em seus projetos".