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Pedro Carreiro
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 06:00
Everton Ribeiro anunciou nesta segunda-feira (6) que foi diagnosticado com câncer na tireoide e passou por cirurgia. Apesar de o diagnóstico ter sido feito há cerca de um mês, o meia e capitão do Bahia atuou normalmente até a véspera do procedimento, ajudando o time na vitória por 1x0 sobre o Flamengo, menos de 24 horas antes da operação. >
O Esquadrão ainda não divulgou detalhes sobre o quadro clínico de Everton nem o tempo previsto de recuperação. Para explicar melhor o que é a doença, como é feito o tratamento e o que se espera para a recuperação, o CORREIO conversou com o cirurgião de cabeça e pescoço Dr. Roberto Santos, da clínica AMO e do Hospital da Bahia.>
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O câncer de tireoide acontece quando há crescimento anômalo e maligno das células da glândula tireoide. “O que diferencia um câncer de um nódulo benigno é o potencial de invasão e metástase — ou seja, um nódulo benigno pode existir sem provocar problema, enquanto o tumor maligno tem capacidade de invasão”, explica Dr. Roberto Santos. >
A grande maioria dos casos é formada pelos carcinomas papilíferos, que correspondem a mais de 80% das ocorrências e têm excelente prognóstico, na avaliação do médico. O carcinoma folicular responde por cerca de 10–15% dos casos e também costuma ter bom desfecho. >
Já o carcinoma medular e o anaplásico são menos comuns e mais agressivos, exigindo tratamentos mais intensos e apresentando prognóstico mais reservado.>
“Na maioria esmagadora dos casos — papilífero e folicular — o paciente trata e fica curado; não é uma doença que costuma matar quando bem tratada”, diz Dr. Roberto Santos.>
O diagnóstico do câncer de tireoide evoluiu muito ao longo dos anos, explica Dr Roberto. Tradicionalmente, o problema só era detectado quando um nódulo aparecia no pescoço, visível ou palpável. Nesses casos, o procedimento padrão incluía exame físico, ultrassom e punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para avaliação das células do nódulo.
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Atualmente, muitos nódulos são identificados precocemente graças à rotina de exames solicitados por ginecologistas, clínicos gerais e médicos de família, e à evolução tecnológica dos ultrassons, que permitem detectar formações menores que um centímetro, muitas vezes não palpáveis. >
“A cirurgia, com raras exceções, está indicada em todos os casos”, afirma Dr. Roberto. O que muda é a técnica: pode ser retirada apenas parte da tireoide (lobectomia) ou a glândula inteira (tireoidectomia total), dependendo da localização, tamanho do nódulo e perfil do paciente.>
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Dr. Roberto reforça que, especialmente em estágios iniciais, o nódulo pode ser assintomático e não limitar o desempenho físico. “O nódulo da tireoide muitas vezes não cria nenhum tipo de limitação; é natural que ele tenha atuado até a véspera da cirurgia”, afirma. Além disso, o fato de Everton ser um atleta de alta performance contribui para uma recuperação mais rápida em comparação a um paciente não atleta. >
O retorno às atividades físicas intensas costuma ser orientado a partir de aproximadamente 30 dias após a cirurgia, dependendo do porte do procedimento e de eventuais intercorrências (remoção de linfonodos, esvaziamento cervical, complicações com nervos, etc.). >
“Se foi uma cirurgia maior ou houve necessidade de esvaziamento cervical, o retorno pode demorar mais; se foi uma tireoidectomia parcial, às vezes é mais rápido”, explica o médico.>
Complicações que afetem a voz podem exigir fonoterapia; problemas com as paratireoides (glândulas que regulam o cálcio) podem causar queda do cálcio no sangue e exigir reposição, o que também influencia o tempo de recuperação e o desempenho.>
Após a cirurgia, o acompanhamento é contínuo e multidisciplinar: cirurgião de cabeça e pescoço, endocrinologista e, quando indicado, medicina nuclear. A necessidade de radioiodoterapia (iodoterapia) é avaliada a partir do exame anatomopatológico da peça cirúrgica; nem todos os casos precisam desse tratamento complementar. >
O monitoramento inclui dosagens de tireoglobulina, marcador que ajuda a detectar recidiva. Dr. Roberto lembra que, embora a maioria dos casos fique curada, há relatos de metástases tardias (às vezes 10–15 anos depois), por isso o seguimento a longo prazo é importante.>
Com reposição adequada do hormônio tireoidiano (quando necessário) e controle dos níveis séricos, “o desempenho físico tende a ser mantido”, afirma o cirurgião. O principal risco de impacto físico vem de alterações do cálcio sanguíneo por lesão das paratireoides — sintomas como fadiga muscular, formigamento e câimbras podem prejudicar o rendimento, mas são controláveis com reposição quando identificados. >