Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Yan Inácio
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 05:00
Mesmo com a promessa de melhorias, cinco meses após o fim da concessão da ViaBahia e a transferência da gestão da via para o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), usuários da BR-324, especialmente do trecho entre Feira de Santana e Salvador, têm relatado os mesmos problemas de antes: infraestrutura danificada, vias esburacadas e falta de serviços como guincho e ambulâncias.>
O comerciante André Azevedo costuma transitar de moto pelo trecho Feira de Santana-Salvador três vezes por semana e relatou que já sofreu um prejuízo de R$12 mil após sofrer acidentes por conta dos buracos na via. “Em um eu quase caio na frente de duas carretas em movimento, a sorte é que eu consegui segurar a moto. Um acidente foi na Contorno e outro na BR-324, chegando próximo à entrada de Conceição do Jacuípe”, conta.>
Confira os radares espalhados na BR-324
Como motociclista, ele diz que agora teme mais as más condições da via do que a imprudência dos motoristas de veículos de quatro rodas. “Antigamente a gente ficava, ‘ah, tem gente que é imprudente’. Hoje a gente tem mais medo da via do que dos motoristas. Tá horrível, e os buracos não são buracos pequenos, são buracos fundos, umas crateras enormes”, desabafa.>
Apesar do DNIT ter disponibilizado um telefone oficial (0800 580 2848) de contato para situações emergenciais em trechos da BR-324 e da BR-116, o comerciante relata que precisou contratar um guincho emergencial particular para atendê-lo no dia do acidente. Este também foi um problema comentado pelo motorista de caminhão Márcio Carneiro. >
“Eu nem sei o número, pra ser bem sincero, porque eu nunca vi nenhuma placa, nada. O que eu vi foi uma postagem no Instagram. Eu acho que falta um pouco disso também, a comunicação com o próprio usuário”, conta. Mesmo pontuando melhorias no asfalto em diversos trechos da rodovia após o fim da concessão, Carneiro compara o serviço prestado pelo DNIT com a administração anterior à ViaBahia e relata a volta — entre colegas — de um certo receio em transitar pela via.>
“Era péssimo, a gente imaginava ter que transitar por ela, ter que ir para Salvador, era um sacrifício muito grande. A solução seria a empresa que viesse, para poder modernizar a rodovia, para dar a manutenção correta, em contrapartida aos pedágios que a gente pagava. No entanto, a gente já sabe o que aconteceu. Eu vejo que agora está voltando a mesma coisa, está todo mundo remarcando e imaginando ter que ir em Salvador”, diz.>
Imagens da BR-324
O motorista do transporte de saúde de Mairi, Wagner de Almeida, transita pela BR-324 dia sim dia não para levar pacientes para consultas clínicas na capital. Ele diz que tem visto pouco as equipes de manutenção do DNIT no trecho Feira-Salvador. “Tem mais de 15 dias ou 20 que pararam, logo no início, estavam recapeando alguns trechos e fazendo operações de tapa-buraco. Nunca mais vi máquina na estrada, nem nada. Inclusive, estava até comentando com colegas, ‘cadê essas máquinas, o pessoal parou de trabalhar’?”, conta.>
Mesmo com a necessidade de levar os pacientes com rapidez para realizar exames em Salvador, Almeida limita a velocidade com que transita para evitar acidentes, como alguns que já presenciou nos últimos dias. “Na quinta-feira da semana passada a gente encontrou motoristas pedindo socorro próximo a um buraco perto do posto Caxias do Sul e ainda teve um colega novo que estourou dois pneus no ônibus no mesmo lugar”, relata.>
Assim como Azevedo, o motorista diz que não há “trecho bom” entre Feira e Salvador e que precisa dirigir com muita atenção, na velocidade de 60 a 70km/h, para desviar dos buracos. “Tem trechos que ultimamente não estou chegando nem a isso, vou desviar de um buraco e já encontro outro. Se estiver chovendo a gente não enxerga nenhum.”>
Em nota, o DNIT afirmou que "executa serviços de tapa-buracos em toda a extensão da BR-324/BA, bem como realiza serviços de fresagem e recomposição do pavimento". O Departamento prevê que o buracos sejam eliminados até a próxima semana. >
"A autarquia ressalta que desde que assumiu a responsabilidade do trecho da BR-324/BA, Salvador - Feira de Santana já foram feitos mais de 40 quilômetros de recapeamento e as obras nesse sentido estão em andamento", declarou.>
O edital de licitação para a recuperação e duplicação da BR-324, no trecho entre Salvador e Feira de Santana, ainda está em fase de preparação pelo DNIT. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) realizou a última audiência pública para colher sugestões e esclarecer dúvidas sobre o projeto de concessão em maio.>
De acordo com o gerente de Estudos e Projetos de Rodovias do órgão, Stéphane Quebaud, os benefícios esperados da nova concessão incluem: redução do tempo de viagem, de custos operacionais e a ampliação da eficiência logística. A concessão deve gerar cerca de 228 mil empregos diretos, indiretos e por efeito renda, dinamizando a economia dos 27 municípios cortados pelo trecho, segundo o projeto. >
O investimento total estimado, segundo a ANTT, é de R$ 15,7 bilhões em capex (despesas de capital) e R$ 8 bilhões em opex (custos operacionais). Na primeira fase serão realizados os trabalhos iniciais, com foco na recuperação emergencial do pavimento, melhorias na sinalização e segurança viária. Em seguida, é esperada a recuperação completa da rodovia, restabelecendo as condições originais da malha.>
A reportagem procurou o Ministério dos Transportes (MTR) para responder sobre o prazo para a nova licitação de concessão da via,e se já há no radar concessionárias dispostas a assumir a administração dos trechos. O MTR retornou o contato e informou que responderá até o fim da tarde desta quarta-feira (29). O espaço segue aberto.>