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Gilberto Barbosa
Luiza Gonçalves
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 05:00
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu, na última segunda-feira (4), sete fuzis e 12 carregadores que tinham como destino a cidade de Porto Seguro, no extremo-sul baiano. As apreensões ocorreram na BR-116, na altura de Teresópolis, no Rio de Janeiro. De acordo com a PRF, as armas seriam entregues a uma facção criminosa fluminense, com atuação na Bahia. >
Dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam que 37 fuzis foram apreendidos na Bahia no primeiro semestre de 2025. O número é maior do registrado no mesmo período de 2024, com 30 apreensões, e 2023, com 22. >
Ainda segundo o Sinesp, 202 armas desse tipo foram interceptadas pelas forças de segurança desde 2023, quando houve a captura de 66 exemplares. Já em 2024, 99 fuzis foram confiscados, um aumento de 50% em relação ao ano anterior. >
Pesquisador e membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa alerta para os perigos do aumento da circulação de armas no Brasil. Ele explica que o afrouxamento de medidas que controlam o acesso a equipamentos como as pistolas 9mm, mudou o perfil do tipo de armamento que transita pelo país. >
“São justamente essas armas, de maior potencial ofensivo, que despertam o interesse das organizações criminosas, contribuindo diretamente para a escalada da violência armada em territórios urbanos e rurais. A maior disponibilidade de armamento legal nutre o mercado ilegal e potencializa a capacidade operacional desses grupos, que podem conseguir em território nacional armas que anteriormente só eram acessíveis através do tráfico internacional”, afirma. >
O advogado e fundador do Ideas Assessoria Popular Wagner Moreira aponta para o contexto relacionado ao trânsito de armas de maior calibre no extremo-sul. Ele lembra da chegada de tropas da Força Nacional de Segurança para atuar na proteção de territórios indígenas na região, no último mês de maio e de operações voltadas para a limitação dos conflitos por terras e a desestruturação de organizações criminosas na região.>
“Também é importante falarmos de uma série de praias turísticas que estão sendo tomadas por facções por serem ponto de grande consumo de drogas. Quando colocamos o contexto de Porto Seguro, onde há um turismo de larga escala, e que consome um número alto de drogas lícitas e ilícitas, temos aí uma série de facções que estão tentando se organizar para responder a essa demanda”, fala. >
Entre as organizações criminosas que atuam na região estão o Primeiro Comando de Eunápolis (PCE) e a Anjos da Morte (ADM), com origem em Caraíva. Por conta da localização, esses grupos estão sendo procurados por facções com atuação nacional, como o Comando Vermelho (CV), passando a integrar as rotas de fornecimento de drogas e armas. >
“Essas organizações têm percebido uma fragilidade na fiscalização de territórios indígenas para usá-los como esconderijo e rota de deslocamento de produtos ilícitos. Elas percebem essas especificidades do território para ampliar a sua capacidade de atuação. Essa disputa interna do crime, com maior acesso a armas de grosso calibre, se reflete no fato da Bahia ter diversos municípios entre os mais violentos do país”, completa Wagner.>
Atualmente, mais de 2 milhões de armas estão com o registro ativo no Brasil, de acordo com o Anuário da Segurança Pública. Para Roberto, além das dificuldades logísticas no controle de um arsenal desse tamanho, a fiscalização é dificultada pela “migração” do arsenal legal para o mercado, seja através de roubos, perdas ou pelo repasse deliberado ao crime.>
“Este fenômeno é um dos principais vetores de armamento das facções. Essa escalada bélica retroalimenta a violência. Há uma correlação direta entre o poder de fogo dos grupos criminosos e os índices de mortes violentas intencionais, especialmente nas cidades que figuram entre as mais violentas do país, onde a disputa por mercados e rotas de tráfico se manifesta de forma mais aguda e letal”, diz. >
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que o aumento de apreensões de armas de fogo resultou nas reduções de 6% (2023) e de 8,2% (2024) das mortes violentas no estado. Entre as ações citadas pelo órgão para ampliar o combate ao crime organizado estão a contratação de 6 mil novos profissionais e o investimento em novos equipamentos. >
Ainda segundo a SSP, os índices de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte registraram uma queda de 7,3% no primeiro semestre deste ano. Além disso, 3.711 armas de fogo foram apreendidas pelas forças estaduais e federais entre janeiro e junho.>
Leia abaixo a nota da SSP:>
A Secretaria da Segurança Pública ressalta que o aumento do número de apreensões de armas de fogo resultou nas reduções de 6% (2023) e de 8,2% (2024) das mortes violentas na Bahia. No primeiro semestre de 2025, a queda nos registros de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte foi de 7,3%. >
Destaca ainda que a contratação de 6 mil novos profissionais da Segurança Pública e os investimentos em novos equipamentos garantiram a ampliação das ações de combate ao crime organizado. >
Em 2025, as Forças Estaduais e Federais apreenderam 3.711 armas de fogo no primeiro semestre, uma média de 20 armamentos por dia. Em uma ação inédita, pouco mais de 1.200 armas foras destruídas pela Polícia Civil. >
Reitera, por fim, o compromisso dos investimentos contínuos nas Forças Policiais, ampliando as ações entre as Forças Estaduais e Federais, fechando o cerco contra o crime organizado. >