Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maria Raquel Brito
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 06:00
A Bahia tem 193.761 processos parados no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O número faz com que o estado tenha a quarta maior fila de pessoas que aguardam a conclusão de seus requerimentos no Brasil. A espera dos resultados é um problema na vida de muitos baianos, e tem aumentado progressivamente nos últimos meses. >
De junho a agosto, dados mais recentes do INSS, cresceu a quantidade de pessoas na fila – ou seja, que estão no aguardo da análise previdenciária. O aumento foi de encontro com a queda registrada entre abril e junho (de 202.860 para 178.927 pessoas), mas reforçou a subida dos três primeiros meses do ano (de 188.132 para 205.697).>
Verônica Coelho, de 64 anos, está entre os que aguardam uma resposta. Portadora de câncer nos ossos e na fila para receber o benefício assistencial BPC-LOAS há seis anos, ela relata que o processo tem sido longo e cansativo. “O maior desafio foi não ter pago meu INSS como deveria, pois só trabalhei duas vezes de carteira assinada. Agora não consigo me aposentar por invalidez”, conta.>
Entre as categorias, se destaca o número de pessoas na fila para receber benefício por incapacidade: 96.794, dos quais 39.747 haviam solicitado em até 45 dias e 57.047 há mais de 45 dias. O prazo máximo para análises de benefícios pelo INSS é, por lei, de 60 dias. O tempo previsto pela legislação para as perícias, por sua vez, é de 45 dias.>
Com 958.946 solicitantes no aguardo, o Nordeste é a região com a maior fila de espera dos benefícios. A Bahia, com mais de 190 mil processos em análise ou parados, corresponde a 20.2% do índice da região, atrás apenas do Ceará. >
Segundo Valdemir Medeiros, secretário de Administração e Finanças do Sindicato dos Servidores Federais da Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Sindprev), o motivo da fila extensa é a falta de servidores.>
“A dificuldade é o número de peritos. É uma quantidade muito grande de pessoas solicitando. Tem gente que hoje está esperando o benefício e sai de Salvador para fazer perícia em Santo Amaro, por exemplo, e vem gente de Santo Amaro fazer em Salvador. Outro dia veio uma pessoa de Ribeira do Pombal fazer perícia em Salvador, porque o sorteio não é feito aqui”, diz.>
O movimento crescente segue a tendência da fila nacional. Em todo o Brasil, 2,6 milhões de pessoas esperam o benefício, de acordo com os dados mais recentes do INSS. Desde dezembro de 2024, a fila vem aumentando mês a mês. >
Esse comportamento tem preocupado especialistas que trabalham com previdência social. O advogado Rodrigo Maciel, especialista em demandas contra o INSS e em planejamento previdenciário, pontua alguns dos fatores que causaram o atraso nas análises nos últimos meses.>
“A greve dos peritos, que impactou diretamente nas análises médicas de requerimentos de benefícios por incapacidade; necessidade de biometria na análise de benefícios assistenciais como o LOAS, o que causa mais lentidão no processo; quadro de pessoal reduzido; e a suspensão do Programa de Gerenciamento de Benefícios (PGB) em outubro”, diz.>
Outro fator que pode ter influenciado o aumento é o desvio de aposentadorias que veio à público em maio deste ano e atualmente é discutido em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI). “Acredito que [influenciou], em face do impacto negativo institucional e na promoção de ambiente interno não propício ao desenvolvimento de ações que possam sanar com brevidade o problema da fila, inclusive, recente agravado com a prisão do ex-presidente do INSS, Sr. Alessandro Stefanutto”, afirma o advogado.>
O PGB, principal iniciativa do governo federal para reduzir a fila de análise de aposentadorias, pensões e auxílios, foi paralisado por falta de verba orçamentária. O programa foi retomado no início de novembro, após o Ministério da Previdência Social liberar R$7 milhões para o pagamento dos bônus de produtividade referentes a setembro.>
Com mais de 2,5 milhões de solicitações, INSS suspende programa de redução de fila por falta de verba
A suspensão interrompeu o principal esforço para conter a fila, que é 48% maior do que há um ano e uma das maiores da série histórica. “O impacto da suspensão foi imediato. Cada dia sem o programa significa milhares de processos parados e pessoas esperando por um benefício que muitas vezes é a única fonte de renda. É um problema que vai além da burocracia: é uma questão de dignidade”, afirma o advogado especializado em direito previdenciário Eddie Parish.>
Com o bloqueio orçamentário, o INSS havia solicitado um reforço de R$450 milhões e o desbloqueio de R$142 milhões para não comprometer o funcionamento das agências, da Central de Atendimento do INSS e da folha de pagamento de benefícios. Após articulação do Ministério da Previdência, foram liberados R$217 milhões para manter os serviços essenciais.>
A expectativa do governo é normalizar o orçamento ainda neste ano e garantir que o programa siga ativo até o fim de 2026, evitando novo acúmulo de processos. Entretanto, o cenário fiscal segue desafiador: o governo precisa alcançar um superávit primário de R$34,3 bilhões em 2026, o que pode restringir novas liberações de recursos, de acordo com o advogado.>
Zerar a fila do INSS foi uma das promessas de campanha do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, a fila mais que dobrou: no início de 2023, havia 1,23 milhão de pedidos. >
Ainda em 2023, o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, chegou a se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir as condições para viabilizar este plano e pedir verbas para concretizá-lo. >
Lupi reconheceu as dificuldades de realizar a promessa, citando entre os obstáculos a falta de médicos peritos para verificar de perto cada situação. Ainda assim, ele reafirmou que pretendia acabar com a fila do INSS até o fim de 2023, prometendo ainda que os solicitantes terão a resposta dos requerimentos em até 45 dias. Hoje, 53.7% dos solicitantes esperam por mais de 45 dias.>