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Bruno Wendel
Publicado em 19 de maio de 2025 às 08:00
Pelo menos cinco indígenas já foram assassinados em um ano e seis meses pela facção Anjos da Morte, que atua no Extremo Sul do Estado. A organização criminosa, furto de uma divisão do Bonde do Maluco (BDM), e surgiu na Aldeia Xandó, em Caraíva, localidade do turismo de luxo de Porto Seguro, vem causado temor a comerciantes e indígenas.>
Em março deste ano, o indígena Adilson Oliveira de Souza Júnior, de 26 anos, o “Cocada”, morreu com tiros de fuzil, calibre 556. Embora a informação divulgada na ocasião era de que o integrante da facção tenha morrido num confronto com rivais, outra versão dá conta de que ele foi vítima de um “fogo amigo”. Ele, "Gordura" e mais de 30 homens cercaram quatro casas numa localidade chamada Santa Virgem, dentro da Aldeia Xandó, e abriram fogo. >
“A ideia era promover uma chacina, pois o líder deles recebeu R$ 200 mil de um fazendeiro, que não aceitava a tomada da posse pela família composta de 14 pessoas, entre elas crianças. Um grupo deles ficou numa ponta e o outro do outro lado e começaram a atirar. Foi aí que ‘Cocada’ foi atingido e dois indígenas da família ficaram feridos”, conta uma moradora.>
A fonte conta que inocentes também foram assassinados. “Alguns morrem porque eram envolvidos e queriam sair. O tráfico diz que: ‘entrou, só sai morto’. Mas outros morreram de graça. Foi o caso de Márcio, que, no ano passado, veio visitar a tia e perdeu a vida. Achavam que ele fazia parte de outro grupo. Por isso, indígenas de outras aldeias não podem ir às praias, porque têm medo: Praia do Xandó, aldeia Barra Velha e aldeia do Bugigão. Estiveram (ADM) na Boca da Mata e mataram dois indígenas no mês passado – um numa semana e outro uma semana depois”, relata a mulher, após citar mais um dos casos. A Anjos da Morte tem como rivais o Comando Vermelho (CV) e o Mercado Povo Atitude (MPA). >
Em 16 de novembro de 2023, Messias Braz Correa abria a porta para atender uma pessoa que o chamava quando foi baleado na Aldeia Pará. "Na verdade, queriam matar três. Primeiro pegaram Samuel, o 'Renan' na Aldeia Guaxuma, no Xandó. Depois, fizeram ele mapear a casa dos outros. Mas na Aldeia Pará só chegaram até Messia. Depois mataram também Samuel”, conclui ela.>
Operação >
Na noite do último dia 10, um sábado, uma ação conjunta das polícias estaduais e federal em Caraíva, terminou com a morte de duas pessoas. Além do traficante “Alongado”, a operação tirou a vida do guia de turismo Victor Cerqueira, de 28 anos. Segundo moradores, ele não tinha qualquer envolvimento com o tráfico de drogas. >
A morte de Victor Cerqueira, natural de Itabela, provocou comoção e indignação na localidade. Na segunda-feira (12), amigos, familiares e moradores espalharam cartazes com frases pedindo justiça pela morte do guia turístico. De acordo com eles, Vitinho, como o rapaz era conhecido, foi espancado e torturado antes de ser assassinado por policiais. >
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que uma ação policial envolvendo equipes das polícias federal, civil e militar, que buscavam o traficante conhecido como “Alongado”, resultou na morte dele e de um “segurança” e na prisão de um terceiro integrante do bando. >
No entanto, o Ministério Público do Estado (MPBA) instaurou um Procedimento Investigativo Criminal (PIC), ou seja, uma investigação paralela. Isso significa que o MPBA fará investigações, interrogará testemunhas e envolvidos na ação, solicitará perícias.>
Posicionamentos >
Procurada, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia (SJDH) informou que tem conhecimento da participação de indígenas nas organizações criminosas. “O tráfico de drogas tem impactado diversas comunidades vulneráveis em todo o país. Infelizmente, as comunidades indígenas não estão imunes a essa realidade. Nesse caso, a denúncia está sob investigação. Contudo, é fundamental que eventuais casos de tráfico de drogas em comunidades indígenas não podem justificar generalizações que criminalizem as comunidades”, diz a nota enviada ao CORREIO. >
A SJDH informou que o “estado, por sua vez, deve continuar investindo em políticas públicas para garantir os direitos dos povos indígenas em seus territórios, na educação, saúde, cultura e, principalmente, nas questões relacionadas à demarcação de terras”. “Desde terça-feira (13), a SJDH, em parceria com diversos órgãos estaduais, federais e municipais, está atuando no território, através da Caravana de Direitos Humanos, com ações de promoção do acesso à justiça e voltadas à garantia de direitos”. >
A reportagem procurou também a Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas até o momento não há respostas. >